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Quote da quinzena #26

Julian Barnes 19 de março de 2015 Aline T.K.M. 2 comentários


Esperei tanto por este momento! Finalmente dividirei com vocês alguns trechos de um dos melhores livros que li nos últimos anos: O sentido de um fim, do Julian Barnes (gênio!). Aliás, não sei se vocês lembram, mas foi com este livro que Barnes ganhou o Man Booker Prize em 2011.

Já comentei com vocês que Julian Barnes é um dos escritores do meu top 10; o cara escreve muito e as tramas criadas por ele incitam o pensar, sem falar que sua narrativa traz um sarcasmo que já não vivo sem. Em O sentido de um fim, o autor nos apresenta um protagonista nos seus sessenta e tantos anos que percorre as lembranças de sua vida, enquanto fala sobre o tempo, a juventude e a memória.

Deliciem-se com os quotes (são vários, não resisti!) e, em seguida, leiam a resenha do livro. Garanto que não irão se arrepender!

Esse é um dos principais problemas da história, não é, senhor? A questão da interpretação subjetiva versus a interpretação objetiva, o fato de que nós precisamos conhecer a história do historiador a fim de entender a versão que é colocada diante de nós.

Eu sem dúvida acredito que todos nós sofremos traumas, de um jeito ou de outro. [...] Alguns admitem o trauma e tentam atenuá-lo; alguns passam a vida tentando ajudar outras pessoas que foram traumatizadas; e há aqueles cuja principal preocupação é evitar sofrer mais traumas, a qualquer custo. E estes é que são cruéis, é deles que temos que nos precaver.

Algum inglês disse que o casamento é uma refeição comprida e sem graça onde servem o pudim primeiro. Acho isso cínico demais.

Mas você se vê repetindo “Eles crescem tão depressa, não é?”, quando o que está mesmo querendo dizer é: o tempo passa mais depressa para mim agora.

Mas por que deveríamos esperar que a idade nos abrandasse? Se não cabe à vida recompensar o mérito, por que caberia a ela proporcionar-nos sentimentos termos e confortadores perto do seu final? A que propósito evolucionário a nostalgia poderia servir?

Entretanto... quem foi que disse aquilo sobre “a pequenez da vida que a arte exagera”? Houve um momento quando estava me aproximando dos trinta anos em que eu admiti que meu amor por aventuras já tinha acabado há muito tempo. Eu jamais iria fazer as coisas que havia sonhado na adolescência.

Mas o tempo... como o tempo primeiro nos prende e depois nos confunde. Nós achamos que estávamos sendo maduros quando só estávamos sendo prudentes. Nós imaginamos que estávamos sendo responsáveis, mas estávamos sendo apenas covardes. O que chamamos de realismo era apenas uma forma de evitar as coisas em vez de encará-las.

E não, não era vergonha o que eu sentia agora, nem culpa. Era algo mais raro na minha vida e mais forte do que ambos: remorso. Um sentimento mais complicado, ácido, primitivo. Cuja principal característica é que nada pode ser feito para consertar: já se passou tempo demais, já se causaram danos demais, para que se possa fazer algum conserto.

O que eu sabia da vida, eu que tinha vivido tão cautelosamente? Que não tinha ganhado nem perdido, mas apenas deixado a vida acontecer? Que tinha as ambições costumeiras e que havia me conformado tão depressa com o fato de elas não se realizarem? Que evitava o sofrimento e chamava a isso de capacidade de sobreviver? Que pagava as contas, mantinha boas relações com todo mundo na medida do possível, e para quem êxtase e desespero logo se tornaram simplesmente palavras um dia lidas em romances? Uma pessoa cuja autocrítica nunca causou realmente dor? Bem, havia tudo isso para pensar, enquanto eu suportava um tipo especial de remorso: um sofrimento imposto finalmente a alguém que sempre achou que sabia como evitar o sofrimento – e imposto exatamente por esse motivo.

O sentido de um fim, de Julian Barnes


Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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2 comentários

  1. "Algum inglês disse que o casamento é uma refeição comprida e sem graça onde servem o pudim primeiro. Acho isso cínico demais."

    Muito bom!

    Beijinhos, Helana ♥
    In The Sky, Blog / Facebook In The Sky

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