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‘A Casa que Jack Construiu’: violência extrema, ego e o mal no novo filme de Lars von Trier

Cinema dinamarquês 29 de outubro de 2018 Aline T.K.M. Nenhum comentário

A Casa que Jack Construiu: violência extrema, ego e o mal no novo filme de Lars von Trier | Cinema

Depois de um hiato de cinco anos, o polêmico Lars von Trier está de volta em um filme que parece concebido para aquilo que o diretor faz de melhor – chocar. Apresentando violência extrema, A Casa que Jack Construiu ficou de fora da competição em Cannes e causou saída em massa da sala em sua exibição no festival.

O longa, que esteve na programação da 42ª Mostra Internacional de Cinema, estreia no dia 1º de novembro.

A Casa que Jack Construiu: violência extrema, ego e o mal no novo filme de Lars von Trier | Cinema

Jack (Matt Dillon) é um engenheiro que, ao matar uma mulher, encontra prazer no ato, levando-o a uma série de outros assassinatos, todos cruelmente executados. O transtorno obsessivo-compulsivo – a mania de limpeza entre suas obsessões – dificulta e retarda a conclusão de suas ações.

Na trama, Jack recorda cinco dos assassinatos que cometeu ao longo de pouco mais de uma década, enquanto trava um diálogo em off com um certo Virgílio (Bruno Ganz). Um mergulho nas profundidades da mente sádica do psicopata anda de mãos dadas com uma discussão a respeito do mal e suas representações – que vão desde a natureza do protagonista até genocídios históricos e os líderes que os comandaram, passando pela arte e pelo ego do próprio cineasta.

A Casa que Jack Construiu: violência extrema, ego e o mal no novo filme de Lars von Trier | Cinema

O diálogo aparece ilustrado pelo modus operandi dos assassinatos. Nada é poupado, de mutilações à arte mórbida de Jack, que consiste em fotografar seus mortos e colecioná-los em uma câmara refrigerada. A degradação para alcançar o sublime. Nem as crianças passam longe da violência – esta é uma das partes mais polêmicas do longa.

A misoginia também é um ponto delicado e marca presença tanto nas falas do protagonista – colocando os homens no papel de vítimas de uma sociedade que os culpabiliza desde o nascimento – como no fato de preferir vítimas mulheres, as quais ele adjetiva com estupidez.

Em paralelo aos assassinatos Jack tenta construir uma casa, mas seu perfeccionismo o leva a destruir e recomeçar a obra diversas vezes.

A Casa que Jack Construiu: violência extrema, ego e o mal no novo filme de Lars von Trier | Cinema

O mais interessante nisso tudo é o percurso que Jack percorre rumo ao inferno, guiado por seu interlocutor, o Virgílio. É clara a referência ao clássico poeta romano cuja maior obra, Eneida, foi concebida para a perfeição e sujeita à dura crítica de seu criador. No clássico dantesco A Divina Comédia, o personagem Virgílio foi inspirado no poeta e atua como guia do inferno e do purgatório.

Descendo às entranhas da terra com os personagens, percebemos como o mal é intrínseco ao homem – todo ser humano tem sua escuridão, que a religião e a própria sociedade tratam de reprimir. Não há esperança, a humanidade está há muito – e desde sempre – perdida, já que o mal não é passível de ser transformado em bem. A salvação é, portanto, impossível.

A Casa que Jack Construiu: violência extrema, ego e o mal no novo filme de Lars von Trier | Cinema

Claro que von Trier não perdeu a oportunidade de colocar a si mesmo dentro dessa conversa. Imagens de obras de arte tomam a tela com frequência – um canalizador da escuridão, uma tentativa de tornar nobre cada ato de maldade? – e, em dado momento, inserções de outros filmes do diretor, em uma espécie de autorreverência.

A Casa que Jack Construiu: violência extrema, ego e o mal no novo filme de Lars von Trier | Cinema

Embora longe de estar entre as melhores obras do diretor, A Casa que Jack Construiu tem seus méritos. O roteiro é digno de atenção e o discurso, que vem cheio de um humor sádico, ganha força ao se apoiar na agressividade das cenas, bastante estéticas. O papel do divino na visão de Jack também é um ponto notável, embora controverso para alguns.

O longa, no entanto, não é imune a falhas. As duas horas e meia de projeção poderiam ser bem enxugadas sem causar prejuízo ao filme. Outro ponto é a mania obsessiva de limpeza do protagonista, que é perdida no decorrer da trama – justamente uma das peculiaridades mais interessantes de Jack.

A Casa que Jack Construiu: violência extrema, ego e o mal no novo filme de Lars von Trier | Cinema

De digestão lenta, A Casa que Jack Construiu não é para todos os gostos – assim como os demais filmes de Lars von Trier. Mas vale a atenção dos que simpatizam com a obra do diretor.

O encerramento acontece de forma magistral, com a confirmação de uma ideia que já aparece lá no início do filme, em forma de metáfora. Jack acompanha sua primeira vítima a uma oficina para consertar o macaco (jack, em inglês) para o seu carro. Após o conserto, a ferramenta volta a quebrar. Uma pista de que Jack, uma vez corrompido e dominado por sua própria escuridão, jamais se livraria do mal. Como o ser humano; com o mal entranhado, não há conserto que o liberte. O inferno é, então, o único destino possível.

TRAILER E FICHA TÉCNICA





A Casa que Jack Construiu (The House That Jack Built) – 155 min.
Dinamarca, França, Alemanha, Suécia – 2018
Direção: Lars von Trier
Roteiro: Lars von Trier
Elenco: Matt Dillon, Bruno Ganz, Uma Thurman, Siobhan Fallon Hogan, Sofie Gråbøl, Riley Keough

Estreia: 1º de novembro
Classificação: 18 anos

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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