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12 filmes para pensar sobre a questão de gênero

Céline Sciamma 29 de março de 2016 Aline T.K.M. 8 comentários

12 filmes para pensar sobre a questão de gênero

De um lado, mentes mais libertas quanto ao binário de gênero; de outro, o preconceito e a crueldade vinda do conservadorismo, do medo da diversidade. Bem, se as cabecinhas engessadas ainda brigam pela ideia de um gênero determinado no nascimento e imutável, a realidade nos mostra um cenário bem diferente: o mundo cada vez mais caminha para a abolição das normas estabelecidas – e a de gênero é apenas mais uma delas.

A questão de gênero está aí para quem quiser ver e, acreditem, precisa ser vista. A transexualidade é real e faz parte da vida. Não aceitá-la implica em preconceito e marginalização – coisas que são impensáveis se queremos um mundo mais justo no futuro. Utópico, mas ainda assim.

Se a adolescência já é uma fase difícil, para um jovem transexual a confusão e os dilemas certamente são ainda piores. Ou então um adulto com uma vida mais ou menos estabelecida, que decide assumir sua identidade sexual, que manteve até então escondida. Cada vez mais, situações como essa têm sido retratadas em várias produções para as telonas, desde as mais mainstream até as superalternativas.

Bem, sem mais delongas, 12 filmes para a gente pensar sobre a questão de gênero, transexualidade, identidade sexual, como queiram...:

1. UMA NOVA AMIGA
Une Nouvelle Amie, de François Ozon, França, 2015

Claire (Anaïs Demoustier) tinha Laura como sua melhor amiga. Parceiras desde a infância, as duas eram inseparáveis. Quando Laura fica doente e morre, Claire se aproxima de seu marido, David (Romain Duris), e surpreende-se ao descobrir o segredo íntimo do viúvo. O filme é uma adaptação livre do conto homônimo da inglesa Ruth Rendell.

PARA PENSAR: Há que se reconhecer a coragem de um homem que perde a mulher, tem um bebê para cuidar e que decide caminhar rumo à aceitação de sua nova identidade feminina. Ao mesmo tempo, precisa lidar com a paixão repentina pela melhor amiga da ex-esposa. Ainda que em alguns momentos caia no humor, o filme é válido para repensar os modelos pré-concebidos, e até então bem engessados, de família e relacionamentos.



2. A GAROTA DINAMARQUESA
The Danish Girl, de Tom Hooper, Reino Unido/EUA/Alemanha, 2015

Baseado no livro homônimo de David Ebershoff, A Garota Dinamarquesa foi livremente inspirado na vida e na história de amor das pintoras dinamarquesas Lili Elbe (Eddie Redmayne) e Gerda Gottlieb (Alicia Vikander). Obrigada a viver como Einar Wegener desde o nascimento, em 1930, Lili foi uma das primeiras mulheres a passar por uma cirurgia de mudança de gênero.

PARA PENSAR: Homenagem à primeira mulher que passou por uma cirurgia de transgenitalização, o filme recebeu reações diversas como, por exemplo, sua proibição no Qatar – e em outros quatro países do Oriente Médio – e as quatro indicações ao Oscar.



3. TOMBOY
Tomboy, de Céline Sciamma, França, 2012

Laure é uma garota de 10 anos que vive com os pais e a irmã caçula, Jeanne. A família se mudou há pouco tempo e, com isso, não conhece os vizinhos do condomínio. Um dia, Laure conhece Lisa, que a confunde com um menino. Laure, que usa cabelo curto e gosta de vestir roupas masculinas, aceita a confusão e lhe diz que seu nome é Mickaël. A partir de então ela leva uma vida dupla, já que seus pais não sabem de sua falsa identidade.

PARA PENSAR: Mais que um simples mal-entendido infantil, Tomboy é o retrato de uma menina transgênero. Laure quer ser um garoto, se veste e se porta como um. Seu constrangimento em ter nascido menina é evidente quando vai com os amiguinhos a um passeio que envolve água e trajes de banho; ela dá um jeito de ir com um traje como o dos demais garotos e até forja um pênis, que coloca dentro da sunga para fazer volume, como se fosse seu. Filme delicado, para enxergar o universo transgênero na infância.



