Esta é uma história de fantasmas, mas nem um pouco como aquelas com as quais você está acostumade. Aliás, é impossível já ter lido qualquer coisa como A Menina Submersa: Memórias.

Bem ao estilo “ame ou odeie”, o livro atira o leitor no labirinto das memórias da Imp, uma garota diagnosticada com esquizofrenia, que tem um histórico de doença mental na família (fato que a assombra) e cuja vida é abalada por alguns eventos mais ou menos recentes e misteriosos.

Além da atmosfera sombria e dos elementos fantásticos, o livro marca vários pontos no quesito representatividade: personagem trans, personagem lésbica, transtornos mentais.

Do mesmo autor de O Homem que Caiu na Terra, a distopia sci-fi O Imitador de Homens traz um mundo de solidão e desesperança, em que as pessoas sobrevivem à base de fármacos e já não convivem nem se relacionam entre si, ler e escrever é proibido, e os androides substituíram o ser humano em muitas funções.

Nessa Nova York do futuro proposta pelo genial Walter Tevis – com claras inspirações em outros clássicos distópicos –, três personagens terão seus caminhos cruzados: Spofforth, um androide de última geração projetado a partir de um cérebro humano; Paul Bentley, um professor que aprende a ler; e Mary Lou, uma mulher que há muito se rebelou e não faz uso de drogas e outras substâncias.

Repleto de camadas e com personagens complexos, O Imitador de Homens levanta inúmeros questionamentos acerca da noção de Privacidade, conceito que rege as (poucas) interações sociais que acontecem nesse mundo, das memórias, do passado e do futuro, do ser humano, e também da tecnologia. Será que os avanços tecnológicos e os robôs são mesmo os grandes vilões de um mundo como o desse livro?

Imagina ter um vislumbre da sua vida cinco anos no futuro... e descobrir que ela está completamente diferente de hoje.

É isso o que acontece com a protagonista de Daqui a Cinco Anos, da Rebecca Serle. E já aproveito para deixar aqui dois avisos indispensáveis:
1) Esqueça tudo o que você acha que vai encontrar aqui, porque essa história toma rumos que a gente a princípio não imagina;
2) Não leia este livro se você estiver em um momento muito vulnerável. Sério.

Chegou a hora de vivenciar nossos últimos momentos na cidadezinha de Holt, de nos despedirmos dos personagens e de suas trajetórias... Bênção é o terceiro e último livro da Trilogia da Planície, e já estou me sentindo órfã.

Neste livro, Kent Haruf nos apresenta a novos personagens, que vivenciam momentos bem delicados em suas vidas. Pai Lewis enfrenta um câncer em estágio terminal e passa seu último verão ao lado da esposa e da filha que vem visitá-lo, além de contar com o apoio de amigos do casal, entre eles a vizinha Berta May e sua neta Alice, que acaba de se mudar para a casa da avó após perder a mãe.

Há também o reverendo Lyle, o novo pastor que acaba de chegar de Denver com sua família. Ao pregar sobre amor, união e a não violência em tempos bastante difíceis, Lyle passa a ser hostilizado ali.

Bênção é, acima de tudo, um livro muito humano. E também é o fim de uma era – é o desfecho de uma trilogia muito querida, mas também se passa em tempos pós-11 de setembro, o que acaba dizendo muito sobre a atmosfera do livro.

Duas irmãs, já senhoras, vivendo sozinhas numa casa; um acidente no passado; ressentimentos; dependência; dificuldade em aceitar a realidade. Esses são alguns dos elementos que compõem O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, o livro que inspirou o filme icônico de 1962 com Bette Davies e Joan Crawford, dirigido por Robert Aldrich.

O filme deu origem ao hagsploitation, um subgênero do terror caracterizado pelas protagonistas velhas e à beira da insanidade, que alimentam rancores de um passado doloroso e acabam por recorrer à violência.

Um livro que desestabiliza, que tira o chão do leitor, que provoca sentimentos como raiva, impotência... O Olho Mais Azul, da Toni Morrison, não é um livro fácil, mas merece e precisa ser lido.

A trama se passa no início dos anos 1940 e gira em torno da menina Pecola, de apenas onze anos de idade. Negra, ela sonha em ter olhos azuis, como os da atriz mirim Shirley Temple. Filha de uma família desestruturada e vivenciando o preconceito onipresente, Pecola tem sua identidade aniquilada pouco a pouco.

Nem preciso dizer que O Olho Mais Azul entrou para os meus favoritos. Ah, e só para lembrar, Toni Morrison foi a primeira mulher negra a receber o Nobel de Literatura, em 1993.

Demorou, mas finalmente li a HQ que inspirou a série The End of the F***ing World, da Netflix! Aliás, acho que nem preciso lembrá-los de que eu morro de amores pelo casal James e Alyssa e por toda a jornada desajeitada que eles enfrentam.

A graphic novel The End of the F***ing World, de Charles Forsman, foi publicada originalmente em 2011 e não tem edição aqui no Brasil – uma pena! Mas se você lê em inglês, o livro pode ser adquirido na Amazon Brasil, bem fácil.

Depois de ter amado Canto da Planície, levei uma rasteira logo no início da continuação, No Final da Tarde, o segundo livro da Trilogia da Planície. Explico: tão apegada que eu estava às histórias dessas pessoas que vivem na cidadezinha de Holt, simplesmente me doeu o coração e fui pega de surpresa pelos fatos da vida. Kent Haruf (1943-2014) presenteou o leitor com um livro maravilhoso e, ao mesmo tempo, um tanto dolorido.

Ah, é importante frisar que, apesar de ser uma continuação, No Final da Tarde pode ser lido de forma avulsa – assim como Canto da Planície.

Aqui, reencontramos alguns dos personagens que já conhecemos no primeiro livro, agora vivendo outras fases, e somos apresentados a novos personagens, cujas histórias se entrelaçam com as da galera mais antiga. No Final da Tarde é um livro sobre os acontecimentos – grandes e pequenos – da vida, sobre o cotidiano, as perdas e o recomeço, sobre viver um dia de cada vez.

Se você nasceu em meados da década de 80, você é um old millennial e este livro é para você!

Escrito por Ryan O’Connell, Especial inspirou a série Special, da Netflix – juro, fazia tempo que eu não ria tanto com um livro. O humor e a acidez vêm em doses perfeitas enquanto Ryan discorre sobre sua entrada na vida adulta e sobre como é ser um millennial – além de tecer críticas afiadas e hilárias a essa geração.

Sair do armário (em vários sentidos), se aceitar, amadurecer, trilhar um caminho profissional (e se frustrar com muitas coisas), manter amizades e fazer novos amigos, lidar com a pressão de um mundo conectado, encarar a solidão, se envolver com drogas... Tudo isso faz parte da jornada de Ryan e, acredite, você vai se identificar horrores!

Mais uma resenha com uma vibe bem macabra nesta última semana de outubro!

Em Confissões do Crematório, Caitlin Doughty revela os bastidores e os detalhes mais sórdidos das funerárias, tudo baseado em suas próprias experiências, já que ela trabalha na área.

Já estou em clima de Halloween por aqui! E, óbvio, não podia deixar de falar sobre um livro do mestre do terror! Até porque no fim do mês tem início a mostra Stephen King: O Medo é Seu Melhor Companheiro, em São Paulo, no CCBB.

O livro da vez é o assustador O Cemitério, de Stephen King. É o livro que originou as duas adaptações para o cinema, ambas intituladas Cemitério Maldito.

Mas, mais do que apenas arrepiar o leitor, o livro também aborda a morte e o luto, faz a gente realmente pensar em como é difícil falar sobre isso e em como a morte é ainda um tabu nos dias de hoje.

Alerta de leitura necessária: Do que estamos falando quando falamos de estupro, de Sohaila Abdulali, é aquele livro que a gente precisa ler, indicar, falar dele por aí.

O tema está longe de ser dos mais fáceis. A autora, pesquisadora e ativista indiana traz uma abordagem direta, sem meias palavras e informal (como uma conversa) para falar sobre si mesma – Sohaila foi vítima de estupro coletivo – e sobre a história de outras tantas mulheres que sofreram agressão sexual.

O medo e a impossibilidade de falar sobre o estupro que sofreram, a necessidade de quebrar o silêncio, vítimas, estupradores, cultura do estupro, consentimento. Está tudo aqui, às vezes com um toque de descontração, mas sem jamais deixar de lado o horror que esse crime provoca na vida de muitas mulheres – e como os criminosos ainda saem impunes.

A pacata – e fictícia – cidadezinha de Holt, no Colorado é palco para histórias e personagens aparentemente desconectados entre si, mas que se entrelaçam e se influenciam mais do que imaginamos a princípio.

Um professor que precisa lidar com um divórcio, dois garotos que têm de enfrentar a ausência da mãe enquanto vivem descobertas, uma adolescente grávida, dois irmãos fazendeiros que vivem meio isolados, uma professora que mora com o pai senil. Em comum, a solidão e o afastamento.

