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Resenha: O Potencial Erótico de Minha Mulher, de David Foenkinos

David Foenkinos 15 de janeiro de 2018 Aline T.K.M. 2 comentários

Resenha do livro O Potencial Erótico de Minha Mulher, de David Foenkinos

Que delícia é pegar um livro do David Foenkinos! Ele está entre os escritores franceses contemporâneos que mais admiro e não é para menos: suas narrativas têm aquele humor deliciosamente irônico, personagens desajustados, e conversam com o leitor como se este fosse um velho conhecido.

Carregando um título um tanto intrigante, O Potencial Erótico de Minha Mulher conta a história de Hector Balanchine, um colecionador com “C” maiúsculo desde a mais tenra idade. Desde os itens mais comuns até os mais inúteis, como folhetos eleitorais, Hector já chegou a colecionar suas próprias coleções. Ao longo dos anos, vamos percebendo que aquele “C” maiúsculo não diz respeito apenas às coleções, mas também à compulsão que as acompanha.

Últimos recebidos em 2016 – parte 2

Aleph 17 de fevereiro de 2017 Aline T.K.M. Nenhum comentário

Caixa do correio: últimos livros recebidos em 2016

Hey, tá no ar a segunda parte dos meus últimos recebidos em 2016! Se você não viu a primeira parte, corre lá para conferir!

Entre presentes, Harry Potter e comprinhas, teve também amigo secreto do teatro, livros em francês e cortesia do Skoob. É, terminei (e comecei!) o ano de estante lotada – ainda bem! Dá só uma olhada aqui no vídeo...

De víbora na mão [Hervé Bazin]

À la française 23 de setembro de 2014 Aline T.K.M. 2 comentários


Um dos mais célebres romances infantojuvenis da literatura francesa, De víbora na mão é ainda hoje referência quando se fala em infância penosa. A mãe perversa, o pai submisso e negligente, as crianças martirizadas e a troca constante de preceptores compõem o quadro do fracasso doméstico da família Rezeau.


‘Cyrano de Bergerac’: de Edmond Rostand, clássico do teatro francês traz triângulo amoroso e protagonista feio

Clássicos 4 de junho de 2014 Aline T.K.M. 2 comentários

Cyrano de Bergerac

Escrito e montado pela primeira vez em 1897, este clássico do teatro francês foi baseado na vida do escritor Hector Savinien de Cyrano de Bergerac. Até os dias atuais a peça continua a ser encenada no mundo todo.

Paixão proibida, cartas e declarações de amor, guerra, triângulo amoroso. Todos esses elementos estão presentes na peça, cuja ação se passa em pleno século XVII – dois séculos antes de sua concepção. O diferencial fica por conta do protagonista: grande em feiura, Cyrano é maior ainda em generosidade, coragem (e petulância) e romantismo. E ainda é poeta. Seu invólucro horrendo – o imenso nariz é a marca do personagem – o impede de confessar seu amor pela bela Roxane, sua prima.

Ao tomar conhecimento de que o jovem Christian – bonito, porém sem habilidade com as palavras – também ama Roxane, Cyrano propõe unir-se a ele na conquista da mulher amada. Christian com a beleza; Cyrano com as belas palavras de amor.

A união tem êxito, Roxane acaba se apaixonando por Christian, tanto por sua beleza como também por seus cortejos e declarações de amor – que ela ignora pertencerem a Cyrano. Mas a guerra (dos Trinta Anos, entre França e Espanha) irá interferir no triângulo amoroso e trará consequências.

Escrita em rima e composta por cinco atos, a peça traz, além da história de amor, um tema bastante em alta nos dias atuais (poderíamos considerá-lo até mesmo atemporal), que é o conceito do belo e a influência da aparência na autoestima de uma pessoa.

Cyrano é feio, ponto. E apesar de sua grandeza de caráter, ele permite que sua falta de beleza interfira em seus atos. Ele não suporta estar diante da própria imagem no espelho e, se é corajoso no que se refere a batalhas e provocações (Cyrano é o símbolo do panache), nem sequer considera a possibilidade de declarar seu amor, pois a certeza da rejeição o assombra.

Às vezes um pouquinho maçante (por conta das rimas), a leitura se arrasta no início. Lá pela metade do livro, quando realmente as coisas começam a acontecer – a união de Cyrano e Christian, a guerra –, a trama envolve e ganha interesse genuíno.

O que mais marca, entretanto, são os personagens. Cada um deles é único e dotado da força e personalidade que apreciaríamos ver em toda trama que nos cai nas mãos. Apesar da previsibilidade da tragédia, o desfecho não deixa de surpreender e de fazer com que fechemos o livro admirando ainda mais o protagonista – e desejando, no íntimo, escrever uma nova trajetória para ele.

Clássico dos clássicos, e nem um pouco démodé. Seu brilho e essência continuam atuais e não é à toa que ainda é encenado com frequência mundo afora.

LI EM FRANCÊS



Leitura difícil devido ao conjunto rimas + vocabulário antigo.
Indicado para os falantes mais avançados (e com um dicionário sempre à mão).

Edição lida: Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, Pocket Classiques.
Onde comprar em francês: Amazon

LEIA PORQUE

Clássico francês com mensagem que continua bastante atual. Dica: assistam também à adaptação homônima de 1990, dirigida por Jean-Paul Rappeneau e com Gérard Depardieu – magistral – no papel de Cyrano. Legal para quem curte filme de época.


DA EXPERIÊNCIA

A leitura demorou um tiquinho para começar a fluir, mas a trama é envolvente e, uma vez que a coisa engatou, não consegui sossegar até terminar o livro.

FEZ PENSAR EM

Outras peças que li sem esperar grande coisa e que acabaram por me surpreender, como Escola de Mulheres (de Molière) e A Importância de ser Prudente (de Oscar Wilde).



Cyrano de Bergerac
EDIÇÃO JOSÉ OLYMPIO
Onde comprar: Amazon

Título/Título original: Cyrano de Bergerac
Autor(a): Edmond Rostand
Tradução: Ferreira Gullar
Editora: José Olympio (Record)
Edição: 2011
Ano da obra: 1897
Páginas: 264
Cyrano de Bergerac
EDIÇÃO MARTIN CLARET
Onde comprar: Amazon

Título/Título original: Cyrano de Bergerac
Autor(a): Edmond Rostand
Tradução: Regina C. de Oliveira
Editora: Martin Claret
Edição: 2009
Ano da obra: 1897
Páginas: 272

Todas as manhãs do mundo [Pascal Quignard]

À la française 2 de maio de 2014 Aline T.K.M. 4 comentários

Retratando – de maneira romanceada – duas figuras históricas da música clássica, Sainte Colombe e Marin Marais, Todas as manhãs do mundo aborda a delicada relação entre mestre e discípulo.