4. TUDO SOBRE MINHA MÃE
Todo Sobre Mi Madre, de Pedro Almodóvar, Espanha/França, 1999

Esteban (Eloy Azorín) é um jovem de 17 anos que está escrevendo uma história chamada "Tudo Sobre Minha Mãe". No dia de seu aniversário, sua mãe, Manuela (Cecilia Roth), planeja lhe contar tudo sobre seu pai – que é, na verdade, o travesti bissexual Lola –, quem o garoto acredita ter falecido. Manuela também lhe presenteia com um ingresso para a nova montagem da peça "Um bonde chamado desejo", estrelada por Huma Rojo (Marisa Paredes). Após o espetáculo, Esteban é atropelado e morre. Manuela resolve então ir até o pai do menino, que vive em Barcelona, para dar a notícia. No caminho, ela encontra Agrado (Antonia San Juan), uma mulher trans que vive da prostituição; a freira Rosa (Penélope Cruz), de família burguesa e que contraiu Aids; e a própria Huma Rojo.

PARA PENSAR: Um dos filmes mais aclamados de Almodóvar, Tudo Sobre Minha Mãe é delicado ao mostrar personagens tão diferentes e tão únicas, todas mulheres em seus mais diferentes ângulos e matizes. Agrado, a personagem transexual, é autêntica e traz uma maneira muito singular de encarar a vida. Um filme que transgride tabus e é uma verdadeira homenagem às mulheres.



5. ALBERT NOBBS
Albert Nobbs, de Rodrigo García, Reino Unido/Irlanda/França/EUA, 2011

Irlanda, século XIX. Albert Nobbs (Glenn Close) trabalha como mordomo e esconde um segredo: é, na verdade, uma mulher. Durante 30 anos ela vestiu roupas masculinas e se fez passar por um homem, para poder sobreviver na sociedade machista da Irlanda do século XIX e concretizar o sonho de ser dona de uma tabacaria. Entretanto, sua farsa é ameaçada quando um pintor, Hubert Page (Janet McTeer), divide o quarto com Albert por não haver outro dormitório disponível no hotel em que ambos trabalham. Baseado na obra de George Moore.

PARA PENSAR: A princípio, o personagem Albert Nobbs não seria transgênero, uma vez que passou a viver como um homem por causa das dificuldades que ser mulher – e solteira – representava naquela época. Com o tempo, no entanto, a identidade masculina estava totalmente estabelecida em Albert Nobbs, uma identidade que ele já não pretendia deixar para trás.



6. A LEI DO DESEJO
La Ley del Deseo, de Pedro Almodóvar, Espanha, 1987

Pablo Quintero (Eusebio Poncela) é um diretor de teatro homossexual. Ele é apaixonado por Juan Bermúdez (Miguel Molina), mas sua paixão não é correspondida. Tina (Carmen Maura) é sua irmã, tendo realizado uma operação de mudança de sexo anos antes para manter uma relação incestuosa com o pai. Ela é atriz e estrela o monólogo "A Voz Humana", de Jean Cocteau. Pablo está escrevendo o roteiro de um filme, que será estrelado pela irmã. Enquanto isso ela decide adotar Ada (Manuela Velasco), cuja mãe (Bibiana Fernández) viajou. Há ainda Antonio Benítez (Antonio Banderas), jovem de classe média alta que tem dificuldades em assumir sua homossexualidade e sempre está em torno de Pablo.

PARA PENSAR: Tina é considerada a mulher trans por excelência do cinema almodovariano; ela tem toda uma energia e um quê heroico. Interessante mencionar que a transexual Tina é interpretada pela atriz Carmen Maura, e a personagem da mãe de Ada é interpretada pela atriz transexual Bibiana Fernández, cujo gênero de nascimento era desconhecido de todos no início da carreira, até porque ela sempre interpretara personagens femininos.



7. LAURENCE ANYWAYS
Laurence Anyways, de Xavier Dolan, Canadá/França, 2012

Na década de 90, em seu aniversário de 30 anos, Laurence (Melvil Poupaud) revela para sua namorada, Fred (Suzanne Clément), que deseja se tornar uma mulher e que irá fazer uma cirurgia de mudança de sexo. Mesmo abalada com a revelação, a namorada resolve permanecer ao lado da pessoa que ama, que sofrerá bastante com a nova situação, tendo que lidar com preconceitos de familiares, amigos e colegas de trabalho. Contra tudo, eles tentarão provar que o amor que sentem pode superar todas as situações.

PARA PENSAR: A partir do momento em que decide revelar sua identidade trans e o desejo da mudança de sexo, a pessoa precisa enfrentar seus próximos, ou seja, família, amigos e, de forma tão ou mais complicada, o parceiro(a). As reações podem ser as mais variadas, havendo ou não o apoio, mantendo-se ou não o relacionamento. No filme, Laurence tem um relacionamento estável com Frédérique que, apesar do choque inicial, decide ficar a seu lado durante sua transição. O relacionamento passa por altos e baixos, o que é um aspecto muito autêntico e humano do filme.



8. MENINOS NÃO CHORAM
Boys Don’t Cry, de Kimberly Peirce, EUA, 1999

Baseado em fatos reais. Brandon Teena (Hilary Swank) se mudou há pouco para uma pequena cidade em Nebraska. Ele acompanha os outros garotos nas mais variadas atividades e, claro, flerta com as garotas. Brandon conhece Lana (Chloe Sevigny), por quem se apaixona; no entanto, há um detalhe que ele não contou a ninguém. Brandon Teena nasceu mulher e se chama Teena Brandon. Quando sua transexualidade é revelada, uma espiral crescente de violência passa a persegui-lo.

PARA PENSAR: O filme é baseado em fatos reais e mostra até onde vai o preconceito, o ódio e a violência infundada. O ser humano responde com hostilidade e repulsa a tudo o que lhe parece diferente do que está acostumado; isso não apenas em situações envolvendo gênero e sexualidade, mas também nas coisas mais banais do dia a dia, reparem.



9. XXY
XXY, de Lucía Puenzo, Argentina/Espanha/França, 2007

Alex (Inés Efron) nasceu com ambas as características sexuais. Tentando fugir dos médicos que desejam corrigir a ambiguidade genital da criança, seus pais a levam para um vilarejo no Uruguai. Eles estão convencidos de que uma cirurgia deste tipo seria uma violência ao corpo de Alex e, com isso, vivem isolados numa casa nas dunas. Até que, um dia, a família recebe a visita de um casal de amigos, que leva consigo o filho adolescente. Alex, que está com 15 anos, e o jovem, de 16, sentem-se atraídos um pelo outro, o que faz com que Alex mergulhe em uma busca por sua identidade e sexualidade.

PARA PENSAR: O filme é sensível ao abordar a questão dos hermafroditas ainda na juventude, época do despertar sexual e da busca por uma identidade. No caso, essa busca se faz ainda maior e mais complexa. Vale ressaltar que o título do filme foi motivo de polêmica, uma vez que XXY, na medicina, se relaciona à Síndrome de Klinefelter, que acomete apenas o sexo masculino e que não tem relação com identidade sexual. Nas palavras da cineasta – e no entendimento e bom senso do público em geral –, “o título do filme é uma metáfora da intersexualidade em geral”.



10. DE GRAVATA E UNHA VERMELHA
De Gravata e Unha Vermelha, Miriam Chnaiderman, Brasil, 2015

De Gravata e Unha Vermelha é um documentário sobre o papel dos transexuais na sociedade, tratando de questões complexas como a de identidade sexual e do preconceito irracional sofrido. Com participações especiais de Laerte Coutinho, Rogéria e Ney Matogrosso.

PARA PENSAR: Porque a diversidade está aí e é preciso, mais do que nunca, encará-la como parte do dia a dia. Aqui, vemos pessoas de diversas áreas que não seguem regras de gênero; Dudu Bertholini, um dos entrevistados no documentário, mas também entrevistador e curador, é um grande exemplo disso. Ainda, a gente tem visto por aí mostras lindíssimas de como a moda – a do cotidiano – tem se apropriado cada vez mais do genderless e é esse o espírito da coisa. De Gravata e Unha Vermelha é um filme tão atual quanto indispensável.



