A Importância de Ser Prudente [Oscar Wilde]
Civilização Brasileira 7 de maio de 2013 Aline T.K.M. 12 comentários
Inglaterra, século XIX. Para escapar da imagem de homem respeitável e das inúmeras obrigações enquanto tutor da sobrinha Cecília em sua casa de campo, João Worthing inventa a existência de um irmão mais velho um tanto problemático, chamado Prudente. Assim, ele consegue ir a Londres e lá desfrutar de alguns prazeres que só a cidade grande oferece; também aproveita para cortejar Gwendolen, prima de seu amigo Algernon Moncrieff – bem-nascido e tremendo perdulário.
Algernon, a seu turno, inventa um amigo doente – Bunbury – e o utiliza como desculpa para se desvencilhar de compromissos sociais indesejáveis, principalmente os que envolvem sua tia, Lady Bracknell. Ao se inteirar da bela sobrinha de João, Algernon assume a identidade do imaginário Prudente para procurá-la na casa de campo e poder cortejá-la. No mesmo momento, porém, João chega à casa de campo anunciando a morte de seu irmão Prudente, o que constitui uma rede de mal-entendidos.
Com Cecília apaixonada por Algernon/Prudente e Gwendolen apaixonada por João/Prudente, os dois amigos deverão lidar com a confusão para manter as identidades paralelas a fim de conquistar as garotas, sem descuidar de sua imagem e prestígio social.
Personagens estereotipados e bastante caricatos juntam-se ao típico humor britânico nesta comédia de costumes do escritor/dramaturgo/poeta irlandês Oscar Wilde. Em A Importância de Ser Prudente, Wilde satiriza tanto a alta sociedade quanto a camada popular; tampouco ficam de fora as instituições – como o casamento e a família –, o clero, a etiqueta, o moralismo e até a própria literatura.
A crítica aparece de maneira sutil, mas não menos hilária. Os trocadilhos e as reviravoltas dão o tom cômico exigido pela própria situação da trama.
ALGERNON. É um trabalho terrivelmente duro não fazer nada. Mas não me importo de trabalhar duramente, contanto que não haja objetivo definido.
As reviravoltas, aliás, aparecem sem economia; as mentiras e ações dos personagens se acumulam, fazendo do confronto final um mal necessário e inevitável. Chamá-lo de mal, entretanto, parece injusto, já que um confronto viria a desfazer os diversos malfeitos.
A recompensa, aqui, não é dirigida às virtudes, estas praticamente ausentes – pelo menos em um plano consciente. Um desfecho recompensador seria mais consequência da resolução dos erros cometidos.
As moças enxergam no nome a própria personificação da prudência, embora a característica esteja em falta; os homens desejam ser Prudente sem realmente compreender a essência – e a importância mesmo – de sê-lo. Depois de muita confusão e grandes surpresas, só mesmo alguém prudente merece ser genuinamente chamado de Prudente.
LEIA PORQUE...
Há genialidade na crítica feita por Wilde. O humor britânico se faz notar por seu aspecto afetadamente comedido, fazendo o cômico parecer ainda mais cômico.DA EXPERIÊNCIA...
Ainda que teatro não esteja entre os meus gêneros de predileção, não posso deixar passar em branco o quão divertido foi acompanhar as peripécias e confusões de João e Algernon na Inglaterra vitoriana.Para quem quiser “incrementar” a experiência, existe uma adaptação para o cinema cujo título em português é Armadilhas do Coração. Produzida em 2002, tem direção de Oliver Parker – mesmo diretor de outras duas obras de Wilde: O Marido Ideal (1999) e O Retrato de Dorian Gray (2009).
FEZ PENSAR EM...
Finalmente li algo do Oscar Wilde! E percebi que não é à toa que o escritor tem uma estátua no parque Merrion Square, em Dublin (da qual nunca tirei foto – regrets mode on).
Estátua de Oscar Wilde - reparem no sorrisinho travesso - no Merrion Square (Dublin, Irlanda). |
Título: A Importância de Ser Prudente
Título original: The Importance of Being Earnest
Autor(a): Oscar Wilde
Editora: Civilização Brasileira
Edição: 2005 – 4ª edição
Ano da obra: 1895
Páginas: 96