Século 17. O ano é 1650: época de Luís XIV, das perucas elaboradas e do excesso de pompa. O senhor de Sainte Colombe, viúvo e exímio tocador de viola da gamba (nome italiano que significa “viola de perna”), leva uma vida austera no campo ao lado das duas filhas. De poucas palavras, tem dificuldade em expressar seus sentimentos e frequentemente é tomado por crises explosivas de cólera. Para ele, a música “de verdade” só é possível se tiver como base a dor e o sofrimento; desta maneira, abomina a música feita para o entretenimento do rei, bem como os próprios músicos da corte.

O jovem Marin Marais é o extremo oposto disso. Ligado à Corte, alguns reveses fazem com que o jovem e talentoso músico busque Sainte Colombe e lhe peça que o aceite como discípulo. O reconhecimento que têm os músicos do rei lhe agrada, fazendo com que não seja bem recebido logo de sua primeira visita àquele que viria a se tornar seu mestre.

Realidade e ficção se misturam em um romance que tem na música um importante pano de fundo para a relação entre os dois músicos, o verdadeiro centro de toda a trama. O reduzido número de páginas revela uma história pautada no sofrimento e nas variadas dimensões do amor. Longe da superficialidade, os personagens são densos e carregam dores complexas, cada qual a sua maneira.

Ainda que coadjuvantes, as filhas de Sainte Colombe exercem papel importante ao longo da trama. Inclusive, envolvendo o jovem Marin Marais – que também na vida real foi discípulo de Sainte Colombe. Uma das personagens mais interessantes, Madeleine (a filha mais velha) nos mostra como podem ser devastadoras as consequências de um amor intenso acompanhado da desilusão.

A fluidez da narrativa – preocupada em situar o leitor, mas sem ser excessivamente descritiva – faz com que nos concentremos, sobretudo, nos sentimentos dos personagens. Sentimentos que também são experimentados pelo leitor: impossível não compartilhar da emoção, e também da frustração, que caracterizam os “encontros” de Sainte Colombe com a esposa falecida.

Todas as manhãs do mundo fala de maturidade e de solidão, de arrependimento e também de amor. E mostra a dor como a grande força motriz de tudo.

LI EM FRANCÊS


Li para o curso de francês e foi uma leitura relativamente simples. Recomendo para quem já tem algum domínio do idioma – certas nuances sentimentais da trama podem passar despercebidas caso a leitura não se faça de forma fluida.

Edição lida: Tous les matins du monde, de Pascal Quignard, Gallimard (Collection Folio nº 2533), 1993.
Onde comprar em francês: Livraria Cultura


LEIA PORQUE...
Traz personagens reais, embora a trama seja romanceada. Além disso, é interessante ver como a música – com todo o seu aspecto intangível – nos é mostrada ao longo das páginas, ganhando cor e forma impensáveis.

DA EXPERIÊNCIA...
Ainda que não seja um livro de interesse universal, vale a pena pela beleza e sensibilidade da trama.

Em tempo: recomendo que assistam à adaptação, que leva o mesmo nome do livro e tem direção de Alain Corneau. Depardieu pai e filho interpretam Marin Marais em diferentes momentos da vida.

FEZ PENSAR EM...
Como discutido na aula de francês, é possível traçar um paralelo bastante interessante entre alguns momentos da trama e o mito de Orfeu e Eurídice – prestem atenção em Sainte Colombe e seus pequenos rituais em busca da esposa.

Título: Todas as manhãs do mundo
Título original: Tous les matins du monde
Autor(a): Pascal Quignard
Tradução: Pedro Tamen
Editora: Rocco
Edição: 1993
Ano da obra: 1991
Páginas: 94
Onde comprar: Estante Virtual

Resenha: Azul é a cor mais quente, de Julie Maroh

Francês 14 de abril de 2014 Aline T.K.M. 17 comentários

Resenha da HQ Azul é a cor mais quente, de Julie Maroh

Graphic novel que deu origem ao – lindo – filme dirigido por Abdellatif Kechiche, Azul é a cor mais quente fala sobre o relacionamento amoroso entre duas garotas, Clémentine e Emma.

Garota comum, ainda estudante do liceu, Clém se descobre atraída por garotas. Tudo passa, então, a girar em torno do encantamento provocado pelo surgimento de Emma em sua vida. O medo e a reprovação que partem de si mesma a assombram; são, claramente, reflexos da visão limitada e conservadora dos pais, dos amigos (principalmente das amigas), enfim, da própria sociedade.

Sua história com Emma se transforma em um turbilhão de amor, desejo e conflitos – um dos quais atende por Sabine, a então companheira de Emma, além da não aceitação dos pais de Clémentine.

Chez le Libraire : Gatsby le Magnifique, de F. Scott Fitzgerald

À la française 19 de março de 2014 Aline T.K.M. 2 comentários


Faz um tempão que não trago dicas de leitura em francês! Para quebrar o jejum, nada melhor que um clássico do século XX; um livro cuja leitura me foi inspiradora e que recomendo assim, sem pensar duas vezes, a todo ser humano que se sinta minimamente atraído pelas palavras.

O Grande Gatsby, claro. Aliás, já postei review dele aqui no blog.

Só que o lance agora é encará-lo em francês: Gatsby le Magnifique. Título charmoso, já gostei. E, escrevendo aqui o post, até bateu vontade de comprar uma edição francesa – em e-book sai muito em conta, ridículo de barato.

GATSBY LE MAGNIFIQUE, de F. Scott Fitzgerald, Gallimard (Collection Folio nº 5338).
Onde comprar: Livraria Cultura | Livraria Cultura (e-book)
RÉSUMÉ : L'Amérique des années 20 : c'est l'époque de la prohibition et des fortunes rapides. Jay Gatz surnommé Gatsby est fabuleusement riche. Les rumeurs les plus folles circulent à son sujet. Qu'importe, dans sa somptueuse propriété à Long Islang, Gatsby le Magnifique organise des réceptions durant lesquelles les gens chics et moins chics dansent et boivent jusqu'à plus soif.

Mais qui est ce Gatsby ? D'où vient-il ? D'où tient-il sa fortune ? Pourquoi tient-il tant à séduire la belle Daisy mariée à un millionnaire, Tom Buchanan ? Un homme, un seul, Nick Carraway le cousin de Daisy, connaît la véritable histoire de Gatsby le Magnifique.

Avec ce texte devenu un classique, Fitzgerald, sur un air de jazz et une coupe de champagne à la main, met à nu le Rêve américain et écrit l’un des plus beaux romans du XXe siècle.

O Gato do Rabino – vol. 3: O Êxodo [Joann Sfar]

À la française 17 de março de 2014 Aline T.K.M. 4 comentários


Em O Êxodo, terceiro volume da série em HQ O Gato do Rabino, assistimos ao casamento da jovem Zlabya e acompanhamos o casal em sua lua de mel em Paris. O velho rabino, pai da moça, também os acompanha, além do gato falante (que ainda não recuperou o poder da fala).

