“Esta história é sobre Tessalônica, a segunda cidade da Grécia. Em 1917, a população era composta por cristãos, muçulmanos e judeus. Três décadas depois, sobraram apenas os cristãos.”

Em 1917, Dimitri Komninos nasce enquanto o fogo devasta a cidade de Tessalônica. Filho de um rico comerciante de tecidos, o garoto é educado para a vida aristocrática, mas decide fugir com o exército durante a Segunda Guerra. Katerina, bordadeira de renome e melhor "modistra" da cidade, é uma refugiada da Ásia Menor e se perde da mãe ainda criança.
Dimitri e Katerina se conhecem quando crianças em uma vizinhança que reúne judeus, cristãos e muçulmanos, gregos antigos e gregos “novos”. Sem saber, eles têm suas vidas unidas por uma força sem igual.
Acompanhando a vida desses dois personagens, o leitor é convidado a mergulhar na história grega recente: desde a guerra com a Turquia, e a troca de populações que a sucedeu, até as batalhas contra os nazistas e os horrores da guerra civil.

O Fio é um daqueles livros que trazem muitas histórias em uma só, todas elas meticulosamente entrelaçadas e, ao mesmo tempo, fundindo-se com seu pano de fundo. Aliás, bem mais que mero pano de fundo, a Grécia – mais especificamente, a cidade de Tessalônica – é o verdadeiro “fio” que conduz os personagens em suas trajetórias.

Numa Grécia de calamidades políticas, em que o calor do verão é tão opressivo quanto à ditadura, e o antissemitismo, uma sombra a marcar gerações, o leitor acompanha os horrores de eventos que devastaram o país ao longo do século XX.
As desilusões, as esperanças e a força de sentimentos mil levam o leitor a criar laços de afeto e mesmo se apropriar de Dimitri, Katerina, Olga, Pavlina, Eugenia, e da família Moreno. E a torcer pela reconciliação e pelo reencontro, e, sobretudo, por uma história de amor capaz de atravessar distâncias e de sobreviver à implacável ação do tempo.

O Fio é uma história de amor e desamor, de perdas e de resiliência; é a história de um povo – composto por tantos outros povos –, da paixão por um ofício e de um dom. É também a história de mulheres cuja sobrevivência depende, muitas vezes, de sua submissão e de seu silêncio, um silêncio sempre carregado de dor.


Mesmo que os personagens e muitos dos lugares citados não passem de ficção, todos os eventos históricos narrados são verdadeiros.

O drama não é pouco; apesar das mazelas vividas pela população e dos tantos infortúnios que pairam sobre cada um dos personagens, a narrativa mantém um ritmo envolvente em toda sua extensão.

Contrastes. E em quando conheci a incrível Atlantis Books, na Grécia.

Título: O Fio
Título original: The Thread
Autor(a): Victoria Hislop
Editora: Intrínseca
Edição: 2013
Ano da obra: 2011
Páginas: 368

Hoje vim falar de uma livraria que conheci em uma viagem especial. Em junho de 2012 passei uns dias na ilha de Santorini, Grécia (realização de um sonho!) e, lá, conheci a Atlantis Books.

Localizada no vilarejo de Oia, conhecido pelo pôr do sol mais famoso de Santorini, a Atlantis Books festejou seus 9 aninhos de vida em janeiro de 2013. É um daqueles cantinhos que fogem um pouco do convencional e atraem pelo charme único, sem falar no visual paradisíaco do entorno. Mas as particularidades não param por aí. Vocês sabiam que eles produzem livrinhos para serem enviados como se fossem cartões-postais? Receber um desses deve ser a coisa mais adorável do mundo!



DO NASCIMENTO DA ATLANTIS BOOKS

A Atlantis Books nasceu de repente quando, ao passar uns dias em Santorini na primavera de 2002, Oliver e Craig perceberam ali a ausência de livrarias. Entre um gole de vinho e outro, surgiu a ideia de abrir uma. O nome, Atlantis Books, foi sugestão do Oliver.

Durante um ano, a ideia foi propagada e amadureceu, enquanto Craig e Oliver chegavam ao fim de seus estudos universitários. Aos dois, juntaram-se Tim, Chris e Maria. Economizaram, foram à procura de livros, quitaram dívidas, escreveram, leram, pensaram... Will juntou-se ao grupo, oferecendo-se para criar o website e o logo da livraria.

Ano Novo, a trupe desembarcou no vilarejo de Oia, em Santorini. Acharam um local vazio com vista para o pôr do sol (magnífico, diga-se de passagem); uns copos de uísque depois, assinaram o contrato de locação. Resolveram os trâmites burocráticos para abrir o negócio. Acharam também um gato e um cachorro, mais alguns amigos, montaram prateleiras, colocaram um barco no terraço e encheram de livros o simpático lugar. Jenny chegou em abril e pintou tudo de azul.

Na primavera de 2004, a Atlantis Books abriu suas portas. Um ano depois, mudaram-se para o centro do vilarejo e se integraram totalmente à comunidade. A livraria abrigou festivais gastronômicos e de cinema, leituras de autores no terraço, e ainda hospedou cães e gatos.



LIVRINHOS QUE VALEM POR UM CARTÃO-POSTAL

A Paravion Press, editora fundada pela Atlantis Books, publica narrativas curtas diversas em livrinhos, concebidos para que as pessoas os comprem e os enviem por correio aos amigos e familiares, como se fosse um cartão-postal – inclusive, o tamanho é igual ao de um cartão-postal.



Com mais de uma dezena de títulos publicados, cada livrinho vem com um envelope, pronto para ser enviado. Trazem também uma página em branco para dedicatória, caso a pessoa queira escrever algumas palavras para o destinatário. Os livrinhos são um mimo, alguns são especialmente ilustrados. Publicados em edições limitadas, possuem acabamento feito à mão e incluem um marcador de páginas da loja.



Por ocasião das festas de fim de ano de 2012, e dado o sucesso da edição de Natal do ano anterior, foi feita uma segunda impressão – nesses livrinhos formato "cartão-postal" – do conto Os Mortos* (The Dead), de James Joyce, com ilustrações exclusivas.

*O conto Os Mortos faz parte do livro Dublinenses, cujo review vocês podem ler aqui.

Recentemente, a Atlantis Books entrou na listinha das 20 livrarias mais belas do mundo, feita pelo site Flavorwire.

Visitem o site da livraria Atlantis Books.
Mais fotos? Visitem a galeria da Atlantis Books no Flickr.

Na ilha vulcânica (e inabitada) de Nea Kameni, com Santorini ao fundo.

Créditos das fotos: algumas fotos são da galeria da própria Atlantis Books no Flickr; outras são do site da livraria; as do livrinho são daqui.
As fotos de Oia foram tiradas por mim, bem como algumas da livraria (as mais ruinzinhas: tiradas com o celular porque àquela hora a bateria da câmera já tinha acabado).