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Violino [Anne Rice]

Anne Rice 13 de junho de 2010 Aline T.K.M. 7 comentários

Trata-se de um romance único – não faz parte de séries nem tem continuações – que conta a história de duas personagens devotas à música. Uma delas é Triana, que sonha em se tornar uma musicista, apesar de ter seu talento desacreditado. Já com seus 54 anos, perde seu segundo marido logo no início do livro. A outra personagem é Stefan, um jovem e atormentado fantasma de um aristocrata russo, que em vida havia sido aluno e amigo de Beethoven e de Paganini. Stefan utiliza seu violino mágico para enfeitiçar e dominar Triana, querendo levá-la à loucura através de sua música.

Violino traz uma história densa, em alguns momentos chega a ser perturbadora, e nem por isso menos bela. As personagens, dotadas de uma personalidade excepcional, são de certa forma forçadas a enfrentar suas mais terríveis memórias. Memórias que envolvem morte, perdas, culpa, frustrações, e lágrimas. A cada página, o inferno pessoal de Triana nos é revelado, trazido à tona principalmente pela música do violino de Stefan, personagem que se torna cada vez mais real e ameaçador na vida dela.

Stefan também nos abre suas mais aterradoras lembranças, tendo como pivô dos acontecimentos seu inseparável Stradivarius longo. A aparição do espectro de Beethoven é algo que deve ser mencionado; é especial, não pela forma como aparece, mas somente pelo simples fato de aparecer.

As extensas e detalhadas descrições de Anne Rice tornam a história bastante rica. Temos a sensação de que tudo é sólido e palpável, desde os mais profundos sentimentos até a própria música, tão vivas são as descrições. E chega a ser engraçado falar de vida quando o tema mais presente no livro é a morte. As duas personagens principais sofrem muito e, de certa forma, precisam uma da outra, apesar da relação entre Triana e Stefan ser hostil e agressiva. Triana martiriza a si mesma (e, com isso, Stefan também passa a martirizá-la) porque sente uma terrível culpa pela morte da mãe e da filha, e por ter permitido que a irmã mais nova partisse. Ela alimenta a culpa que sente e Stefan, por sua vez, parece alimentar-se do sofrimento de Triana. O humano e o sobrenatural caminham juntos em cada momento da trama. Indo mais além, podemos enxergar a história toda como uma espécie de batalha travada entre Triana e Stefan (e, principalmente, entre cada um deles com seu próprio eu) para a libertação de suas almas.

Violino não é exatamente o que eu chamaria de uma leitura fácil, embora devo deixar claro que a trama me encantou. A imensa carga de sofrimento cultivado dá a sensação de que a história fica, em muitos momentos, repetitiva e um pouco cansativa. Triana remói intensa e continuamente seu passado e o sofrimento que carrega consigo, o que nos faz achar que dá voltas e voltas para retornar ao mesmo ponto de onde começou. Contudo, não achei que a leitura foi, em nenhum momento, enfadonha. Apenas é preciso realmente mergulhar nos acontecimentos e nos sentimentos das personagens, caso contrário a trama parecerá sem sentido e possivelmente será abandonada antes do final.

Um aspecto especialmente formidável é que o livro nos leva a viajar com os protagonistas para locais e épocas diferentes, seja através de suas memórias ou dos acontecimentos que se desenrolam em tempos mais atuais. Nova Orleans, Viena, Veneza, e até Rio de Janeiro, só para citar alguns lugares. Triana nos fala em primeira pessoa, e ao mostrar-nos suas memórias, somos subitamente transportados para o local onde aconteceram e nos sentimos na própria pele da personagem. Já quando Stefan nos revela seu triste passado, transforma Triana, os leitores e ele próprio – Stefan fantasma – em espectadores da decadência de um Stefan ainda vivo e do início de sua trajetória como fantasma. É como estar na plateia vip de um sombrio espetáculo.

Ler Violino foi uma ótima experiência. Li pouco de Anne Rice, mas desde o primeiro livro percebi que gosto bastante da forma como ela escreve. Recomendo o livro para quem já leu alguma outra obra da autora. Para quem nunca leu Anne Rice, recomendaria começar por algum de seus outros livros (da série Crônicas Vampirescas, por exemplo) antes de encarar Violino.

Aberto fica este túmulo, com todos alegre e carinhosamente juntos. Não há palavras para descrever uma união tão meiga e total; nossos corpos, nossos cadáveres, nossos ossos tão intensamente enroscados.
Não conheço qualquer separação. Nem da mãe, nem do pai, nem de Karl, nem de Lily, nem de todos os vivos e todos os mortos, já que somos uma só família neste túmulo viscoso e esfarelante, neste lugar que nos pertence, íntimo e secreto, nesta câmara que penetra na terra, onde podemos apodrecer e nos misturar quando as formigas vierem, quando a pele estiver coberta de fungos.


Título: Violino
Autor(a): Anne Rice
Ano da obra: 1997

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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7 comentários

  1. Oii Aline!
    Nunca li nada da Anne Rice, acredita? hahaha xD
    Mas eu vou seguir sua dica então, começar pelos livros dela de Vampiro ;))
    beijos!

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  2. Oi Aline, estou cega ou seu link não tá aqui no blog? hehe!!! Como vc faz a troca de links?
    Beijos para ti! Da Lisse

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  3. Aline, li apenas Entrevista com o Vampiro e isto faz muitos e muitos anos. Obrigada pela dica. Abraço e bom fim de domingo.

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  4. Já ouvi falar muito do livro, mas ainda não tive oportunidade de ler!

    Bjossssssssssssss

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  5. Ah, eu tenho este, só que ainda não lí, não sabia muito bem o que esperar deste livro, mas pela sua resenha eu pude perceber que é bom e que vale a pena, talvez seja a minha próxima leitura.
    Beijos
    http://leituraspontocom.blogspot.com/

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  6. Ahhh... Que maravilha de resenha. Ameeeei! Senti vontade de revisitar essa beleza de obra. Estava procurando a capa, para mostrar ao meu marido, e encontrei seu blog.
    Anne é uma das escritoras que mais gostei de ler, e Violino me encantou de tal forma que até hoje me delicio com a memória da leitura, embora tenha sido há mais de uma década.
    Parabéns pelo projeto. Adorei mesmo rememorar essa leitura incrível! Obrigada!

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