11. MEU NOME É RAY
About Ray, de Gaby Dellal, EUA, 2015

Ray (Elle Fanning) nasceu mulher, mas nunca se identificou com o gênero e se prepara para fazer a cirurgia de transgenitalização. Sua mãe, Maggie (Naomi Watts), tenta encontrar a melhor forma de lidar com a questão, mas a avó homossexual de Ray, Dolly (Susan Sarandon), recusa-se a aceitar a resolução e cria um conflito familiar.

PARA PENSAR: A mudança de sexo – não só a cirurgia, mas tudo o que envolve a decisão de assumir uma identidade que não a do nascimento – é um processo delicado e que exige o apoio das pessoas próximas, especialmente da família. No caso de Ray – e, creio eu, na maioria dos casos na vida real – existe a não aceitação de um familiar, ainda que o próprio jovem tenha uma visão bem formada de si mesmo, coragem e o desejo de ter uma vida mais verdadeira.



12. TANGERINE
Tangerine, de Sean Baker, EUA, 2015

Assim que sai da prisão, a prostituta transexual Sin-Dee (Kitana Kiki Rodriguez) descobre através de sua melhor amiga, Alexandra (Mya Taylor), que o namorado Chester (James Ransone) está saindo com outra pessoa, uma mulher cisgênero – ou seja, uma pessoa cujo gênero é o mesmo de seu nascimento. Sin-Dee decide encontrar os dois e puni-los pela traição; acompanhada de Alexandra, as duas amigas andam pelas ruas de Los Angeles suportando várias desventuras na véspera de Natal.

PARA PENSAR: Independente, o longa foi rodado apenas com iPhones, uma steadicam e um jogo de lentes adaptáveis. As protagonistas são transexuais e ativistas da causa em Los Angeles, além de nunca terem atuado profissionalmente antes. Combinando humor e sensibilidade, o filme aborda as minorias sem cair nos estereótipos.


***************

Sei que faltaram vários outros filmes aí na lista, filmes que são muito lembrados ao falar no tema, aliás. Mas a intenção também foi a de mostrar produções mais recentes intercaladas a filmes que tenho entre meus preferidos – Almodóvar, seu lindo!

Se vocês têm outras sugestões de filmes que abordem o universo transgênero – manjados ou não – digam aí nos comentários! Ah, e se gostaram do tema, fiquem atentos porque pretendo fazer essa listinha também com livros.

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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8 comentários

  1. Triste admitir mas ainda não assisti nenhum dos filmes citados. Mas tenho vontade de assistir principalmente: A Garota Dinamarquesa, Meninos não Choram e Uma Nova Amiga. Não conhecia esse Tomboy e fiquei super interessada... vou buscar esse também.

    Adorei sua postagem.
    beijos
    http://www.livromaniaca.com/

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    1. Oi Tielle! Tomboy é um filme bem bonito, mostra bem a perspectiva de uma criança transgênero, o que ela passa, como é viver se escondendo. Uma Nova Amiga também é um filme incrível, mas é bem daqueles que ou você adora ou detesta; de todas as formas, vale a pena ver. Alguns filmes dessa lista eu conheço há um tempão mesmo, vi vários, mas outros tantos ainda estão na lista de "preciso ver". Meninos Não Choram é um deles, já cheguei a ver metade do filme há uns anos, sei como termina, mas ainda estou querendo vê-lo todo. Beijos!

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  2. meio SPOILER o filme que me veio a mente:
    o clássico Traídos Pelo Desejo.
    que teve bastante repercussão quando foi lançado (por causa de uma cena.)

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    1. Haahaha não vi o filme, mas saquei o spoiler! Tudo bem, é um dos tantos filmes que eu gostaria de ver e ainda não vi. Valeu pela dica! ^^

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  3. Valeu pelas dicas,...Muitos eu ainda não conhecia,...rs!

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    1. Ei Fábio!! Tem uns filmes ótimos aí na listinha, não sei se Almodóvar faz seu estilo, mas é o meu diretor favorito - sempre vou recomendar tudo dele! Mesma coisa com os filmes do François Ozon. =)

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  4. Faltou Transamerica, Hedwig and the Angry Inch, Rocky Horror Picture Show...

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    1. Oie, pois é, não é uma lista completooona, mas eu quis fugir um pouco dos mais conhecidos, tentei incluir uns mais recentes. Mas concordo com você que tem muitos filmes ótimos e conhecidíssimos que poderiam estar na lista.

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