Publicado originalmente em 1662, Escola de Mulheres é uma comédia teatral que figura entre os grandes clássicos da literatura.
Em tom satírico, o enredo se passa em pleno séc. XVII; casamento e adultério caminham juntos, e é de conhecimento geral que toda união vem acompanhada de um par de chifres, fato considerado mesmo inevitável e é tratado com certa complacência por parte dos maridos. Arnolfo sabe e comenta sobre seus conhecidos chifrudos, porém teme enormemente chegar um dia a sê-lo – mais que temer, ele não aceita de forma alguma que possa vir a ser traído por uma futura esposa. Então, criou uma jovem desde seus 4 anos de idade em um convento, para torná-la sua esposa. Arnolfo providenciou que a jovem Inês não recebesse educação adequada, fazendo-a idiota, estúpida e extremamente ingênua. Na visão de Arnolfo, é a mulher perfeita para se ter como esposa (já que acredita que as mulheres espirituosas e cultas utilizam-se de sua inteligência para bolar artimanhas para enganar os maridos). Porém o destino lhe prega uma boa peça: Inês e Horácio (filho de um amigo de Arnolfo) se apaixonam perdidamente e Arnolfo acompanha de perto o desenrolar do romance, pois, sem desconfiar de nada, Horácio o faz seu confidente.
Apesar de ter grande interesse em clássicos, as peças teatrais não estão entre minhas leituras preferidas. Li Escola de Mulheres sem grandes expectativas, mas para minha surpresa, a obra me agradou muito e manteve minha atenção do início ao fim. Achei-a divertidíssima, há momentos que são bem capazes de arrancar risadas dos leitores!
O livro traz linguagem simplificada e a leitura é gostosa de ser feita, fluindo rapidamente. Acho legal comentar que, a meu ver, a leitura fácil (e muito prazerosa) deve-se à excelente tradução de Millôr Fernandes. O texto é leve sem perder o espírito do tema tratado e a ironia que o cerca. (Dei uma espiadinha na versão original em francês: o texto é todo em verso e apresenta linguagem antiga – características próprias da época em que foi concebida a obra. Existe também uma outra tradução por Jenny Klabin Segall, que preserva tais características).
Os personagens – assim como as situações – são hilários, em especial o próprio Arnolfo, e também seus criados. A obra é uma sátira (bastante verossímil) e é muito interessante de ser discutida: o tema, mesmo depois de séculos, continua sendo bastante atual (diria que é o tipo de tema atemporal). É engraçado perceber como a ingenuidade de Inês, que deveria evitar o adultério, veio justamente a propiciar tal situação, uma vez que a moça agia puramente por instinto e nada via de errado em ver um rapaz pelo qual nutria paixão – ainda que estivesse destinada a se casar com Arnolfo.
É válido notar como, apesar da fúria e desgosto de Arnolfo, em certos momentos Inês consegue dele atitudes que revelam amor/afeto e disposição em satisfazê-la – lembrando que tudo acontece numa época em que era imposta a total submissão das mulheres, sendo sempre bem clara sua inferioridade em relação ao homem/marido. É, as mulheres sempre tiveram um jeitinho (proposital ou não) de "dobrar" os homens! =P
Bom, no fim das contas, a mensagem principal deste review é simplesmente: ler clássicos pode ser bem divertido! Além disso, Escola de Mulheres está longe de ser o tipo de leitura enfadonha que nos vem à mente (muitas vezes de forma automática) ao ouvirmos falar de obras muito antigas. Segunda mensagem do review, mas não menos importante: vale a pena dar uma chance para aquele gênero literário que não gostamos tanto assim. Como eu mencionei antes, não curto tanto o gênero dramático (teatro), e esta leitura foi uma agradável surpresa – que, inclusive, me deixou curiosa para descobrir outras obras de Molière.
Curiosidade: Escola de Mulheres foi um escândalo na época de sua concepção, e gerou muitas críticas. Em resposta, Molière escreveu nova peça chamada Crítica da Escola de Mulheres (La Critique de l’École des Femmes).
Sobre o autor: Jean-Baptiste Poquelin (mais conhecido como Molière), considerado um dos mestres da comédia satírica, marcou a dramaturgia francesa por suas críticas aos costumes da época. Com fina ironia penetrou profundamente nos sentimentos da alma e expôs as imperfeições inerentes à natureza humana, a sociedade e seus valores. Assim, em meio a situações cômicas e/ou irônicas emergem a pretensão, a arrogância, a soberba, a mesquinhez, a ostentação, o ciúme, demonstrados com sarcasmo cultivado. Com suas comédias de costumes satirizou a França de Luís XIV, os abusos da corte e a mediocridade da sociedade.
Em tom satírico, o enredo se passa em pleno séc. XVII; casamento e adultério caminham juntos, e é de conhecimento geral que toda união vem acompanhada de um par de chifres, fato considerado mesmo inevitável e é tratado com certa complacência por parte dos maridos. Arnolfo sabe e comenta sobre seus conhecidos chifrudos, porém teme enormemente chegar um dia a sê-lo – mais que temer, ele não aceita de forma alguma que possa vir a ser traído por uma futura esposa. Então, criou uma jovem desde seus 4 anos de idade em um convento, para torná-la sua esposa. Arnolfo providenciou que a jovem Inês não recebesse educação adequada, fazendo-a idiota, estúpida e extremamente ingênua. Na visão de Arnolfo, é a mulher perfeita para se ter como esposa (já que acredita que as mulheres espirituosas e cultas utilizam-se de sua inteligência para bolar artimanhas para enganar os maridos). Porém o destino lhe prega uma boa peça: Inês e Horácio (filho de um amigo de Arnolfo) se apaixonam perdidamente e Arnolfo acompanha de perto o desenrolar do romance, pois, sem desconfiar de nada, Horácio o faz seu confidente.
Apesar de ter grande interesse em clássicos, as peças teatrais não estão entre minhas leituras preferidas. Li Escola de Mulheres sem grandes expectativas, mas para minha surpresa, a obra me agradou muito e manteve minha atenção do início ao fim. Achei-a divertidíssima, há momentos que são bem capazes de arrancar risadas dos leitores!
O livro traz linguagem simplificada e a leitura é gostosa de ser feita, fluindo rapidamente. Acho legal comentar que, a meu ver, a leitura fácil (e muito prazerosa) deve-se à excelente tradução de Millôr Fernandes. O texto é leve sem perder o espírito do tema tratado e a ironia que o cerca. (Dei uma espiadinha na versão original em francês: o texto é todo em verso e apresenta linguagem antiga – características próprias da época em que foi concebida a obra. Existe também uma outra tradução por Jenny Klabin Segall, que preserva tais características).
Os personagens – assim como as situações – são hilários, em especial o próprio Arnolfo, e também seus criados. A obra é uma sátira (bastante verossímil) e é muito interessante de ser discutida: o tema, mesmo depois de séculos, continua sendo bastante atual (diria que é o tipo de tema atemporal). É engraçado perceber como a ingenuidade de Inês, que deveria evitar o adultério, veio justamente a propiciar tal situação, uma vez que a moça agia puramente por instinto e nada via de errado em ver um rapaz pelo qual nutria paixão – ainda que estivesse destinada a se casar com Arnolfo.
É válido notar como, apesar da fúria e desgosto de Arnolfo, em certos momentos Inês consegue dele atitudes que revelam amor/afeto e disposição em satisfazê-la – lembrando que tudo acontece numa época em que era imposta a total submissão das mulheres, sendo sempre bem clara sua inferioridade em relação ao homem/marido. É, as mulheres sempre tiveram um jeitinho (proposital ou não) de "dobrar" os homens! =P
Bom, no fim das contas, a mensagem principal deste review é simplesmente: ler clássicos pode ser bem divertido! Além disso, Escola de Mulheres está longe de ser o tipo de leitura enfadonha que nos vem à mente (muitas vezes de forma automática) ao ouvirmos falar de obras muito antigas. Segunda mensagem do review, mas não menos importante: vale a pena dar uma chance para aquele gênero literário que não gostamos tanto assim. Como eu mencionei antes, não curto tanto o gênero dramático (teatro), e esta leitura foi uma agradável surpresa – que, inclusive, me deixou curiosa para descobrir outras obras de Molière.
Curiosidade: Escola de Mulheres foi um escândalo na época de sua concepção, e gerou muitas críticas. Em resposta, Molière escreveu nova peça chamada Crítica da Escola de Mulheres (La Critique de l’École des Femmes).
Sobre o autor: Jean-Baptiste Poquelin (mais conhecido como Molière), considerado um dos mestres da comédia satírica, marcou a dramaturgia francesa por suas críticas aos costumes da época. Com fina ironia penetrou profundamente nos sentimentos da alma e expôs as imperfeições inerentes à natureza humana, a sociedade e seus valores. Assim, em meio a situações cômicas e/ou irônicas emergem a pretensão, a arrogância, a soberba, a mesquinhez, a ostentação, o ciúme, demonstrados com sarcasmo cultivado. Com suas comédias de costumes satirizou a França de Luís XIV, os abusos da corte e a mediocridade da sociedade.
Título: Escola de Mulheres
Título original: L’École des Femmes
Autor(a): Molière
Editora: Paz e Terra
Edição: 1996
Ano da obra: 1662
Páginas: 130