Repleta de contratempos, a estada em Paris não poderia ser mais divertida. Pelo menos para nós, leitores. Já os personagens vivem consideráveis momentos de dúvida e até angústia, a começar pelo velho rabino, que se recusa a ficar hospedado na casa dos pais do genro. Só que, ao mesmo tempo, é complicado para o rabino dirigir-se a um hotel e jantar em um restaurante em pleno Shabat judaico – sábado, dia de descanso judaico em que várias atividades são proibidas de ser realizadas ao longo de todo o período. Transgredir as regras acaba sendo a única opção do velho.

Zlabya não pode se impedir de comparar-se às francesas, e isso a deixa angustiada. Já o gato, bom, este arranja um companheiro com quem conversar: um cachorro bem simpático, que não cessa de abanar o rabinho – o que deixa o felino um tanto intrigado.

O Êxodo é, até o momento, o mais cômico de todos os volumes da série. Desde a estupefação do velho rabino com Paris, cujos habitantes, coitados, nem ao menos se encontram próximos ao mar; até as aventuras e conversas do gato e do cachorro – dupla infalível.

Ainda, vale a pena atentar para as reflexões do rabino quanto aos judeus com os quais ele se depara em Paris, que parecem diferentes do que ele está acostumado. Reflexões que o acompanham e se tornam ainda mais importantes ao agir de maneira contrária às regras do Shabat, fazendo com que questione alguns conceitos da religião.

Humor, profundidade e ironia são entregues ao leitor na forma de um texto cheio de significado – sem jamais abandonar a simplicidade – e através de desenhos cujos traços exibem beleza e mesmo sensualidade.

Terminar o volume já ansiando pelo próximo é destino certeiro dos leitores.

LI EM FRANCÊS


Da mesma forma que o primeiro e segundo volumes da série, este também traz leitura simples. Indico sem medo para os intermediários/avançados, que leem bem sem precisar recorrer ao dicionário o tempo todo.

Edição lida: Le Chat du Rabbin – 3. L’Exode, de Joann Sfar, Dargaud (collection Poisson Pilote), 2003.
Comprar em francês: Livraria Cultura
LEIA PORQUE...
A série continua genial, as ilustrações são belíssimas e os personagens são engraçados e, ao mesmo tempo, se dedicam seriamente à reflexão. Além de que foi bem divertido ver os personagens em Paris.

DA EXPERIÊNCIA...
Foi o melhor volume da série até agora! Fiquei com a empolgação renovada para ler os próximos. O único “porém” é que para continuar lendo a série devo esperar que a biblioteca adquira os próximos volumes, ou então comprá-los importados eu mesma. No Brasil, até onde sei, a série parou de ser editada no terceiro volume.

FEZ PENSAR EM...
Paris nas histórias. É incrível como, mesmo sendo cenário batido em muitas tramas, sempre são reveladas facetas diferentes da capital francesa.



Título: O Gato do Rabino – vol. 3: O Êxodo
Título original: Le Chat du Rabbin – 3. L’Exode
Autor(a): Joann Sfar, (colorido por) Brigitte Findakly
Tradução: André Telles
Editora: Zahar
Edição: 2006
Ano da obra: 2003
Páginas: 48

Persépolis [Marjane Satrapi]

Companhia das Letras 18 de dezembro de 2013 Aline T.K.M. 17 comentários

Baseado na história real da própria Marjane Satrapi, Persépolis supera de longe muito romance de formação por aí.

A autobiografia em HQ começa com uma Marjane de dez anos de idade nascida em Teerã e que sonha com tornar-se profeta. A Revolução Islâmica de 1979, com a queda do regime monárquico do xá Reza Pahlevi (que apoiava o Ocidente e reprimia ferozmente os opositores ao regime, além de ser contra alguns princípios tradicionais islâmicos) e o surgimento de uma república islâmica sob o poder do aiatolá Ruhollah Khomeini (que era contra os EUA e Israel), faz com que Marjane se veja obrigada a usar o véu e estudar em uma sala só de garotas.

Universidades são temporariamente fechadas; para continuar a ouvir suas bandas ocidentais preferidas, a garota tem de comprar suas fitas no mercado negro. Ter na parede um poster de uma banda de rock ocidental só foi possível porque seus pais o trouxeram escondido de uma viagem ao exterior – a mãe escondeu o poster costurado dentro do forro do sobretudo de seu pai.

Mais que simples pano de fundo, os eventos históricos determinam os rumos da vida da protagonista, seu crescimento e a formação de sua identidade. Ao abordar a Revolução Islâmica e, mais adiante, a guerra Irã-Israel, o livro revela o drama do período pelos olhos de uma jovem em ebulição, vivendo sua própria revolução pessoal. A ironia e um humor não óbvio – ainda assim evidente – também são ingredientes amplamente utilizados ao longo das mais de trezentas páginas.

Os desenhos de traços simples, sem cores, e o texto perspicaz mostram uma garota que conhece a guerra ainda criança (tendo perdido amigos e familiares), e que por causa dela é mandada por seus pais à Áustria, aos catorze anos, para continuar seus estudos longe do ambiente repressivo de seu país.

De adolescente punk à namorada de um cara que depois se revela homossexual, Marjane passa por diversas transformações, que incluem um surto de crescimento, quadris mais largos e uma pinta no rosto. Foi a “criança nova da classe”, foi simpatizante do anarquismo, foi inquilina de uma mulher chata com cara de cavalo...

Além das descobertas e dificuldades, também marca presença um recorrente sentimento de solidão. O início da adolescência na Áustria, o retorno ao Irã e, posteriormente, a ida à França; a juventude da protagonista é pontuada por certo ”choque” entre as culturas oriental e ocidental. Esse estranhamento experimentado pela garota caminha em paralelo ao estranhamento do próprio leitor ao se deparar com as restrições e a repressão iranianas, numa (inevitável) comparação com o estilo de vida ocidental. O mais interessante é ver Marjane crescer e desenvolver uma visão própria de mundo, que se pode considerar privilegiada graças à educação menos ortodoxa que recebeu de sua família, por sua vez politizada e mais liberal.

Persépolis traz muito de História, tradições e cultura. Com trama e personagens sagazes, apresenta uma narradora-protagonista naturalmente hilária, questionadora e direta. Marjane conversa com o leitor – a personagem desenhada muitas vezes olha nos olhos de quem a lê –, envolvendo-o nos acontecimentos e deixando que faça parte de sua história pessoal.

Se fosse definir Persépolis em uma única frase, seria esta: é uma das coisas mais originais que já li.

LI EM FRANCÊS


Leitura simples, mas recomendaria somente a partir de um nível mais autônomo para não perder a fluidez e o humor das falas.

Edição lida: Persepolis, de Marjane Satrapi, Éditions L’Association, collection Ciboulette, 2007.