Todas essas pessoas povoam as páginas de Canto da Planície, o primeiro volume da Trilogia da Planície, de Kent Haruf, publicado pela editora Rádio Londres. Aliás, este foi o livro da segunda caixinha do Clube da Rádio. Não conhece o clube ainda? Bora aqui conhecer!

Cem anos é muito tempo?

Foi com essa pergunta que iniciei o vídeo falando sobre O Dia de Julio, uma HQ do célebre Gilbert Hernandez, lançada recentemente pela editora Nemo.

Em O Dia de Julio, o autor de Sopa de Lágrimas e Diastrofismo Humano narra a história de uma vida. Mais precisamente, da vida de Julio, que viveu exatos cem anos e cuja trajetória se mistura à história do século XX.

Spin-off da trilogia Crônicas de Amor & Ódio, da Mary E. Pearson, Dance of Thieves é uma distopia fantástica que se passa no mesmo universo e é centrada no conflito entre dois personagens, Kazi e Jase. Ela, uma ladra reformada e soldada de elite; ele, o novo líder de um grandioso império.

Se vocês acham que vai surgir um romance entre os protagonistas, sim, vocês acertaram. Mas Dance of Thieves é muito mais que uma simples história de amor entre jovens de realidades opostas e objetivos conflitantes. É um livro cheio de camadas, que fala sobre poder, desigualdades, justiça, amizade, lealdade.

Fui completamente conquistada por essa história e, no vídeo, conto para vocês o porquê.

Um dos principais nomes dos quadrinhos underground americanos, Daniel Clowes está de volta em mais um lançamento da Editora Nemo, que atende pelo título David Boring.

Aqui, o roteiro dramático recebe punhados de nonsense para contar a trajetória cheia de altos e baixos – muitos baixos – de um anti-herói peculiar e fissurado por traseiros substanciosos em busca da namorada desaparecida e de pistas sobre seu pai, enquanto o país atravessa um conflito nuclear.

Mais uma vez, Clowes mostra por que atrai uma legião de leitores e fãs. Aliás, se você não viu as resenhas das outras HQs do cara, recomendo que dê uma passadinha AQUI, mas não sem antes conferir mais detalhes de David Boring no vídeo a seguir:

Às vezes rola por aqui um certo pé atrás com um livro e/ou autor muito hypado; levo séculos para começar a ler, isso se eu decidir ler.

Não vou mentir: o burburinho em torno do conto "Cat Person" e da autora Kristen Roupenian me deixou curiosa e, uma vez com o livro Cat Person e Outros Contos em mãos e tendo lido uma e outra resenha, tive a certeza de que precisava ler para ontem.

A notícia boa é que meu feeling não estava errado!

Enquanto lia Intrusos, a HQ do Adrian Tomine, me peguei várias vezes pensando: “P*, tô virando fã desse cara!”.

Com 6 contos gráficos, a obra traz personagens em situações nas quais se sentem solitários e em constante busca por aprovação e cumplicidade.

Saiba por que Intrusos é uma HQ tão especial e por que é ideal para quem não tem familiaridade com quadrinhos e curte narrativas mais literárias. Aqui no vídeo:

Virei fã de Daniel Clowes quando li Paciência pela primeira vez. Depois reli e admirei ainda mais o trabalho do quadrinista norte-americano. Aí li Ghost World, me diverti horrores com as peripécias das duas amigas meio malucas, assisti ao filme – era um daqueles que estava na minha lista de “preciso ver” fazia séculos! – e tive certeza de que precisaria ler tudo mais que eu pudesse desse cara.

E então peguei Como uma Luva de Veludo Moldada em Ferro. Esta edição, publicada pela Editora Nemo, traz os dez capítulos da história homônima que foi publicada originalmente entre 1989 e 1993 na revista americana Eightball. E vocês não imaginam: nunca na vida li uma HQ com trama e personagens tão bizarros! Nonsense total!

Isso não acontece com tanta frequência: ler um livro e desejar tê-lo lido pelo menos uma década atrás. Foi assim a minha experiência com Todas as Coisas Belas, do Matthew Quick, autor de O Lado Bom da Vida.

Ao falar sobre uma juventude outsider, que não tem certeza do que está fazendo ou vai fazer, mas que sabe que algumas coisas precisam mudar, o autor fala também sobre o próprio processo de crescer, de tomar para si as responsabilidades pelas próprias escolhas – as boas e as nem tão boas assim.

Os jovens da trama são muito fãs de um livro chamado "O Ceifador de Chicletes", que acaba por ajudá-los a passar pelas dificuldades dessa fase da vida. Mas esse livro “transformador” também os influencia em muitos aspectos, mais até do que eles próprios, em um primeiro momento, podem perceber.