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Todas as manhãs do mundo [Pascal Quignard]

À la française 2 de maio de 2014 Aline T.K.M. 4 comentários

Retratando – de maneira romanceada – duas figuras históricas da música clássica, Sainte Colombe e Marin Marais, Todas as manhãs do mundo aborda a delicada relação entre mestre e discípulo.

Século 17. O ano é 1650: época de Luís XIV, das perucas elaboradas e do excesso de pompa. O senhor de Sainte Colombe, viúvo e exímio tocador de viola da gamba (nome italiano que significa “viola de perna”), leva uma vida austera no campo ao lado das duas filhas. De poucas palavras, tem dificuldade em expressar seus sentimentos e frequentemente é tomado por crises explosivas de cólera. Para ele, a música “de verdade” só é possível se tiver como base a dor e o sofrimento; desta maneira, abomina a música feita para o entretenimento do rei, bem como os próprios músicos da corte.

O jovem Marin Marais é o extremo oposto disso. Ligado à Corte, alguns reveses fazem com que o jovem e talentoso músico busque Sainte Colombe e lhe peça que o aceite como discípulo. O reconhecimento que têm os músicos do rei lhe agrada, fazendo com que não seja bem recebido logo de sua primeira visita àquele que viria a se tornar seu mestre.

Realidade e ficção se misturam em um romance que tem na música um importante pano de fundo para a relação entre os dois músicos, o verdadeiro centro de toda a trama. O reduzido número de páginas revela uma história pautada no sofrimento e nas variadas dimensões do amor. Longe da superficialidade, os personagens são densos e carregam dores complexas, cada qual a sua maneira.

Ainda que coadjuvantes, as filhas de Sainte Colombe exercem papel importante ao longo da trama. Inclusive, envolvendo o jovem Marin Marais – que também na vida real foi discípulo de Sainte Colombe. Uma das personagens mais interessantes, Madeleine (a filha mais velha) nos mostra como podem ser devastadoras as consequências de um amor intenso acompanhado da desilusão.

A fluidez da narrativa – preocupada em situar o leitor, mas sem ser excessivamente descritiva – faz com que nos concentremos, sobretudo, nos sentimentos dos personagens. Sentimentos que também são experimentados pelo leitor: impossível não compartilhar da emoção, e também da frustração, que caracterizam os “encontros” de Sainte Colombe com a esposa falecida.

Todas as manhãs do mundo fala de maturidade e de solidão, de arrependimento e também de amor. E mostra a dor como a grande força motriz de tudo.

LI EM FRANCÊS


Li para o curso de francês e foi uma leitura relativamente simples. Recomendo para quem já tem algum domínio do idioma – certas nuances sentimentais da trama podem passar despercebidas caso a leitura não se faça de forma fluida.

Edição lida: Tous les matins du monde, de Pascal Quignard, Gallimard (Collection Folio nº 2533), 1993.
Onde comprar em francês: Livraria Cultura


LEIA PORQUE...
Traz personagens reais, embora a trama seja romanceada. Além disso, é interessante ver como a música – com todo o seu aspecto intangível – nos é mostrada ao longo das páginas, ganhando cor e forma impensáveis.

DA EXPERIÊNCIA...
Ainda que não seja um livro de interesse universal, vale a pena pela beleza e sensibilidade da trama.

Em tempo: recomendo que assistam à adaptação, que leva o mesmo nome do livro e tem direção de Alain Corneau. Depardieu pai e filho interpretam Marin Marais em diferentes momentos da vida.

FEZ PENSAR EM...
Como discutido na aula de francês, é possível traçar um paralelo bastante interessante entre alguns momentos da trama e o mito de Orfeu e Eurídice – prestem atenção em Sainte Colombe e seus pequenos rituais em busca da esposa.

Título: Todas as manhãs do mundo
Título original: Tous les matins du monde
Autor(a): Pascal Quignard
Tradução: Pedro Tamen
Editora: Rocco
Edição: 1993
Ano da obra: 1991
Páginas: 94
Onde comprar: Estante Virtual

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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4 comentários

  1. Oi Aline!!
    Esse livro parece ser realmente marcante, nunca pensei na dor dessa maneira, como a "força motriz de tudo"... ainda estou sofrendo para aprender o inglês, mas o francês parece ser uma lingua lindissima!!
    Beijos

    http://girlfreakbooks.blogspot.com/

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    Respostas
    1. Francês é tudo! ^^ Gosto de idiomas de maneira geral, mas com o francês a identificação foi total hehe. Esse livro é mesmo bonito, e é bem curtinho, bom para quem gosta de tramas profundas, mas que não curte longas e minuciosas descrições.

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  2. Assisti o filme Morfeu, o nacional...
    Fiquei curiosa só porque gostei bastante do contexto que a história dos dois tem...
    Gostaria de ler e saber um pouco mais a respeito.

    http://soubibliofila.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Nunca assisti ao Orfeu nacional, apesar de lembrar bem de algumas imagens do filme, da época do lançamento. Não sou nenhuma conhecedora de mitologia, mas o pouco que sei sobre esse mito me deixou encantada, história muito bonita, e é incrível mesmo como a semelhança é grande com algumas partes deste livro.

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