LEIA PORQUE...
A resenha é autoexplicativa neste ponto, mas, caso necessário, disponho-me a ser redundante: o livro é muito bom, coisa que não é deste mundo. Só na França, vendeu mais de 400 mil exemplares.

Um pequeno parêntese: A jornada de Marjane, do final da infância à idade adulta, é dividida em quatro volumes que podem ser adquiridos separadamente ou em um único volume completo – o que, em minha opinião, é mais vantajoso. E aproveito para lembrar que tem adaptação para o cinema (assisti na época do lançamento, há uns anos), tão imperdível quanto a HQ.

DA EXPERIÊNCIA...
Conheço pouco e nunca fui muito ligada a quadrinhos; meu contato com o gênero é recente e se resume às opções em francês disponíveis na biblioteca da Aliança Francesa. No entanto, a experiência marcante de ler Persépolis me fez lembrar uma HQ que li, em português, há uns bons anos e que considero uma leitura categoricamente obrigatória: Maus, do Art Spiegelman, que aborda o Holocausto.

FEZ PENSAR EM...
Uma garrafa no mar de Gaza – por também mostrar o choque entre culturas em meio a conflitos no Oriente Médio.

Título: Persépolis (Completo)
Título original: Persepolis
Autor(a): Marjane Satrapi
Tradução: Paulo Werneck
Editora: Companhia das Letras
Edição: 2007
Ano da obra: 2000-2003 (4 volumes)
Páginas: 352


O Gato do Rabino – vol. 2: O Malka dos Leões [Joann Sfar]

À la française 6 de dezembro de 2013 Aline T.K.M. 4 comentários

Na continuação do primeiro volume, tudo começa com uma carta vinda de Paris, diante da qual o rabino se vê ameaçado pela possibilidade de ser substituído e não mais ser o rabino da região. Ele precisa provar seus conhecimentos em língua francesa em um exame ditado que o deixa uma pilha de nervos. O gato falante tratará de ajudá-lo como pode, mas acaba pronunciando o nome de Deus em vão e aí... ele perde o poder da fala!

A um só tempo, acompanhamos a chegada de um jovem rabino de visita a um familiar moribundo, e a vinda do Malka dos Leões – primo do velho rabino e a grande atração do livro –, que causa alvoroço principalmente entre as amigas da jovem Zlabya. Temido e respeitado devido a histórias com ares lendários de que seria capaz de proteger mocinhas indefesas de um leão feroz – ele de fato tem um leão de estimação, nada feroz –, o Malka é dono de inegável carisma e ganha nossa simpatia desde sua primeira aparição.

O caráter espirituoso e a tensão permanente marcam o volume dois da série em HQ O Gato do Rabino. Ao passo em que acompanha certo amadurecimento psicológico do gato, o leitor quebra a cara ao se deparar com a perda da fala do astuto personagem. Entre apreensões e mal-entendidos, a resolução de um dos problemas não vem de graça; radiante, Zlabya – a quem o gato secretamente continuava a dirigir a palavra antes de perdê-la, apesar da proibição do rabino – revela ao bichano uma notícia que o deixa de pelos eriçados...

Sem poder falar e diante da tragédia iminente de perder a amada dona para um novo rival, o desfecho traz um gato que é, todo ele, olhos arregalados. Embora não surpreenda tanto quanto o primeiro livro, O Malka dos Leões mantém em pé o interesse do leitor e traz um excelente gancho para o terceiro volume da série, intitulado O Êxodo.

LI EM FRANCÊS


Bem simples de ler, dispensa o uso do dicionário para os que têm certa autonomia no idioma. Recomendado para níveis a partir do intermediário. Aos fluentes: se joguem que essa série vale a pena!

Edição lida: Le Chat du Rabbin – 2. Le Malka des Lions, de Joann Sfar, Dargaud (collection Poisson Pilote), 2002.

LEIA PORQUE...
Tal como no primeiro volume, a trama continua inteligente, e as falas, sagazes; os personagens conquistam o leitor mais uma vez. Apesar de ter perdido o poder de falar com os humanos, o gato ainda pode se comunicar com os animais, o que tornam engraçadas as interações entre ele e o leão do Malka.

DA EXPERIÊNCIA...
Ligeiro, rápido e gostoso de ler. As ilustrações presenteiam os olhos e, estas sim, continuam surpreendendo.

FEZ PENSAR EM...
Como Félix, Garfield, Frajola e outros felinos das animações, o gato (do rabino) é dotado de personalidade marcante e tem tudo para estar no mesmo patamar de seus colegas famosinhos.


Título: O Gato do Rabino – vol. 2: O Malka dos Leões
Título original: Le Chat du Rabbin – 2. Le Malka des Lions
Autor(a): Joann Sfar, (colorido por) Brigitte Findakly
Tradução: André Telles
Editora: Zahar
Edição: 2006
Ano da obra: 2002
Páginas: 48


O Gato do Rabino – vol. 1: O Bar-Mitzvah [Joann Sfar]

À la française 28 de outubro de 2013 Aline T.K.M. 5 comentários


Antes de qualquer conversa, falo aqui de uma fábula em HQ cujo protagonista é um gato que desatou a falar após ter engolido um papagaio. E, detalhe, ele não é um gato qualquer: o felino em questão é o bicho de estimação de um rabino que vive na Argélia no início do século 20, em uma comunidade de judeus sefarditas*.

Deu para notar que o coloridinho aqui é digno de atenção, não?

Só que, sendo seu proprietário um rabino, não seria ele um gato judeu? Uma vez que o bichano adquire o poder da palavra, ele se questiona se não deveria aprender o que diz a Torá e ter seu Bar-Mitzvah, que é a cerimônia de passagem à vida adulta que os garotos judeus fazem aos treze anos.

Como nunca houve outro gato a ter um Bar-Mitzvah, o rabino decide consultar um outro rabino para saber o que fazer, mas este se opõe à ideia. Então se inicia uma ardilosa e bem-humorada discussão na qual o gato argumenta que, como animal falante, deve ser regido pelas mesmas leis divinas que os homens.

Além disso, o felino está apaixonado por Zlabya, filha de seu dono, mas desde que adquiriu a fala não tem permissão para passar seus dias junto dela, como fazia antes de se tornar um gato falante. É que o rabino teme que o animal, agora que se põe a verbalizar, possa conduzir sua filha a caminhos nada virtuosos.

O francês de origem judaica Joann Sfar coloca falas poéticas e astutas na boca do gato, que de maneira um tanto filosófica discute o judaísmo e contesta muitos de seus preceitos. Com ilustrações dotadas de personalidade, texto inteligente e com humor irônico, e sem jamais menosprezar a cultura judaica (aliás, é bem o contrário), o gato e seu dono, o rabino, têm seus laços lindamente fortalecidos a partir dessas conversas e questionamentos.

Com a troca de ideias e esclarecimentos, e uma observação mais apurada, o gato acaba por perceber o erro de julgar alguém antecipadamente, e começa a entender o exercício da tolerância.


*Judeus sefarditas: judeus descendentes das comunidades judaicas da Península Ibérica estabelecidas no período medieval, e depois dispersas por várias regiões.

LI EM FRANCÊS


Sim, eu li O Gato do Rabino (vol. 1) em francês! E devo dizer que foi uma leitura muito rapidinha, simples e mais interessante por ser no idioma de origem. Não utilizei o dicionário – para ser exata, usei-o apenas uma vez e foi para uma palavra específica relacionada ao judaísmo.
Recomendo aos que estão entrando no nível intermediário do idioma, e arrisco mesmo a recomendar aos mais iniciantes.

Edição lida: Le Chat du Rabbin – 1. La Bar-Mitsva, Dargaud (collection Poisson Pilote), 2002.

LEIA PORQUE...
Longe de ser infantil, O Gato do Rabino conquista pela ironia, pela crítica na forma do felino. É também uma homenagem à cultura judaica e aos pintores argelinos – através das ilustrações vistosas e, ao mesmo tempo, de traços simples.

O primeiro álbum da série vendeu mais de 200 mil exemplares na França; ganhou o Eisner Awards (algo como o Oscar dos quadrinhos) de melhor HQ estrangeira em 2006, além de ter sido contemplado com o prêmio do júri do Festival Internacional de HQ de Angoulême, na França, país onde a série já tem 5 volumes lançados. No Brasil, por enquanto, temos apenas até o terceiro.

E mais: O Gato do Rabino foi adaptado para o cinema pelo próprio autor. (Ainda não assisti à animação, mas pretendo.)

DA EXPERIÊNCIA...
Não sou apegada a religião de tipo algum e geralmente detesto ler livros sobre o tema. Contudo, O Gato do Rabino me atraiu por abordar esse tipo de assunto de maneira pensante, argumentativa e utilizando de ironia. Um livro que fez diferença ter lido, e olha que aqui falo apenas do volume 1.

FEZ PENSAR EM...
Na pessoinha que ainda não retornou o volume 2 à biblioteca e que está me fazendo esperar (longamente) para continuar essa história. Mas já peguei o volume 3, por via das dúvidas... – há, não contavam com minha astúcia!



Título: O Gato do Rabino – vol. 1: O Bar-Mitzvah
Título original: Le Chat du Rabbin – 1. La Bar-Mitsva
Autor(a): Joann Sfar, (colorido por) Brigitte Findakly
Editora: Zahar
Edição: 2006
Ano da obra: 2002
Páginas: 48

Chez le Libraire : Du vent dans mes mollets, de Raphaële Moussafir

À la française 16 de outubro de 2013 Aline T.K.M. 6 comentários


Já que recentemente andei falando de histórias com crianças e porque estamos, de fato, no “mês da criança”, a dica de leitura em francês deste outubro é nada menos que Du vent dans mes mollets, da francesa Raphaële Moussafir.

Assisti à adaptação cinematográfica, intitulada Feito Gente Grande, em maio no Festival Varilux de Cinema Francês 2013 (falei do filme aqui). E me apaixonei pela história, ambientada nos anos 80 e que é centrada na inocência e nas descobertas da infância que é quase pré-adolescência. Ler o livro está em meus planos – não tão imediatos – e tenho a sensação de que deve ser tão ou mais tocante quanto o filme.

Du vent dans mes mollets (infelizmente sem edição brasileira; mas ainda temos o filme, que é lindo) nos apresenta Rachel, uma garota solitária de 9 anos, cujos pais são um pouco severos demais e a fazem se consultar com uma psicóloga infantil. Na nova escola, Rachel conhece Valérie, uma menina espoleta e desbocada, com quem inicia uma amizade. Dia após dia, Rachel descobre o real significado da amizade, ao mesmo tempo em que começa a desenvolver um olhar mais maduro perante a vida. Entre gargalhadas e brincadeiras, a garota também percebe que a felicidade caminha lado a lado com as perdas.

Além do romance, a história também foi publicada em HQ na França. Mas por aqui, por enquanto, a opção é assistir ao filme e ler o livro – o romance mesmo – em francês.

DU VENT DANS MES MOLLETS, de Raphaële Moussafir, J’ai Lu.
RÉSUMÉ : Rachel a neuf ans, une institutrice humiliante, des parents vaches et une copine garce. A neuf ans, on est puni quand on donne son avis, on découvre des nouvelles sensations étranges, on expérimente son langage et son corps.

Depuis la rentrée, Rachel dort toute habillée avec son cartable. Ses parents décident de l'emmener consulter madame Trebla, une pédopsychiatre pleine de bonne volonté.

Cette grande petite fille dissèque son monde avec un regard drôle et acerbe dont la maturité étonne, amuse et choque. De fous rires en conflits, elle explore l'impitoyable monde de l'enfance. Un monde qui mène, parfois trop vite, vers celui des adultes...

Uma vida [Guy de Maupassant]

À la française 25 de setembro de 2013 Aline T.K.M. 3 comentários


1819. Jeanne deixa o convento onde passou a adolescência para voltar a viver na companhia dos pais e de Rosalie (sua irmã de leite e dama de companhia de sua mãe), em um castelo na região da Normandia, França. Inocente e cheia de sonhos – fruto de uma educação distante do mundo real –, Jeanne aguarda com fervor o dia em que se casará e idealiza toda uma vida de felicidade naquele castelo. Apaixona-se, casa-se, tem um filho, e se vê presa a um destino banal, medíocre, incrustado numa realidade intimamente crua.

Primeiro romance de Maupassant – ele escrevia basicamente contos até então –, Uma vida é um romance do realismo francês. Tendo sido discípulo de Flaubert, não é de admirar a semelhança entre o romance de Maupassant e o também clássico Madame Bovary, principalmente no que diz respeito à idealização amorosa nutrida por suas protagonistas. (Não li – ainda – Madame Bovary, mas estamos trabalhando o livro na aula de francês, e ainda, na edição que li, há um dossiê sobre o contexto histórico e literário da obra; falarei mais sobre isso adiante.)

Jeanne é tudo aquilo que as mulheres de hoje em dia temem ser e/ou parecer. Alguém que crê no amor perfeito e ideal, no príncipe encantado, e ali deposita toda a motivação de seu ser. Fruto da educação da época: as moças são criadas para se casarem, assim que nada mais natural do que fazer dessa “doce espera” um momento de sonhos, a serem lindamente realizados com a chegada dele.

Como obra observadora da realidade, é certo que Jeanne passa por maus bocados, que encontra desilusão após desilusão. E trata de acreditar que esteve fadada à infelicidade. Sim e não; a posição da mulher na época não teria permitido grandes reviravoltas para Jeanne, mas seus sentimentos – de extrema pureza – e sua visão de mundo contribuíram em seu caminho rumo ao fundo do poço.

Dizer fundo do poço não é exagero de minha parte; as mazelas da protagonista não lhe dão trégua durante a vida. Marido, filho, amigos, todos revelam alguma impureza de caráter e sentimento. Tão irônico como pode parecer, depois da morte dos pais (criaturas bondosas por essência), somente uma presença inesperada é capaz de se colocar ao lado de uma Jeanne já em frangalhos. Além do velho cachorro sempre esquecido por todos.

No entanto, o desfecho revela o vislumbre de algo mais, cabendo ao leitor especular se, afinal, o destino dará a Jeanne momentos de felicidade serena, ou se ocorrerá mais uma repetição de desilusões. Pouco importa; a vida, segundo disseram a Jeanne, nunca é tão boa ou tão ruim quanto imaginamos que ela seja.

LI EM FRANCÊS
Foi uma leitura rápida, mas manter o dicionário fora do campo de visão foi algo extremamente necessário. Procurar o significado de cada palavra desconhecida desanima (e não são poucas; consideremos a época em que o romance foi escrito). Bem melhor é ler de maneira fluida, portanto mais dinâmica, ao aplicar a compreensão aproximada pelo contexto. Dá certo, eu garanto. Algumas palavras pedem, sim, uma olhada no dicionário, algumas. De resto, usem a intuição, um pouquinho de lógica, e se joguem na sofreguidão de Jeanne.

A edição que li traz um dossiê bem completo. São 27 páginas que esclarecem um pouco mais sobre Maupassant, bem como a influência exercida por Flaubert, além de um retrato do contexto histórico da obra, um olhar mais profundo acerca de certos elementos e das características femininas – como Jeanne se insere no realismo, e sua semelhança com personagens de outros clássicos.

Edição lida: Une vie, Pocket (collection Classiques – 6026), 294 páginas, edição 2011.

LEIA PORQUE...
As descrições são um verdadeiro deleite. Maupassant quase nos faz sentir a relva, os ventos gelados, as folhas caídas no campo... Os personagens se fundem com o ambiente ao redor, e também o leitor passa a ter as belas paisagens normandas como seu lar durante a leitura.

DA EXPERIÊNCIA...
Os primeiro capítulos foram arrastados, confesso. Cheguei a achar que seria uma leitura chata e sem sal, e ainda pensei “Pô, ’Maumau’, sacanagem, hein...” Ainda bem que estava enganadíssima. Longe de ser sádica, foi envolvente ver Jeanne sofrer no casamento, vê-la colher os frutos por ter criado um filho cheio de mimos e superproteção. Senti uma pena danada, mas foi envolvente.

FEZ PENSAR EM...
“A humilde verdade”, subtítulo da obra, resume cada linha. No final, essa poderia ter sido a vida de qualquer um, uma vida onde a realidade faz cair por terra os devaneios de juventude.

Título: Uma vida
Título original: Une vie
Autor(a): Guy de Maupassant
Editora: Nova Cultural
Edição: 2003
Ano da obra: 1883
Páginas: 318

UN LIVRE, UN JOUR: dose diária de literatura na TV

À la française 18 de julho de 2013 Aline T.K.M. 9 comentários

Dica ligeira para os leitores francoparlantes!

Já conhecem o programa Un livre, un jour?
Un livre, un jour é um programa de televisão transmitido diariamente na França; aqui no Brasil, podemos vê-lo no canal pago TV5 Monde.
Como uma minirrevista literária, o programa apresenta uma obra a cada emissão – com apenas 2, 3 minutos de duração, em média – através de um pequeno bate-papo com o respectivo autor. Romances, biografias, quadrinhos, livros infantis... a ideia é mostrar um livro diferente por dia.

A primeira emissão do programa aconteceu há mais de 20 anos, e continua a ser gravado até hoje! Pessoalmente, acho legal para conhecer livros diferentes, não necessariamente esses que estamos tão acostumados a ver o tempo todo por aí.

A má notícia é que não tem legendas.

Assistir ao programa nem sempre é possível (até porque os horários de transmissão não ajudam muito), mas dá para acompanhar os livros mostrados a cada dia, com uma pequena sinopse, pelo site do Un livre, un jour.

No entanto, o site não disponibiliza os programas em vídeo. Para assistir online às emissões dos dias anteriores, é preciso acessar este cara simpático AQUI. (Aliás, nesse site dá para assistir a vários outros programas da televisão francesa...)

E finalmente, também sugiro dar uma olhada no canal do Un livre, un jour no YouTube, onde encontramos entrevistas com escritores – pena que as atualizações não sejam atividade frequente por lá.


Chez le Libraire: Les particules élémentaires, de Michel Houellebecq

À la française 11 de julho de 2013 Aline T.K.M. 5 comentários


Mais do que apenas um livro bastante conhecido, venho mostrar neste Chez le Libraire um escritor francês que há tempos quero ler. Trata-se de Michel Houellebecq, que recentemente foi notícia ao cancelar – pela segunda vez – sua participação na Flip. Michel já havia cancelado sua participação na Flip 2011; após ter confirmado presença na edição deste ano, o escritor voltou a cancelar devido a problemas pessoais.

Mas não vim aqui falar desse "chove não molha" do autor. Vim, sim, mostrar a sinopse do livro Les particules élémentaires, que gostaria muito de ler em francês e que acredito ser interessante como dica para quem quiser praticar um pouco o idioma nessas férias – imagino que todos os cursos de idiomas estejam em período de férias, exceto para quem estiver fazendo os “intensivões” de julho.

Ouvi falar do livro por causa de sua adaptação cinematográfica. Partículas Elementares é um filme alemão baseado no romance francês, e foi lançado em 2006 sob a direção de Oskar Roehler. Apesar de já ter ouvido falar muito mal do filme, tenho uma curiosidade imensa e persistente em relação a ele – não, ainda não assisti, mas pretendo. E foi essa curiosidade que me levou a descobrir que o filme teve um livro como inspiração.

A edição brasileira, intitulada Partículas Elementares, foi publicada pela editora Sulina. A trama gira em torno de dois meios-irmãos, Michel e Bruno. O primeiro é pesquisador em biologia, que dedica sua vida inteiramente ao trabalho, em detrimento de sua vida pessoal. Já Bruno vive na constante e desesperada busca pelo prazer sexual. Com trajetórias caóticas nos campos familiar e sentimental, os irmãos terão suas vidas unidas em um ponto comum. Ainda, como nos diz a sinopse brasileira, existe a “iminência de uma mutação jamais imaginada pela ficção”.

Les particules élémentaires foi objeto da maior polêmica literária da década de 90 na França, e fez do autor, Michel Houellebecq, uma personalidade cultural reconhecida internacionalmente. Dito isso, parece mesmo se tratar de uma leitura intrigante e fora do comum. E, como eu sempre digo, em francês é mais gostoso. Neste caso, não duvido que seja!

