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Cantiga de Findar [Julián Herbert]

Autobiografia 14 de maio de 2015 Aline T.K.M. 2 comentários


Diante da mãe prostrada num leito de hospital, padecendo de leucemia, um escritor bem-sucedido começa a escrever um relato pessoal. A mãe é Guadalupe Chávez Moreno, ex-prostituta e dona de umas quantas identidades (Lorena, Vicky, Juana... Marisela Acosta era a mais utilizada); o escritor é o autor deste livro. Fundindo ficção e realidade, em Cantiga de Findar o mexicano Julián Herbert nos presenteia com uma autoficção de intensidade poucas vezes antes vista.

Para contar a história da mãe – e a sua própria – o autor retorna aos anos de infância, quando acompanhava a mãe México afora em suas andanças como prostituta. A vida infantil no prostíbulo, os irmãos (cada um de um pai diferente), o caminho para o colégio e a descoberta de que a Terra é mesmo redonda. Os raros encontros com o pai, os amores da mãe e a “vida fodida” que esta levou na infância – torturada pela mãe, avó de Julián. Mais tarde, já adulto e casado, Herbert nos fala de estadas em Havana e Berlim, das generosas porções de ópio num frasco de remédio, e fala também do ânus, esse signo que até hoje não conseguiu decifrar por completo.

A verdade é que a linha que separa a autobiografia do romance é demasiado tênue. De fato, isso pouco importa. Cantiga de Findar nos lança dentro de uma narrativa franca e repleta de visceralidades. O cinismo toma as rédeas, conduzindo o leitor através da vida de Julián e Guadalupe, e da leucemia que a consome cada vez mais. O cenário não poderia ser outro: um México degradado – a Suave Pátria –, carcomido pela pobreza, pelo narcotráfico, violência, corrupção...

Desprovida de excessos de cuidados e de adornos, a prosa apenas é o que é: direta, dura e cheia de estrangeirismos. Linguagem selvagem e ao mesmo tempo tão lírica, aspecto determinante da obra. As referências também são abundantes e das mais diversas, indo da cultura popular à “alta cultura”: como quem atravessa uma rua pacata, Herbert fala de Rimbaud, de Matrix e do Pedro Páramo de Juan Rulfo. E, numa passagem muito interessante, compara biologicamente o ser humano aos vírus, mencionando a simbiogênese – “uma audaz nota de rodapé à teoria da evolução das espécies de Charles Darwin”.

Entranhada, a violência acaba por corroer todo e cada organismo vivo, tal qual a leucemia devasta o corpo já frágil de Guadalupe. A morte revela-se o único caminho possível. É sabido que ela virá; ainda assim, quando chega pega-nos desprevenidos nos sentimentos. Contudo, por mais profundo que seja, Julián Herbert bem diz que “todo abismo possui suas canções de ninar”. Deve ser assim. É preciso que seja assim.

Cantiga de Findar faz parte da coleção OTRA LