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5 motivos para ler Lolita Pille

5 motivos para ler 8 de outubro de 2012 Aline T.K.M. 12 comentários

Lolita Pille nasceu em Sèvres, na França, no dia 27 de agosto de 1982, filha de pai arquiteto e mãe contadora. Nascida em família rica (mas ela se diz "de classe média"), Lolita passou a adolescência envolta em luxo, frequentando a área vip dos clubs mais badalados de Paris. Levava uma vida de futilidades e excessos de todo tipo. Chegou a começar a faculdade de Direito, que ela logo abandonou. De expressão consideravelmente blasé e de natureza desbocada, é adepta a cigarro, bebida e grifes de luxo. Em uma visita ao Rio de Janeiro em 2005, após provar variantes da caipirinha, a jovem autora disse sem reservas que a caipiroska de Paris "é melhor". Ao passear na Rocinha (com bolsa de grife a tiracolo), a fala da moça, então com 22 anos, foi a seguinte: "Parecem mais felizes do que eu".

5 motivos para ler Lolita Pille...

1. A autora escreveu seus primeiros livros bem jovem e diz que o fez sem pensar muito. No entanto, seu primeiro título (que ela escreveu aos 18 anos), Hell - Paris 75016, fez um baita sucesso e virou best-seller, sendo publicado em vários países. O livro critica o estilo de vida de jovens parisienses abastados, cuja rotina baseia-se em drogas, boates, lojas de grife e promiscuidade. Foi só mais adiante que ela desenvolveu verdadeiro interesse por literatura, sentindo necessidade de ler cada vez mais e de ser mais exigente em relação à literatura.

2. O interessante é que Hell foi baseado no próprio universo da autora, em um período de sua vida já deixado para trás. No livro, Lolita Pille mostra uma juventude de classe alta podre em seus excessos, o que causou barulho e foi motivo de desagrado nesse meio. Em entrevista concedida em fevereiro de 2011, às voltas com o lançamento de seu terceiro livro (Cidade da Penumbra), a autora diz que já não pertence a esse mundinho de Hell. Pelo contrário, aos 29 anos, ela já não mergulha nas loucas badalações de outrora e tem se concentrado mais na carreira literária.

3. Lolita Pille se declara feminista e critica a visão da mulher como um objeto; sobre o universo da cirurgia plástica, ela afirma que "a monstruosidade virou padrão de beleza".

4. Hell - Paris 75016 ganhou versão cinematográfica francesa em 2006, intitulada Hell, dirigida por Bruno Chiche. Curiosidade: no início deste ano, o livro teve adaptação teatral em São Paulo, com direção de Hector Babenco. A peça, de título homônimo ao livro, contou com Bárbara Paz no papel da fútil Hell.

5. Lolita Pille é comentada e causa rebuliço, mas está longe de ser amada. Além de ter sido criticada pela imprensa convencional, ela conquistou considerável antipatia na internet - ela se diz detestada na web. Basicamente porque os internautas a consideram "afiliada ao grande sistema", característica que a autora não atribui a si mesma. Também foi alvo do desagrado de amigos e conhecidos jovens de classe AAA, que não gostaram nada de ver seu estilo de vida retratado com tamanha acidez e "desrespeito" em Hell, e reagiram expulsando Pille desse meio social.

OBRAS:
Hell - Paris 75016 (2002)
Bubble Gum (2004)
Cidade da Penumbra (2008)

Bubble Gum [Lolita Pille]

À la française 12 de julho de 2011 Aline T.K.M. 17 comentários

Confesso que os primeiros capítulos de Bubble Gum não me atraíram, achei que a leitura começou de forma entediante e, por um momento, juro que acreditei que seria assim até o fim do livro. Já praticamente me rendia à decepção, quando o enredo começou a tomar algum corpo e, de repente, me vi curiosa em relação às páginas seguintes.

Manon é uma jovem provinciana que sai do sul da França para tentar a vida como modelo em Paris, começando como garçonete. Derek Delano é herdeiro de uma multinacional do petróleo, aristocrata blasé cujo maior prazer é comprar e manipular as pessoas em jogos cruéis. Atraído por Manon, Derek é seduzido pela ideia de corrompê-la, de estragar seu destino. Afinal de contas, numa vida esvaziada de sentido, a destruição de um ser inocente é um projeto de vida que faz tanto sentido quanto qualquer outro. Graças a ele, Manon realiza o sonho de brilhar como modelo e atriz, mas ao preço da dependência de antidepressivos, cocaína e outros vícios. Mas logo se dá conta da armadilha em que caiu e planeja uma vingança.

Tudo é narrado em primeira pessoa por Manon e Derek, que se alternam em cada capítulo. Porém, não importa qual dos dois está narrando, o sentimento constante ao longo da leitura é o mesmo: raiva. Raiva por Manon ser tão estúpida, ter uma cabecinha tão pequena e ser altamente influenciável. E raiva por Derek e sua arrogância, sua crueldade e calculismo. Além disso, ambos parecem totalmente desprovidos de sentimentos e extremamente egocêntricos, até dignos de pena. Um ponto importante: não espere muita coisa em relação à narrativa, ora muito superficial, ora irritante (há trechos com frases bem longas, que poderiam até ser consideradas “descartáveis”). Por outro lado, esse aspecto do texto pode ser compreendido como muito próprio dos personagens (já que lemos tudo em primeira pessoa), com divagações e ideias que se interrompem e se cruzam.

Porém, e apesar dos meus comentários um tanto negativos, terminei o livro considerando-o muito bom. Através dos personagens, vemos críticas à sociedade e seus valores, além da real obsolescência de tudo o que é considerado valioso – fama, poder, sucesso. Bubble Gum nos mostra de forma cruel que tudo pode ser manipulado e que as pessoas não passam de meros objetos, como personagens de um filme. A tênue linha que separa o que é real do que não é por vezes torna-se mesmo invisível, de forma que a realidade faz-se passível de ser construída, e aí se incluem as pessoas e até mesmo suas emoções. Na orelha do livro há uma frase que ilustra muito bem essa ideia: “Quando a existência tem a profundidade de um pires, até as angústias são pré-fabricadas” – por Luciano Trigo.

Bubble Gum é o tipo de livro em que nada é o que parece ser. O desfecho surpreende. A antipatia que senti no início e o texto não muito agradável foram superados pela forma como os acontecimentos se desenrolam. Para concluir, afirmo que essa leitura revelou-se uma experiência verdadeiramente interessante.

Título/Título original: Bubble Gum
Autor(a): Lolita Pille
Editora: Intrínseca
Edição: 2004
Ano da obra: 2004

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