LES PARTICULES ÉLÉMENTAIRES, de Michel Houellebecq, J’ai Lu.
RÉSUMÉ : L'un est un scientifique de renom, l'autre est anonyme ; Michel et Bruno sont demi-frères et n'ont rien en commun, sinon une propension au malheur. En cette fin de XXe siècle qui voit le monde occidental courir à sa perte, il est évident que Michel Djerzinski et Bruno n'ont aucune chance. Ce qu'illustrent leurs vies exemplaires n'est rien moins que la troisième mutation métaphysique de l'histoire du monde.

Michel, chercheur en biologie rigoureusement déterministe, incapable d’aimer, gère le déclin de sa sexualité en se consacrant au travail, à son Monoprix et aux tranquilisants. Une année sabbatique donne à ses découvertes un tour qui bouleversera la face du monde. Bruno, de son côté, s’acharne en une quête désespérée du plaisir sexuel. Un séjour au "Lieu du Changement", camping post-soixante-huitard tendance new age, changera-t-il sa vie ? Un soir, une inconnue à la bouche hardie lui fait entrevoir la possibilité pratique du bonheur.

Par leur parcours familial et sentimental chaotique, les deux demi-frères illustrent de manière exemplaire la société d’aujourd’hui et la quête complexe de l’Amour vrai. Le récit, en trois parties, se déroule entre 1998 et 2009, et raconte l'histoire alternée de Bruno et Michel, nés à la fin des années cinquante, que les hasards de la vie (et un coup de pouce des géniteurs) ont mis à un certain moment en relation. Bonheur, sexe, religion, clonage... un roman provocateur et polémique.


Balzac e a costureirinha chinesa [Dai Sijie]

À la française 15 de junho de 2013 Aline T.K.M. 10 comentários

Em 1966, o líder chinês Mao Tsé-tung lança uma campanha que mudaria radicalmente a vida do país: a Revolução Cultural que, entre outras medidas drásticas, expurgou das bibliotecas obras consideradas como símbolo da decadência ocidental. Em meio às transformações político-sociais, o movimento – que só terminaria dali a dez anos – desencadeou mudanças nas concepções e na maneira de pensar do povo. Mas, mesmo sob a opressão da Guarda Vermelha, uma outra revolução explode na vida de três adolescentes chineses quando, ao abrirem uma velha e empoeirada mala, têm as suas vidas invadidas por Balzac, Dumas, Flaubert, Baudelaire, Rousseau, Dickens...

Se me permitem dizer, vocês estão diante do review de um livro pitoresco. E lindo.

Desde as primeiras linhas, o narrador-personagem permite que o leitor mergulhe em seu íntimo e faça parte de sua trajetória em um momento bem peculiar – de sua vida e da própria China. Neste narrador, cujo nome não conhecemos, vê-se o próprio Dai Sijie – o autor esteve durante três anos (entre 1971 e 1974) em um vilarejo nas montanhas da China para o regime de reeducação.

Acompanhamos a cumplicidade, as angústias e toda sorte de sentimentos experimentados pelo protagonista e seu amigo Luo. Longe da família – intelectuais burgueses que, por isso, passaram por punições – os garotos são submetidos a tarefas árduas junto dos camponeses e levam uma vida precária, além da dura perspectiva de permanecerem em reeducação por tempo prolongado.

Tudo seria exponencialmente mais trágico se não contássemos com a destreza mental e a ousadia dos dois amigos, características que lhes proporcionam a regalia de poder assistir a sessões de cinema em outro vilarejo para depois contarem os filmes com detalhes para o restante das pessoas. Essa vivacidade dos personagens confere nuance aventureira à trama – ainda que a narrativa se mostre introspectiva.

Dois acontecimentos marcam a vida dos garotos: o contato com a filha do alfaiate da região – por quem ambos se apaixonam –, e a descoberta de uma mala repleta de obras de Balzac, Flaubert, Rousseau, entre outros...

A descoberta da literatura ocidental – em segredo, pois era proibida durante o regime de Mao – opera grandes transformações nos amigos. As palavras, em especial as de Balzac, têm papel fundamental no processo de amadurecimento e no florescer de Luo e do protagonista. Na fronteira com a idade adulta, eles descobrem o amor, o sexo e a própria vida a partir de obras como O Pai Goriot, Ilusões Perdidas e Úrsula Mirouët. Mais que apenas proporcionar descobertas, a literatura balzaquiana guia os garotos no tortuoso caminho do próprio crescer, ajudando-os a lidar com a ebulição que os acomete por dentro. Ebulição que em grande parte se deve à tal da costureirinha.

A graciosa costureirinha chinesa, aliás, também é seduzida pelas palavras de Balzac, e também nela ocorre uma metamorfose – silenciosa e mais intensa do que se pode imaginar.

Balzac e a costureirinha chinesa é um livro sobre descobertas; sobre tornar-se adulto num contexto severamente limitador. E, especialmente, um livro sobre o poder dos livros e a liberdade que só a literatura é capaz de oferecer.

LI EM FRANCÊS


Ler o livro em francês foi uma experiência enriquecedora, principalmente porque é o idioma em que originalmente foi escrito. O autor é de nacionalidade chinesa, mas mudou-se para a França em 1984, e adotou o francês para escrever seus livros.
A leitura se deu de maneira simples e com fluidez. O dicionário foi bem-vindo para questões de vocabulário e expressões. Sem mais.
(Detalhe: parte deste review será utilizada em um trabalhinho sobre o livro que preciso entregar na aula de francês. ^^ )

LEIA PORQUE...
Ainda que o entorno da trama seja composto por uma realidade dura, a narrativa jamais se afasta da docilidade. O fato de ser em parte autobiográfico faz com que percebamos a leitura de forma ainda mais impactante. Dai Sijie, além de escritor, é também cineasta e foi ele mesmo quem adaptou Balzac e a costureirinha chinesa para o cinema.

DA EXPERIÊNCIA...
História impossível de afastar do pensamento, mesmo quando a leitura já tiver sido há muito concluída. Extremamente inspirador!

FEZ PENSAR EM...
Balzac e todas as obras mencionadas ao longo do livro. Não sei vocês, mas acho especiais livros que sugerem outros livros; é como se a leitura ganhasse continuidade.

Título: Balzac e a costureirinha chinesa
Título original: Balzac et la petite tailleuse chinoise
Autor(a): Dai Sijie
Editora: Alfaguara
Edição: 2007
Ano da obra: 2000
Páginas: 168

Chez le Libraire : La singulière tristesse du gâteau au citron, de Aimee Bender

À la française 10 de junho de 2013 Aline T.K.M. 6 comentários


Com o lançamento da edição brasileira pela editora Leya, fiquei tentada a ler A peculiar tristeza guardada num bolo de limão. O livro traz a história de uma garota que descobre ter um talento nada convencional: ela sente o sabor dos sentimentos daqueles que preparam o que ela come. A partir da constatação desse dom, a pequena Rose deverá conviver e aprender a lidar com ele.

Agora, por que não ler o livro em francês? É só uma ideia – para vocês, leitores francoparlantes, e para mim mesma...

LA SINGULIÈRE TRISTESSE DU GÂTEAU AU CITRON, de Aimee Bender, Éditions de l’Olivier.
RÉSUMÉ : Le jour de ses neuf ans, Rose Edelstein mord avec délice dans le gâteau au citron préparé pour l'occasion. S'ensuit une incroyable révélation : elle ressent précisément l'émotion éprouvée par sa mère, alors qu'elle assemblait les couches de génoise et de crème. Sous la douceur la plus exquise, Rose perçoit le désespoir. Ce bouleversement va entraîner la petite fille dans une enquête sur sa famille. Car, chez les Edelstein, tous disposent d'un pouvoir embarrassant : odorat surpuissant ou capacité de se fondre dans le décor au point de disparaître. Pour ces superhéros du quotidien, ce don est un fardeau. Chacun pense être affligé d'un mal unique, d'un pouvoir qu'il faut passer sous silence. Comment vivre lorsque les petits arrangements avec la vérité sont impossibles ? Comment supporter le monde lorsque la moindre bouchée provoque un séisme intérieur ?

Chez le Libraire : Comment je suis devenu stupide, de Martin Page

À la française 28 de abril de 2013 Aline T.K.M. 5 comentários


Trouxe para vocês, como sugestão de leitura en français, um livro incrível que já resenhei – de maneira bem empolgada, por sinal – aqui no blog: Como me tornei estúpido. O autor é já bem querido por mim: trata-se do francês Martin Page; acho-o sensacional porque ele consegue unir sarcasmo, crítica, e um humor afinado, além de nos presentear com personagens dotados de deliciosa excentricidade.

Quanto ao livro, imaginem um cara que crê que a única maneira de viver melhor e mais feliz reside na estupidez. E a partir da constatação de tal ideia, passa a persegui-la e tornar-se estúpido vem a ser seu principal objetivo.

Bom, ler Martin Page em português já é uma experiência e tanto. Então, por que não lê-lo no idioma original? Fica aí a ideia...

Em tempo: tenho notado que as opiniões acerca dos livros do Page vão aos extremos, tipo “ame ou odeie”, sabe? Minha sugestão é abrir a cabeça e ir fundo; mas sou suspeita, o autor está entre meus preferidos.

COMMENT JE SUIS DEVENU STUPIDE, de Martin Page, J’ai Lu.
‘– Tu veux dire, prononça lentement Ganja en mâchant des graines médicinales, tu veux dire que tu as été stupide d'essayer d'être si intelligent, que c'était à côté de la plaque, et que devenir un peu stupide, c'est ça qui serait intelligent...’

RÉSUMÉ : Comment survivre dans le monde cruel du libéralisme triomphant quand on est, comme Antoine, un jeune homme lucide et moral ? Antoine a beau être diplômé d'araméen, de biologie et de cinéma, il n'en est pas plus heureux. Et, selon lui, ce sont précisément son intelligence et sa lucidité qui lui gâchent l'existence. Aussi décide-t-il d'arrêter de penser. Il envisage d'abord de devenir alcoolique, mais, dès le premier verre, il sombre dans un coma éthylique. Il s'intéresse ensuite au suicide, mais la mort ne l'attire décidément pas. Reste l'acte ultime – la crétinisation. Loin de tout moralisme, avec humour et détachement, Martin Page pointe les contradictions contre lesquelles nous nous battons tous, pour peu que nous tentions de réfléchir.

Chez le Libraire : Le vieux qui ne voulait pas fêter son anniversaire, de Jonas Jonasson

À la française 2 de abril de 2013 Aline T.K.M. 7 comentários


Vi o livro de estreia do sueco Jonas Jonasson ainda na França e não pude conter a curiosidade. Motivo? Basta dar uma olhadinha na capa e no título (em tradução livre, “O velho que não queria celebrar seu aniversário”). Em seguida, a sinopse só vem a reforçar o porquê de estar curiosa e a vontade de ter o livrinho em mãos.

Acabei não comprando o dito-cujo por economia besta, e me arrependi quase que amargamente – ainda não tem edição brasileira. Em português, por enquanto só o de Portugal, com o título O centenário que fugiu pela janela e desapareceu, pela Porto Editora.

Ainda posso comprar a edição traduzida em francês (já está na wishlist), mesmo que me saia um pouquinho mais caro; a economia, no fim, terá sido em vão.
Para os que não leem em francês e não estão a fim de ler em português lusitano, o livro também tem edição em inglês e em espanhol. Além, claro, do original em sueco e das traduções em outras tantas línguas - aventurem-se!

Atualizando... O livro será lançado aqui no Brasil pela Editora Record, com o título O ancião que saiu pela janela e desapareceu. Vibrei com a notícia!

LE VIEUX QUI NE VOULAIT PAS FÊTER SON ANNIVERSAIRE, de Jonas Jonasson, Presses de la Cité.
RÉSUMÉ : Alors que tous dans la maison de retraite s’apprêtent à célébrer dignement son centième anniversaire, Allan Karlsson, qui déteste ce genre de pince-fesses, décide de fuguer. Chaussé de ses plus belles charentaises, il saute par la fenêtre de sa chambre et prend ses jambes à son cou.
Débutent alors une improbable cavale à travers la Suède et un voyage décoiffant au coeur de l’histoire du XXe siècle. Derrière ce frêle vieillard en pantoufles se cache un artificier de génie qui a eu la bonne idée de naître au début d’un siècle sanguinaire.

Grâce à son talent pour les explosifs, Allan Karlsson, individu lambda, apolitique et inculte, s’est ainsi retrouvé mêlé à presque cent ans d’événements majeurs aux côtés des grands de ce monde, de Franco à Staline en passant par Truman et Mao.

Resenha: As Armas Secretas, de Julio Cortázar

BestSeller 15 de março de 2013 Aline T.K.M. 12 comentários

Resenha: As Armas Secretas, de Julio Cortázar

Segundo livro de contos do autor argentino, As Armas Secretas foi publicado originalmente em 1959 e traz duas das mais influentes narrativas de Cortázar: "O perseguidor" e "As babas do diabo". Esta última serviu de inspiração para o roteiro do filme Blow-up, de Antonioni. Ao todo, As Armas Secretas possui cinco contos que introduzem os conflitos e ambiguidades do homem moderno. A abordagem, aqui, passa pelo drama e pela ironia, mas sem deixar de lado o aspecto poético.

A ânsia de um primeiro contato com a obra de Cortázar foi o principal motivador da leitura de As Armas Secretas. Cada conto mostra, realmente, o porquê do escritor ser considerado um dos mais originais de seu tempo. A narrativa que foge do linear e a constante sensação de dúvida acompanhada de infinitas possibilidades fazem brilhar os olhos do leitor, cuja mente se enche rapidamente de inúmeros “será?” desde as primeiras linhas.

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