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‘Cat Person e Outros Contos’: quando o hype vem justificado | Resenha

Companhia das Letras 27 de maio de 2019 Aline T.K.M. Nenhum comentário

Livro Cat Person e Outros Contos: quando o hype vem justificado | Resenha

Às vezes rola por aqui um certo pé atrás com um livro e/ou autor muito hypado; levo séculos para começar a ler, isso se eu decidir ler.

Não vou mentir: o burburinho em torno do conto "Cat Person" e da autora Kristen Roupenian me deixou curiosa e, uma vez com o livro Cat Person e Outros Contos em mãos e tendo lido uma e outra resenha, tive a certeza de que precisava ler para ontem.

A notícia boa é que meu feeling não estava errado!

5 frases de filmes para começar uma conversa no Badoo

App 25 de outubro de 2017 Aline T.K.M. 2 comentários

5 frases de filmes para começar uma conversa no Badoo | Comportamento | Relacionamentos

Já experimentou um desses apps de conhecer pessoas? Tem curiosidade de ver como é, mas morre de preguiça de conversinha banal?

Bom, por que não fazer algo diferente? Pensei na brincadeira: começar uma conversa no Badoo jogando logo de cara um quote de algum filme. Inesperado, né? Será que dá certo?

Fala Comigo: preconceito de idade no amor + Denise Fraga e elenco falam sobre o filme

Felipe Sholl 13 de julho de 2017 Aline T.K.M. Nenhum comentário

Estreia da semana no cinema: Fala Comigo | Denise Fraga e elenco falam sobre o filme, que aborda o preconceito de idade no amor

Um filme intenso, daqueles que dividem opiniões e fazem a gente sair do cinema com a cabeça fervilhando. Ao abordar um tema ainda considerado tabu, o filme lança um olhar sobre o preconceito no amor e conduz à reflexão a partir de inúmeros ângulos.

Este filme é Fala Comigo, dirigido por Felipe Sholl e com Karine Telles, Tom Karabachian e Denise Fraga no elenco. O longa pode ser visto nos cinemas a partir de hoje.

Fala Comigo traz o amor entre Diogo (Tom Karabachian), um garoto de 17 anos, e Ângela (Karine Telles), uma mulher de 43 anos que acaba de ser deixada pelo marido.

5 livros sobre casamento

Casamento 10 de novembro de 2015 Aline T.K.M. Nenhum comentário

5 livros sobre casamento

Não, não se trata exatamente daqueles primeiros meses logo após o vestido branco, as dezenas de convidados, a lua de mel. É o que vem depois. Filhos, marasmo, às vezes adultério, incompatibilidades, desgaste, desilusão, acomodação. Um tanto pessimista? É bem provável, mas não deixa de ter sua porção – generosa – de realidade.

Os livros que reuni nesta lista abordam esse lado do casamento e dos relacionamentos em geral, quando as coisas já estão desgastadas e a separação, se não é inevitável, é assunto a ser considerado. Livros para pensar, dotados de certa dose de pessimismo e muito bem temperados com ironia das boas – não à toa, a gente acaba dando risada em vários momentos durante a leitura. Ah, e só tem autor de peso aqui na minha listinha!

Resenha: Amor, etc, de Julian Barnes

Julian Barnes 9 de novembro de 2015 Aline T.K.M. 2 comentários

Resenha: Amor, etc - Julian Barnes

Eu disse que o que você encontra não é necessariamente o que você quer. Vamos falar de amor. Ele não é como nós achávamos que seria. Podemos todos concordar com isso? Melhor, pior, mais longo, mais curto, superestimado, subestimado, mas não o mesmo. Também, diferente para pessoas diferentes. Mas isto é algo que você só aprende aos poucos: o que é o amor para você. Quanto você tem dele. Do que você abrirá mão por ele. Como ele vive. Como ele morre. [Stuart]


Quando o assunto é amor, o livro do britânico Julian Barnes é parada obrigatória. Continuação de Em tom de conversa, onde testemunhamos um triângulo amoroso entre os protagonistas, Amor, etc faz um retrato da natureza do amor – a verdadeira.

Nós, de David Nicholls | resenha

David Nicholls 5 de outubro de 2015 Aline T.K.M. 9 comentários


Adoro os livros do David Nicholls e tenho Um Dia como um livro muito querido e que me marcou bastante. Então, logo que pus as mãos em Nós, já soube que iria gostar do livro. Só não imaginava que iria gostar tanto assim.

Nós é narrado por Douglas, um bioquímico de 54 anos, casado há 25 com Connie – mulher das artes e da cultura – e pai de Albie há 17. Com o filho prestes a sair de casa para começar a faculdade, Douglas se depara com o inesperado: Connie comunica que deseja se separar.

No entanto, nada precisa ser de imediato, uma vez que a família tem programada uma viagem pela Europa – o Grand Tour – cujo maior objetivo é percorrer alguns museus, admirar determinadas obras de arte e proporcionar ao filho certa bagagem cultural e artística. Para Douglas, é também uma oportunidade de se aproximar do filho adolescente, de quem se distanciou ao longo dos anos, e de tentar fazer com que a mulher volte atrás na ideia da separação. Seguindo o itinerário montado por Douglas, a viagem acontece com uns tantos percalços; os três se desentendem grande parte do tempo, e a falta de um vínculo verdadeiro entre Albie e o pai torna as coisas ainda mais difíceis.


Resenha: Em tom de conversa, de Julian Barnes

Julian Barnes 30 de outubro de 2014 Aline T.K.M. 4 comentários

Resenha: Em tom de conversa, de Julian Barnes

[...] se você continua vivendo com alguém, lentamente vai perdendo a capacidade de fazer essa pessoa feliz, embora sua capacidade de magoar permaneça intocada. E vice-versa, é claro.


Um triângulo amoroso no melhor humor irônico de Julian Barnes, Em tom de conversa não é uma história de amor, mas antes, uma história sobre o amor. Também sobre infidelidade. E faz compreender que não existem regras imutáveis no casamento.

Resenha: Pulso, de Julian Barnes

Contos 25 de maio de 2013 Aline T.K.M. 13 comentários


Pulso reúne histórias sobre amor, amizade, perda e saudade ligadas por um ritmo comum: do corpo, do sexo, da doença e da morte. Do familiar ao extraordinário, de acontecimentos privados a fatos históricos, de encontros a desencontros de amigos ou de amantes, Barnes revela seu olhar afiado sobre os acontecimentos, grandes ou pequenos, que resumem a existência humana.

O Teorema Katherine [John Green]

Intrínseca 17 de maio de 2013 Aline T.K.M. 10 comentários


Colin Singleton gosta de Katherines. Já teve dezenove namoradas, todas Katherines, e cada uma delas terminou com ele. Após seu décimo nono pé na bunda, Colin – ex-prodígio e viciado em anagramas – resolve cair na estrada com seu melhor amigo, Hassan, e com uma missão: desenvolver o Teorema Fundamental da Previsibilidade das Katherines, que o fará ocupar o posto de gênio e, claro, reconquistar sua Katherine XIX.

Em tom tragicômico, O Teorema Katherine traz uma visão diferenciada acerca dos relacionamentos amorosos, especialmente os malsucedidos.

Um gráfico que possa prever o desfecho de uma relação é, seguramente, uma daquelas “invenções” que muitos dariam tudo para ter em mãos. E é isso que Colin persegue: criar um teorema aplicável a todas as suas dezenove Katherines, portanto a todos os relacionamentos, precisando quando e quem terminaria a relação. Pensar em um teorema como este é algo bastante engraçado; no entanto, tal esforço em racionalizar os namoros revela uma personalidade insegura e com alguma dificuldade em compreender e lidar com o outro. Ao mesmo tempo em que presenciamos a prodigiosidade do protagonista, acompanhamos também suas fraquezas e o percurso bastante aventureiro que Colin empreende para superá-las.

O texto é gostoso de ler, conduz o leitor de maneira natural e “indolor”, além de ir (muito bem) acompanhado de um enredo repleto do frescor e pretensão tipicamente juvenis. E não uso aqui a palavra pretensão ligada a qualquer sentido negativo, mas aos próprios desejos e grandes ambições dos jovens, e até a certa vaidade.

Contudo, são os personagens a grande atração do livro! Hilários em suas tiradas e convincentes em seus dilemas, o trio Colin-Hassan-Lindsey parecem uma unidade, como que feitos uns para os outros. Já as Katherines, todas, parecem fundir-se em uma instituição; algo com tamanha dimensão na vida de Colin que parece mesmo adquirir ares beirando o místico.

O Teorema Katherine não é um livro que, necessariamente, faz refletir. Na realidade, as reflexões são desenvolvidas ao longo da trama, conduzidas pelos próprios personagens e se desenrolam perante o leitor. O livro “entrega” as respostas, em vez de fazer com que o leitor as procure – o que achei bastante válido e apropriado ao que propõe a trama.

LEIA PORQUE...
A matemática que permeia a história foi realmente uma boa sacada. O apêndice, ao término da leitura, explica melhor a matemática do teorema criado por Colin – apesar de ser um “plus”, vale a pena ser lido.

DA EXPERIÊNCIA...
Leitura ágil e divertida. As notas de rodapé, frequentes ao longo da narrativa, são um atrativo à parte: não são tecnicamente essenciais para a compreensão do todo, mas poxa, tais linhas diminutas fazem toda a diferença! Uma das delícias desta leitura!

FEZ PENSAR EM...
Há séculos não ouvia falar de eixo x, eixo y,... E apesar de sempre ter tido um péssimo relacionamento com números e gráficos, achei bastante interessante a matemática presente no livro.

Título: O Teorema Katherine
Título original: An Abudance of Katherines
Autor(a): John Green
Editora: Intrínseca
Edição: 2013
Ano da obra: 2006
Páginas: 304

De fora para fora #1: Do beijo francês, medo em Barcelona e paixões internacionais

De fora para fora 25 de março de 2013 Aline T.K.M. 12 comentários


Sabe tudo aquilo que você sempre achou romântico? Esqueça.

Romântico mesmo é se atrapalhar ao falar coisas que você nunca se imaginou falando em outro idioma. Ou então tentar explicar – ou entender – aquele prato “estranho” que você ou ele costumam comer nos almoços em família. Romântico é ter que apelar para a mímica na tentativa de traduzir certas expressões e se fazer compreender quase que plenamente. Quase. Porque aí os dois descobrem que uma linguagem chamada química, em muitas ocasiões, é bem mais eficaz que qualquer outro método de quase comunicação. E isso vale também para os casos em que os dois se comunicam perfeitamente no idioma em questão; mesmo assim, a química continua sendo a via mais interessante.

Viver uma historinha “sob outro céu”, em outro país ou continente, não deve ser assim tão diferente do trivial colega novo de curso, ou do amigo do amigo que a gente conhece na festa de aniversário da amiga. E nem o é. Lembra a Anna (a do Beijo Francês)? Ela foi passar uma temporada em uma escola em Paris e acabou se apaixonando pelo irresistível – opinião dela – St. Clair. O que afasta ligeiramente a ficção da vida real é que Anna esteve em uma escola americana; ou seja, perrengues culturais e linguísticos quase zerados mas, infelizmente, nossa colega não descobriu o quão sexy é ter de enfrentar tais “problemas”.

Na maioria das vezes, apaixonar-se durante um intercâmbio trata-se apenas de uma matemática básica: é só pegar as delícias e os dilemas de uma paixão em condições normais e multiplicá-las por dois, por três, por dez..., dependendo da intensidade dos fatores envolvidos.

Só que atenção, eles estão lá em permanência, os dilemas. Nem no coloridinho Anna e o Beijo Francês, o jovem casal está livre das dúvidas e dos obstáculos. Vivendo aquela amizade temperada com "o tal climinha", eles enfrentam as dificuldades já clássicas que impedem um romance do tipo. Claro que ter a Notre-Dame de Paris e o rio Sena como figurantes deixa qualquer situação com uma carga dramática infinitamente maior!

Fora da ficção, as coisas não são tão diferentes e, desolée, podem ser bem piores. Os figurantes variam – London Eye, Ópera de Sydney, rio Liffey, Miami Art Museum, Central Park –, mas os dilemas continuam a dar as caras. De repente, os seis ou os doze meses de intercâmbio, que antes eram um período imenso, já não são suficientes. De repente, a paixão de temporada começa a dar sinais de amor. E, de repente, tudo acontece tão rápido que o medo é inevitável.



Não dá para não pensar naquela vida que deixamos em stand by em algum outro lugar do planeta, onde consideramos ser a nossa casa, com os lugares e pessoas que nos esperam.

Há quem se aventure com laços frouxos e acumule efemeridades mundo afora. Também há os que encontram aquela pessoa que descobriram andar buscando por toda uma vida no lugar errado. Tem gente que acaba juntando os trapos e faz do destino de intercâmbio o lar oficial, com direito a dois bebês e um cachorro, além do ski em família nos fins de semana gelados. E tem gente que retorna na dúvida, deixando para trás um pedaço de si com alguém especial, e trazendo um pedaço desse alguém no coração.

Falei de paixão internacional também em Rambla de Mar, conto de minha autoria publicado na antologia Equinócios de Amor. Duas pessoas improváveis que se conhecem e se encantam sob o sol de Barcelona. Vivem dias “fora da vida real”, sem pensar no depois. Até que o medo se revela um personagem importante e determinador. É chato, mas sempre acontece...

Por mais planos feitos e refeitos, e precauções tomadas, todo intercâmbio é uma aventura por essência. É encontrar o que não se espera ao mesmo tempo em que se espera encontrar um bilhão de outras coisas. E, numa dessas, a gente esbarra em alguém e acontece aquilo que, seja coisa desejada ou não, acaba sempre sendo uma surpresa. O amor não funciona tal qual previsão meteorológica. Não se tem lá muito poder de escolha quando a fada das paixões loucas resolve aparecer para uma visita.

Conheceu aquela pessoa a quem você daria até a pontinha de chocolate do seu Cornetto? Isto aconteceu bem longe de casa? Atire-se nas delícias, meu bem! Se a aventura se prolongou, uma vez passado – ou não – o alvoroço inicial, prepare-se para questões internas do tipo “fico ou volto, volto ou fico?”, “qual dos dois vai abrir mão ‘de tudo’ para começar uma nova vida em outro lugar?”, “será que é mesmo a pessoa certa?”, “se eu tiver que voltar, será que vou perder aquela pessoa para sempre?”... Não querendo ser chata, mas muitos desses questionamentos nascem fadados a ficar sem resposta – ao menos de imediato.

Apaixonar-se em outra língua tem seus encantos; é aquela fruta que deleita quem a prova. E no fim, pouco importa se o beijo é francês, inglês ou alemão. O importante é viver e ser verdadeiro na intensidade. É aproveitar o momento e, chegada a hora de partir, transformar tudo em uma grande amizade. Ou ainda, é ter coragem para driblar os dilemas e saber reconhecer se aqueles lábios estão destinados a ser saboreados pelo resto da vida.


O que é "De fora para fora"? Saiba mais.


Baixo Calão [Réjean Ducharme]

À la française 4 de janeiro de 2013 Aline T.K.M. 3 comentários

Johnny, o narrador, leva uma vida infernal entre sua companheira Exa Torrent e a amiga de todas as horas (e mulher do seu irmão adotivo), que ele chama de Tarazinha. E ainda há Pope, uma garçonete de um bar não muito comportado, com quem Johnny também tem uma relação. Ao encontrar uns escritos, Johnny vê no autor muito de si mesmo e de sua vida. Duas histórias que, inevitavelmente, acabam por se entrelaçar.

Cansado das narrativas convencionais? De leituras fáceis e rapidinhas? Seus problemas acabaram!

Gozações à parte, Baixo Calão é uma leitura, digamos, peculiar. Tudo é visto através dos olhos de Johnny, que parece debochar do amor, desconstruindo-o à medida que ele mesmo parece se decompor.

Vazio. Tudo se situa entre o afeto e o desespero, uma viagem contínua entre extremos. Vivendo no limite, os personagens demonstram, através de golpes físicos e psicológicos, o desespero de amar e o autodesprezo. A atmosfera é pessimista; os amores, errantes e fadados ao fracasso.

A narrativa confunde ao nos transportar brutalmente de uma situação a outra. Os lugares são outros sem que o leitor seja previamente avisado. Muitas vezes, é difícil identificar de qual personagem vêm determinadas falas, ou mesmo a quem o narrador está se referindo. A falta da sensação de “começo, meio e fim” bem definidos deixa a impressão de que nada acontece, nunca.
Complicação extra: o narrador lê, em um manuscrito encontrado por acaso, uma história que se parece estranhamente com a sua, que se mescla a ela, inclusive.
Complicação extra #2: a ausência de capítulos torna o texto cansativo e exige uma leitura continuada, sem pausas muito longas. (Então, nada de esquecer o livro largado durante uns dias e depois querer retomar a leitura!)

LEIA PORQUE...
Apesar desses pontos de confusão, a narrativa é poética. A junção do linguajar baixo e das doses altíssimas de – mais uma vez – desespero dá origem a frases sonoras, muitas vezes com rimas. Por ser tão visceral e também introspectivo, o texto tem seus atrativos para quem gosta dessas características.
Além disso, o autor, o quebequense ou québécois (em francês fica mais charmoso!) Réjean Ducharme, é conceituadíssimo. Conheceu o sucesso desde o início de sua carreira, mas, curiosamente, leva uma vida reclusa há algumas décadas (não concede entrevistas nem faz aparições públicas).

Será que somos todos iguais, que podemos tão mal nos suportar, que só esperamos uma oportunidade para nos jogar. Dentro de algum outro se possível? Será que a salvação é o outro, como não dizia o outro?

DA EXPERIÊNCIA...
Baixo Calão foi uma leitura complexa, demorei mais tempo que o habitual para concluí-la. A densidade do texto e as complicaçõezinhas dele (sem esquecer as “complicações extra”!) fazem com que eu indique o livro apenas ao leitor que tiver curiosidade de ler algo do Ducharme. Ok, até é interessante pela intensidade do texto, mas nada que você não consiga passar sem.

FEZ PENSAR EM...
Neve. E mais um punhado de coisas depressivas. Amor passado do ponto, cujo lirismo murchou, apodreceu. Uma música do Legião Urbana, não lembro qual.

Título: Baixo Calão
Título original: Gros Mots
Autor(a): Réjean Ducharme
Editora: Estação Liberdade
Edição: 2005
Ano da obra: 1999
Páginas: 320

Uma garrafa no mar de Gaza [Valérie Zenatti]

À la française 17 de dezembro de 2012 Aline T.K.M. 3 comentários

Um homem-bomba se explodiu dentro de um café em Jerusalém. Seis corpos foram encontrados. Uma garota, que se casaria naquele dia, morreu junto com o pai "algumas horas antes de vestir seu lindo vestido branco". E Tal não consegue parar de pensar em tudo isso. Tal é uma israelense que, como toda garota de dezessete anos, vive suas primeiras experiências - o primeiro grande amor, as primeiras escolhas profissionais e também o primeiro atentado. Depois de vivenciar esse momento trágico, ela escreve uma carta a um palestino imaginário, coloca em uma garrafa e pede ao irmão, que presta o serviço militar perto de Gaza, para lançá-la ao mar. Algumas semanas depois, recebe a resposta de um certo "Gazaman"...

Quem olha pode não dar tanta atenção dado o tamanho enxuto da obra. Mas atenção aos desavisados: as “modestas” 128 páginas surpreendem.

O leitor é arrancado de sua posição de conforto logo nas primeiras linhas, nas quais a jovem protagonista conta o que sentiu e pensou diante de um atentado em um café próximo de sua casa.
A abordagem do tema é o grande trunfo do livro. Valérie Zenatti coloca um tema delicado na berlinda e, através de uma narrativa acertada, consegue de alguma forma “simplificá-lo”. Entre aspas, porque a autora não torna os conflitos no Oriente Médio mais simples em si; Valérie utiliza de uma narrativa simplificada justamente para mostrar toda a complexidade do tema. Ou seja, à medida em que tudo fica mais claro para o leitor – e, de certa forma, para os protagonistas –, mais perceptível se torna também a dimensão do problema, o quão complexo ele é.

A narrativa é feita quase que inteiramente de maneira epistolar, através dos e-mails entre Tal e “Gazaman”. Os poucos capítulos que não fazem parte das mensagens trocadas, trazem ambos em primeira pessoa deixando-nos conhecer um pouco mais sobre sua percepção da vida e dos acontecimentos que os rodeiam.

É interessante notar como os dois jovens precisam um do outro, mesmo sem saber. Enquanto Tal busca através dos contatos (e da curiosidade e insistência quase infantis) a renovação de uma esperança já desgastada, em Gazaman vê-se o resgate de uma esperança moribunda, latente pela falta de alimento motivador. E é incrível notar como tal amizade – nada provável – faz com que os dois amadureçam ao longo das páginas!

LEIA PORQUE...
Cena do filme Uma garrafa no mar de Gaza
É um livro que merece ser lido. Por mais clichê que possa soar, eu diria que é uma leitura que todo mundo deveria fazer em algum momento da vida. O livro foi adaptado para o cinema e me sinto no dever de dizer que o filme é imperdível. O livro e o filme não são idênticos, há algumas diferenças importantes – no filme, Tal é francesa, apesar de viver em Jerusalém. (Não coloquei o trailer aqui porque achei que ele tem vários "spoilers"...) Não sei dizer se prefiro um ao outro, mas certamente ambos se complementam.

Uma garrafa no mar de Gaza* esteve em cartaz em agosto, na edição 2012 do Festival Varilux de Cinema Francês, em São Paulo (e nas cidades onde ocorreu o Festival). Foi lá que o assisti com a presença do diretor (Thierry Binisti) e da atriz Agathe Bonitzer (a ruivinha da capa do livro), que faz o papel de Tal. Eles estiveram lá durante alguns minutos para comentários e responderam perguntas do público. A previsão de estreia do filme é março de 2013.

*Uma garrafa no mar de Gaza (Une bouteille à la mer, dirigido por Thierry Binisti, França/Israel, 2011)

DA EXPERIÊNCIA...
A sensação foi a de que cada trecho do livro não está lá ao acaso. Eles realmente dizem algo; dizem muito, aliás. O livro não tem a intenção de mergulhar a fundo e detalhar os conflitos árabe-israelenses e suas origens, porém encoraja a buscar saber mais sobre o assunto.

FEZ PENSAR EM...
Coisas que nós, brasileiros, não paramos muito para pensar, definitivamente. Choque cultural. Que a distância e/ou proximidade física não é um parâmetro tão real assim para definir o quanto se sabe de algo. E que sempre há meios de conhecer e entender antes de julgar, até mesmo jogando uma garrafa no mar (por mais maluca que essa ideia possa parecer)...

Título: Uma garrafa no mar de Gaza
Título original: Une bouteille dans la mer de Gaza
Autor(a): Valérie Zenatti
Editora: Seguinte (selo da Companhia das Letras)
Edição: 2012
Ano da obra: 2004
Páginas: 128

A trama do casamento [Jeffrey Eugenides]

Anos 80 23 de novembro de 2012 Aline T.K.M. 4 comentários

Início dos anos 80. Madeleine Hanna adora ler, está prestes a se graduar em Letras e sua monografia trata de romances de casamento estilo Jane Austen. Ironicamente, ela vive uma espécie de triângulo amoroso, dividindo-se entre um cara cheio de problemas e outro cheio de dúvidas (que é, ainda por cima, seu grande amigo). Mitchell Grammaticus imerge em questões existenciais. Leonard Bankhead luta com o mundo e, principalmente, consigo mesmo. Um retrato de uma geração desiludida e plena de incertezas no mundo pós-moderno.

Uma leitura que pode ser encarada através de múltiplos ângulos. O deslocamento dos romances de casamento, do amor romântico, para a contemporaneidade através do triângulo Mitchell-Madeleine-Leonard é um atrativo da trama. As diferenças são claras, mas, ao mesmo tempo, há mais semelhanças do que imaginamos. O amor devoto e idealizado da parte de Mitchell, o problemático e racional Leonard, Madeleine como a mocinha dividida (e não só no amor, aliás).

As aulas de semiótica frequentadas por Madeleine e Leonard Bankhead enriquecem o próprio tema do livro. Porém, no decorrer da história, essa parte toda centrada na trama de casamento acaba ficando dispersa, tornando-se coadjuvante. (Mais ou menos como se a narrativa fosse recheada de extensos parênteses.) Contudo, o livro não deixa de ser delicioso em momento algum.

Um olhar atento aos três personagens-chave revela jovens recém-formados com uma intensa busca em comum: a busca por si próprio, por uma identidade. Como parte essencial de tal busca, Maddy, Leonard e Mitchell testam seus limites. Até onde é possível – ou plausível – ir em nome do que se acredita? A superproteção parental, o amor platônico, a psicose maníaco-depressiva (a qual Leonard chama “a Doença”), as incertezas quanto ao papel da religião na própria vida... Os obstáculos enfrentados se mostram fundamentais na trajetória dos personagens.

LEIA PORQUE...
Cada personagem é trabalhado com maestria – especialmente Leonard Bankhead. Os questionamentos pessoais e profissionais do trio de personagens causam por vezes a sensação de nos encararmos no espelho.
Além de tudo, Jeffrey Eugenides é o autor do aclamado As virgens suicidas (que, aliás, morro de vontade de ler por ter gostado tanto da adaptação por Sofia Coppola).

DA EXPERIÊNCIA...
A trama do casamento foi uma leitura gostosa e que, ao mesmo tempo, fez pensar. Além de me dar uma enorme vontade de ler mais livros do autor – a narrativa do Eugenides me encantou. Mesmo a empolgação nas descrições mais aprofundadas da semiótica e das leveduras (isso mesmo, leveduras, biologia) me agradaram.

FEZ PENSAR EM...
Bandas oitentistas. A volta do Lollo, o chocolate fofinho da Nestlé (sério, tão nostálgico!). Como é bom explorar lugares desconhecidos – a mochilagem do Mitchell é bem legal!

Título: A trama do casamento
Título original: The marriage plot
Autor(a): Jeffrey Eugenides
Editora: Companhia das Letras
Edição: 2012
Ano da obra: 2011
Páginas: 440

Vi na Livraria: Borralheiro (minha viagem pela casa), de Fabrício Carpinejar

Bertrand Brasil 24 de agosto de 2012 Aline T.K.M. 12 comentários


Há alguns anos li, assim por acaso e de um só fôlego, os textos de Canalha!. E foi uma deliciosa descoberta, já que não conhecia nada do autor. Nele, Carpinejar me cativou com o humor de suas crônicas, com a figura do homem dos dias atuais, seu comportamento e seu papel – ambos em constante transformação.
Por isso escolhi Borralheiro para o Vi na Livraria. Uma outra faceta do homem contemporâneo. Um livro que me atrai e que quero, um dia, ler.

BORRALHEIRO (minha viagem pela casa), de Fabrício Carpinejar, Ed. Bertrand Brasil, 2011.
SINOPSE: O homem é o novo dono do lar. O novo romântico. O novo casamenteiro. Não tem vergonha de chorar, lembra a data do primeiro beijo e conhece de cor e salteado onde ficam as toalhas e quais estão secas.

Em 100 crônicas, o escritor confidencia as estratégias divertidas de sedução e faz advertências saborosas, como nunca mexer no umbigo da namorada ou apertar suas bochechas. Em altas doses de lirismo e humor, Carpinejar embarca em uma viagem sem volta pela residência. Passeia por cada cômodo, brincando com as diferenças do comportamento entre marido e mulher e destruindo condicionamentos do sexo e do amor. O escritor não foge de uma boa discussão de relacionamento, tanto que acha que a briga deveria ser profissionalizada com O Dia da DR.

Depois dos sucessos de Canalha! e Mulher Perdigueira, Carpinejar retrata a mudança do comportamento masculino. Descobre agora o Borralheiro, personagem que não se sente menosprezado por cuidar das tarefas domésticas. O autor convida cada um a repensar a rotina e se apaixonar novamente pelo casamento. Se em Canalha!, ele indicava a importância dos bicos da caixa de leite, aqui divide com a mulher copos de requeijão e iogurte.

Para ler algumas das crônicas de Borralheiro, acessem a página do livro.

Resenha: A Delicadeza, de David Foenkinos

Audrey Tautou 17 de agosto de 2012 Aline T.K.M. 13 comentários

Resenha do livro A Delicadeza, de David Foenkinos

Com a canção L’amour en fuite (O amor em fuga), de Alain Souchon, como fundo musical, Foenkinos constrói uma comédia sentimental saborosa.

Nathalie e François viviam o que se poderia chamar de um amor perfeito. Uma felicidade daquelas que despertam admiração dos que a observam e o medo de quem a vive. Depois de sete anos de casamento, a tragédia atravessa a rotina de Nathalie: François morre, deixando a jovem mergulhada numa dor quase insuportável. E a perdida Nathalie encontra-se, no caminho em busca por si mesma, com o não menos confuso Markus.

Nathalie, em um luto aparentemente eterno, é atraente e constantemente assediada pelo diretor da empresa. Markus é um sueco sem muitos atrativos físicos e com um histórico de insucessos amorosos que colaboram para a sua timidez e para a falta de jeito com o sexo oposto. No entanto, ele transmite certa calmaria e possui um senso de humor que se revela aos poucos em frases não muito habituais, mas certeiras. Contrariando todas as expectativas, é com ele e por ele que Nathalie enfrentará a dor da perda e tentará seguir em frente.

5 motivos para ler Nelson Rodrigues

5 motivos para ler 7 de agosto de 2012 Aline T.K.M. 11 comentários


Nelson Falcão Rodrigues, ou simplesmente Nelson Rodrigues, nasceu na cidade de Recife, em 23 de agosto de 1912. Reconhecido como um grande escritor, dramaturgo e cronista, está imortalizado na literatura brasileira. Foi repórter policial, escreveu crônicas, contos, correio sentimental, folhetins, comentário esportivo (era apaixonado por futebol) e artigos opinativos. O teatro entrou em sua vida por acaso, devido a dificuldades financeiras, e aí se consagrou, apesar de suas peças serem constantemente consideradas como obscenas e imorais.
Faleceu no Rio de Janeiro, em 21 de dezembro de 1980.

Nelson Rodrigues completaria 100 anos em 2012. Por ocasião do centenário do autor, vários eventos estão rolando em todo o país. Exposições, peças, leituras, debates... Vale a pena conferir.

E vamos aos 5 motivos...

1. Nelson Rodrigues foi um importante representante da literatura teatral do seu tempo e a peça “Vestido de Noiva” foi um marco no teatro brasileiro moderno por seu caráter inédito. Tendo escrito dezessete peças teatrais, o autor enfrentou problemas com a censura e a polêmica em torno de suas obras, já que o erotismo esteve muito presente. O crítico Sábato Magaldi editou as obras de Nelson Rodrigues em quatro volumes, dividindo-as em três grupos: Peças psicológicas, Peças míticas e Tragédias cariocas. O autor assinava algumas de suas obras sob o pseudônimo Suzana Flag.

2. A originalidade foi um aspecto marcante do autor. Realista em pleno Modernismo, chegou a ser considerado um novo Eça de Queirós. Nelson Rodrigues criticou sordidamente a sociedade e suas instituições, principalmente o casamento, transpondo a tragédia grega (e suas regras) para a sociedade carioca do início do século XX, dando surgimento à contemporânea “tragédia carioca”. O aspecto erótico foi sempre bastante marcante em sua obra.

3. Em vida, acompanhou a adaptação cinematográfica de sua obra, tendo colaborado com o roteiro de “A Dama do Lotação”, “Bonitinha, mas ordinária” e “Álbum de Família”. Foi responsável, também, por escrever os diálogos para os filmes: “Somos Dois”, de Milton Rodrigues, e “Como ganhar na loteria sem perder a esportiva”, de J. B. Tanko.
Ainda, Nelson Rodrigues foi pioneiro na teledramaturgia brasileira com a autoria da novela “A Morta Sem Espelho” para a extinta TV Rio. Outras novelas foram baseadas na obra do autor, como “O Homem Proibido” e “Meu Destino é Pecar”, entre outras, e também a conhecida minissérie “Engraçadinha: seus amores e seus pecados”.

4. A série televisiva “A vida como ela é...” foi baseada nas obras de Nelson Rodrigues (com adaptação de Euclides Marinho e dirigida por Daniel Filho). Fruto de uma apurada observação sobre o mundo, “A vida como ela é...” trazia temas do universo passional. A série foi exibida no programa Fantástico, da Rede Globo, em 1996, com reprise em 1997 e em 2001.

5. Nelson Rodrigues foi autor de inúmeras frases – as “pérolas rodrigueanas”. Suas “mil melhores frases” foram organizadas pelo jornalista e escritor Ruy Castro e publicadas pela editora Companhia das Letras sob o título de Flor de Obsessão.

“Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu.” [Nelson Rodrigues]

PRINCIPAIS OBRAS:
Peças:
Mulher sem Pecado (1941)
Vestido de Noiva (1943)
A Falecida (1953)
Os Sete Gatinhos (1958)
Boca de Ouro (1959)
Beijo no Asfalto (1960)
Toda Nudez Será Castigada (1965)
Teatro Completo (1981-89) – Organização de Sábato Magaldi, 4 volumes

Romances:
Meu Destino é Pecar (1944) – como Suzana Flag
O Homem Proibido (1951) – como Suzana Flag
O Casamento (1966)

Contos:
Cem Contos Escolhidos – A vida como ela é... (1961) – 2 volumes
Elas Gostam de Apanhar (1974)
A vida como ela é... – O homem fiel e outros contos (1992) - Seleção de Ruy Castro

Crônicas:
Memórias de Nelson Rodrigues (1967)
O óbvio ululante (1968)
A cabra vadia (1970)
O reacionário (1977)

Frases / Depoimentos:
Flor de Obsessão: as 1000 melhores frases de Nelson Rodrigues (1997) – Organização de Ruy Castro
Nelson Rodrigues – por ele mesmo (2012) – Organização de Sônia Rodrigues, filha do autor

PARA SABER MAIS:
Nelson Rodrigues: 100 anos – site comemorativo do centenário do autor, da Editora Nova Fronteira
Nelson Rodrigues, o Eterno – matéria da revista Bravo! (edição 173, jan/2012)

Um Amor Para Recordar [Nicholas Sparks]

Literatura norte-americana 4 de julho de 2012 Aline T.K.M. 18 comentários

Cada mês de abril, quando o vento sopra do mar e se mistura com o perfume de violetas, Landon Carter recorda seu último ano na High Beaufort. Isso era 1958, e Landon já tinha namorado uma ou duas meninas. Ele sempre jurou que já tinha se apaixonado antes. Certamente a última pessoa na cidade que pensava em se apaixonar era Jamie Sullivan, a filha do pastor da Igreja Batista da cidade. A menina quieta que carregava sempre uma Bíblia com seus materiais escolares. Jamie parecia contente em viver num mundo diferente dos outros adolescentes. Ela cuidava de seu pai viúvo, salvava os animais machucados, e auxiliava o orfanato local. Nenhum garoto jamais a havia convidado para sair. Landon nem sequer sonhara com isso. Em seguida, uma reviravolta do destino fez de Jamie sua parceira para o baile, e a vida de Landon Carter nunca mais foi a mesma.

Serei bem direta. Sei que o Nicholas Sparks está cheio de fãs e seus livros são bastante adorados mundo afora, mas Um Amor Para Recordar não me causou surpresa e tampouco mexeu com meu lado emotivo.

Não se pode negar que o livro traz uma história bonita. A ideia de que o amor move muitas barreiras e transforma existências também é muito válida. Contudo, a trama cai na obviedade e não demonstra esforço algum para trabalhar melhor os clichês – tudo é entregue muito mastigado para o leitor, que engole e digere sem quase nem perceber.

Um Amor Para Recordar é um livro mela-cueca, sim. Mas não entendam tal característica como sendo necessariamente negativa. Nós, leitores, bem sabemos que existem momentos que pedem leituras do tipo; sendo assim, o livro pode se revelar uma boa pedida dependendo do período ou estado de espírito. Como dizem, cada caso é um caso, e aqui esta afirmativa é bastante adequada.

Ainda, os personagens não são exatamente cativantes, e possuem algo de bastante forçado, até. São “simplificados” em demasia, fazendo com que pareçam carecer da complexidade inerente ao ser humano. Jamie – e os “planos de Deus” – provavelmente irritará nos dias em que nem tudo estiver tão cor-de-rosa na vida do leitor.

Eis um livro cuja adaptação cinematográfica me agradou bem mais que o próprio livro. Um Amor Para Recordar não é uma leitura que eu normalmente recomendaria, salvo em ocasiões e para pessoas bem específicas.

Título: Um Amor Para Recordar
Título original: A Walk to Remember
Autor(a): Nicholas Sparks
Editora: Novo Conceito
Edição: 2011
Ano da obra: 1999
Páginas: 184

Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios [Marçal Aquino]

Companhia das Letras 30 de maio de 2012 Aline T.K.M. 9 comentários

Aos que foram leitores vorazes da série Vaga-Lume, o nome Marçal Aquino provavelmente fará lembrar A Turma da Rua Quinze. Fora os títulos infanto-juvenis, o autor escreveu poesia, roteiros de cinema e romances para o público adulto; isso além de atuar no campo do jornalismo. Mas este post é justamente para falar sobre o livro cuja adaptação estreou nos cinemas recentemente: Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios.

O fotógrafo Cauby se recupera de um trauma numa pensão barata, numa cidade do Pará prestes a ser palco de uma nova corrida do ouro. Sua voz é impregnada da experiência de quem aprendeu todas as regras de sobrevivência no submundo – mas não é do ambiente hostil ao seu redor que ele está falando. O motivo de sua descida ao inferno é Lavínia, a misteriosa e sedutora mulher de Ernani, um pastor evangélico.
A trajetória do fotógrafo, dado a premonições e a um humor desencantado, vai sendo explicada por meio de pistas: a história do fotógrafo Chang; o mistério do jornalista local Viktor Laurence,... Mesmo diante de todos os riscos, Cauby decide cumprir seu destino com o fatalismo dos personagens trágicos.

"Nunca acreditei no diabo", diz ele. "Apenas em pessoas seduzidas pelo mal."


Se o título e a capa – linda, por sinal – já atraem atenções, esperem até devorar esta história, página por página, até o último ponto final. Uma história de amor avassaladora e cheia de particularidades nos é contada em primeira pessoa por Cauby. Outras histórias são contadas em paralelo, como por exemplo, a que une o pastor Ernani e Lavínia – esta, o objeto de amor e desejo de Cauby. Ainda, o relato da história do amor platônico vivido pelo careca, hóspede da pensão, entremeia-se muitas vezes com a história de Cauby, mostrando as dimensões e facetas do amor, e as loucuras que só os que o sentem são capazes de cometer.

Mas a cereja do bolo é Lavínia. Misteriosa e sedutora, ela se desdobra em duas: uma mais recatada e, oposta a esta, uma Lavínia selvagem e cheia de volúpia. Revelou-se uma personagem como poucas vezes presenciei nos livros. Ainda que o texto navegue pelo psicológico de Lavínia, uma aura de mistério permanece intocada – o principal atrativo do livro. Em minha modesta opinião de leitora, vejo em Lavínia traços da Capitu machadiana – no que se refere ao aspecto sedutor e à bruma de segredo que as envolve. Livros e mais livros poderiam ser escritos, ainda assim, admitamos, seria impossível penetrar certos cantos da mente, da alma e do coração de Capitu. E foi de forma semelhante que enxerguei a Lavínia de Marçal Aquino.

Palavras sábias são adicionadas através das citações de um tal professor e psiquiatra Benjamim Schianberg. Este “teórico do amor”, que só existe na ficção, expressa verdades de forma tão direta quanto crua em seus livros, cujos trechos Cauby divide com o leitor:
O professor Benjamim Schianberg, o homem que dizia ocupar-se das “fezes da alma”, escreveu que nos alimentamos tanto do bem quanto do mórbido. No meio disso, ele assunta, existe a poesia.
(Curiosidade: o personagem foi objeto de inspiração para o filme “O Amor Segundo B. Schianberg” - direção de Beto Brant, Brasil, 2009.)

Página de abertura da primeira parte da história
(Imagem: blog prascucuias.com.br)
Outros personagens enriquecem a trama. Em todos eles existe um quê de mistério, como se fossem parte de um intrincado jogo de palitinhos – aquele em que ao tocar um palito erroneamente, acabamos por mover todos os restantes. Ainda, e permeando todo o contexto da trama, há o conflito entre uma companhia mineradora e os garimpeiros, fazendo com que o clima de tensão esteja sempre presente na narrativa. Uma tensão geral, que abala a cidade, caminhando em paralelo com as tensões individuais de cada personagem.

Sem mais, seria injusto não concluir de forma imperativa: leiam Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios o quanto antes!

Trailer do filme Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios (direção de Beto Brant e Renato Ciasca, 2011), cujo roteiro é do próprio Marçal Aquino:


Título / Título original: Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios
Autor(a): Marçal Aquino
Editora: Companhia das Letras
Edição: 2011
Ano da obra: 2005
Páginas: 232

Um Mundo Brilhante [T. Greenwood]

Literatura norte-americana 11 de maio de 2012 Aline T.K.M. 7 comentários

O que fazer quando o mundo em que você vive não é o lugar a que você pertence?

Quando o professor Ben Bailey sai de casa para pegar o jornal e apreciar a primeira neve do ano, ele encontra um jovem caído e testemunha os últimos instantes de sua vida. Ao conhecer a irmã do rapaz, Ben se convence de que ele foi vítima de um crime de ódio e se propõe a ajudá-la a provar que se tratou de um assassinato.
Sem perceber, Ben inicia uma jornada que o leva a descobrir quem realmente é, e o que deseja da vida. Seu futuro, cuidadosamente traçado, torna-se incerto, pois ele passa a questionar tudo à sua volta. Descobre-se insatisfeito em uma posição que vinha mantendo por responsabilidade – mas também por passividade. Enquanto busca a felicidade, consciente de que escolhas precisam ser feitas e atitudes precisam ser tomadas, Ben se envolve em uma rede de mentiras da qual fica cada vez mais complicado sair.


Um Mundo Brilhante proporciona uma visão de camarote de quão frágeis são os aspectos que compõem a vida de uma pessoa – acontecimentos no meio familiar, emprego, relacionamentos. A pessoa em questão é Ben Bailey, mas poderia ser qualquer ser humano na face da Terra.

Fragmentos dolorosos da infância representam uma pesada carga que o personagem leva e, a partir deles, o leitor compreende que o maior problema de Ben tem apenas quatro letras: medo. E talvez seja ele, o medo, o grande responsável por fazê-lo esconder-se em mentiras que só fazem sabotar a si mesmo.

A característica que torna esta uma leitura interessante é a perspectiva bastante realista da vida. O amor é visto de maneira até pessimista, mas sem fugir da realidade. Quando o encanto termina, sempre ficam restos com os quais nem sempre é fácil lidar.

Hoje, o anel de noivado havia se tornado um lembrete constante da maior promessa que ele havia quebrado.

O preconceito e o descaso com a população indígena são abordados – de leve. A questão do crime contra o jovem indígena apenas permeia a história. O foco está mesmo nos conflitos pessoais do protagonista.

A narrativa é bastante envolvente. No entanto, o aspecto introspectivo se faz bem presente, a ação nem sempre é óbvia, o que pode não agradar alguns leitores. Além disso, não estamos diante de uma história de amor e muito menos de um suspense policial. Os dois aspectos apenas acompanham um protagonista que transita na desordem em que se tornou sua vida.

O leitor não deve esperar um final surpreendente, pois, assim como na vida real, nem tudo é feito de surpresas e acontecimentos mirabolantes. Mas pode – e certamente irá – pensar nos rumos tomados pelo protagonista. Este, ironicamente, tem plena consciência do caminho que deve seguir, embora seja ele mesmo o elemento que dificulta a concretização de suas verdadeiras escolhas.

Leitura recomendada aos que gostam de narrativas mais voltadas para um aspecto psicológico, para as questões internas dos personagens. Já aos que se entediam facilmente na falta de grandes reviravoltas ou de um ritmo mais intenso, não aconselharia.

Título: Um Mundo Brilhante
Título original: This Glittering World
Autor(a): T. Greenwood
Editora: Novo Conceito
Edição: 2012
Ano da obra: 2011
Páginas: 336

Para Sempre [Kim e Krickitt Carpenter]

Biografia 2 de maio de 2012 Aline T.K.M. 6 comentários

Para Sempre fala, acima de tudo, de superação. Por se tratar de uma história real, o livro traz certa carga sentimental e nos faz refletir sobre a importância da motivação perante situações difíceis.

A vida que Kim e Krickitt Carpenter conheciam mudou completamente no dia 24 de novembro de 1993, dois meses após o seu casamento, quando a traseira do seu carro foi atingida por uma caminhonete que transitava em alta velocidade. Um ferimento sério na cabeça deixou Krickitt em coma por várias semanas. Quando finalmente despertou, parte da sua memória estava comprometida e ela não conseguia se lembrar de seu marido. Ela não fazia a menor ideia de quem ele era. Essencialmente, a "Krickitt" com quem Kim havia se casado morreu no acidente, e naquele momento ele precisava reconquistar a mulher que amava.

Como narrador, Kim Carpenter conta sua história de amor com Krickitt, como se conheceram, o casamento, e o acidente que mudou a vida de ambos e suas consequências. Ele descreve suas angústias – derivadas do acidente – e faz com que o leitor perceba a grandiosidade de seu amor pela esposa.

Uma característica da obra que não me agradou foi a ênfase que é dada, constantemente, na religião e na fé em deus. Ainda que estes tenham sido aspectos fortes na história de Kim e Krickitt (e lembrando que tudo é narrado por Kim), a impressão é a de que o texto tenta convencer o leitor de que a fé cristã foi a principal responsável pela sobrevivência e recuperação de Krickitt, e ainda, pela reestruturação da vida do casal. Ou seja, as pessoas que cruzaram o caminho do casal, os ótimos profissionais envolvidos, etc, tudo teria sido “colocado” na vida deles por obra da fé. Um pouco demais, não?

Abri o review falando que esta é uma história de superação. E prefiro continuar nesta perspectiva, digamos, mais realista – ou racional, se preferirem. Acredito que, no lugar das palavras “fé” ou “deus”, caberiam muito bem estas outras palavrinhas mágicas: “determinação”, “força de vontade”, “amor”.

Permitam-me abrir um parêntese:
Ao “julgar” o livro pela capa, o leitor espera encontrar “a história que inspirou o filme” – conforme lemos na própria capa. Não vi o filme, portanto não sei apontar as semelhanças e diferenças em relação ao livro e à história real. O que não se imagina, no entanto, é a abordagem através da qual é contada essa história. Somente ao olhar os dados de catalogação no interior do livro, é que vemos como item número 1: “Biografia cristã”. Informação que a capa e a sinopse não transmitem. Se, por um lado, isto pode servir para “aumentar” o público abrangente, no final, a quantidade de leitores decepcionados também é maior. Leitores que, muito provavelmente, não fazem parte do real público do livro. (Um consumidor insatisfeito sempre tem boa memória.)

Para Sempre não foi uma leitura muito marcante em termos positivos. Mas o texto também não é horrível. Tirando todo o aspecto em torno da religião, é interessante observar a reconstrução da vida do casal. O livro ainda reúne características capazes de fazer com que alguns leitores se emocionem. Contudo, e particularmente falando, Para Sempre não conseguiu me causar grande comoção.

Título: Para Sempre
Título original: The Vow
Autor(a): Kim e Krickitt Carpenter
Editora: Novo Conceito
Edição: 2012
Ano da obra: 2012
Páginas: 144

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