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Por que você precisa ver o filme Much Loved no cinema

Filmes 10 de novembro de 2016 Aline T.K.M. Nenhum comentário

Filme Much Loved, de Nabil Ayouch

Much Loved, filme de Nabil Ayouch que estreia hoje nos cinemas, retrata sem tabu o cotidiano de jovens prostitutas marroquinas e a dura realidade que enfrentam – por sua forma de sustento e por serem mulheres. O resultado vale ser visto e pensado com atenção, pois o que se tem aqui é o que acontece fora da ficção com tantas mulheres em sociedades opressoras – tanto que o filme foi censurado no Marrocos e as atrizes, ameaçadas.

Um dos mais aclamados diretores marroquinos, Nabil Ayouch entrevistou mais de 300 prostitutas para compor o longa, que é mais um fragmento da vida diária dessas mulheres do que uma história com começo, meio e fim. Inseparáveis, apesar dos desentendimentos do dia a dia, Noha, Randa e Soukaina – e, mais adiante, Hlima – ganham a vida se prostituindo em Marrakech. Entre enfrentar o desprezo de uma sociedade repressora da sexualidade e da mulher, e serem humilhadas por clientes árabes ricos e desumanos, essas mulheres ainda possuem fibra para lidar com a hipocrisia e para desejar, lá no fundo, uma vida melhor.

A realidade nem sempre é suave com todos, nem sempre é prazerosa de ser contemplada. Mas deve ser vista, propagada e refletida. É por isso, e pelos aspectos que listo a seguir, que acredito que Much Loved é um filme que precisa ser visto.

QUARTETO MAIS QUE FANTÁSTICO

Filme Much Loved, de Nabil Ayouch

Noha, Randa, Soukaina e Hlima, as jovens prostitutas marroquinas interpretadas por Loubna Abidar, Asmaa Lazrak, Halima Karaouane e Sara El Mhamdi-Elalaoui, respectivamente, são o ponto de luz no meio de um entorno desolador.

Através dos gestos, olhares e nuances na fala das personagens, percebemos mulheres tão jovens e calejadas de uma dolorosa experiência de vida, mas que também conservam algo de meninas em seu interior. Se quando trabalham as vemos em roupas ousadas, maquiagem carregada e usando um vocabulário muitas vezes chulo, dentro da casa que dividem os pijamas são cor-de-rosa e os filmes são românticos – um vislumbre do que há no mais íntimo delas.

Seja em uma triste conversa com Deus ou na esperança de encontrar um pai ausente desde sempre, os desejos dessas mulheres vão ao encontro da dignidade que, um dia, sonham ter.

As atrizes são maravilhosas e conseguem exalar a alma dessas personagens. Também a câmera, terna, contribui no todo, abraçando as protagonistas e nos deixando arrebatados pela intensidade com que essas jovens prostitutas são retratadas. Closes que revelam uma beleza crua, assim como o tom do filme; olhares às vezes perdidos se alternam com o lampejo de esperança e a braveza que ainda resta nelas.

NOHA, A PERSONAGEM INTERPRETADA POR LOUBNA ABIDAR

Loubna Abidar em Much Loved, de Nabil Ayouch

A mais velha – ainda assim, suficientemente jovem – e a líder das quatro prostitutas, Noha é uma mulher de inúmeras facetas. Por um lado, a determinação e a máscara usada à perfeição no trabalho; por outro, a melancolia em seu núcleo familiar, onde não é aceita por sua profissão mesmo sendo quem provê o sustento da mãe, dos irmãos e do filho pequeno – com quem evita aproximar-se demais, dada a impossibilidade de exercer seu papel de mãe.

Além dos clientes sauditas, que usam do dinheiro para submetê-la a todo tipo de humilhação, Noha ainda é vítima do abuso de policiais corrompidos em uma Marrakech hipócrita, em um país e uma cultura em que as mulheres não têm voz.

RETRATO DA REALIDADE E PROIBIÇÃO NO MARROCOS

Filme Much Loved, de Nabil Ayouch

Retrato da realidade e da posição ocupada pela mulher em muitas sociedades mundo afora, Much Loved revela a violência e a degradação a que as mulheres são submetidas.

Nabil Ayouch não parte para julgamentos nem aponta dedos ao revelar o cotidiano dessas jovens prostitutas, sem adornos nem excesso de sentimentalismo. Apenas a realidade crua de uma condição que as trata de forma bruta. O filme ainda toca na questão da homossexualidade - que no Marrocos é crime, com pena de até três anos de prisão – e da exploração sexual infantil.

Mostrar a verdade, porém, também tem seu preço. Much Loved, exibido no Festival de Cannes em 2015, foi proibido no Marrocos antes mesmo do pedido de autorização para sua distribuição. A justificativa dada pelo governo islâmico é de que o filme depreciaria os valores morais e a mulher marroquina, bem como a imagem do Marrocos. Mais uma amostra da opressão feminina e da negação por parte das autoridades e da população em geral, em um país conhecido pelo turismo sexual.

Além disso, o diretor e as atrizes foram constantemente ameaçados de morte. Loubna Abidar, a protagonista do filme, chegou a ser agredida na rua e foi hostilizada pela polícia, além de ter atendimento médico negado. Depois disso, a atriz decidiu deixar o Marrocos e se mudar para a França.

ALVOROÇO E MELANCOLIA, SUPERFÍCIE E ABISMO

Filme Much Loved, de Nabil Ayouch

Festa. As jovens prostitutas marroquinas dançam, riem alto, flertam e se mostram atrevidíssimas. Um olhar menos atento arriscaria dizer que elas se entregam ao aparente prazer e curtem o momento com os clientes, árabes endinheirados e arrogantes, que lidam com elas como se não fossem seres humanos à sua altura. A música da festa é sobreposta por uma outra, de atmosfera melancólica e que só o espectador ouve – reflexo da melancolia que essas jovens carregam dentro de si, das condições em que vivem e de tudo a que se submetem.

Cenas assim não são raras no filme de Ayouch. A superfície, tão rasa, tenta ocultar o abismo avassalador que há por baixo. Essas jovens também fazem alvoroço ao tentarem pegar dinheiro no chão, notas que os homens atiram uma após a outra para verem-nas competindo para capturá-las como animais disputam um pedaço de carne. O mesmo acontece quando um deles atira uma joia na piscina e essas jovens – e dezenas de outras – se jogam na água para tentar pegá-la. Tudo com muita algazarra e risadas. Tristes e falsas.

TRAILER E SINOPSE


No Marrocos, em meio à melancolia e à solidão, quatro prostitutas, Noha (Loubna Abidar), Randa (Asmaa Lazrak), Soukaina (Halima Karaouane) e Hlima (Sara El Mhamdi-Elalaoui), se juntam e formam uma família improvisada. Vistas como objetos, elas se unem e compartilham os problemas cotidianos, sustentam as famílias – que têm vergonha delas – e protegem umas às outras em uma sociedade que não dá voz às mulheres e que é imperdoável com as que encontram na prostituição o seu ganha-pão.

Much Loved (Much Loved) – 104 min.
Marrocos, França – 2015
Direção: Nabil Ayouch
Roteiro: Nabil Ayouch
Elenco: Loubna Abidar, Asmaa Lazrak, Halima Karaouane, Sara Elhamdi Elalaoui, Abdellah Didane, Carlo Brandt, Danny Boushebel

Estreia: 10 de novembro

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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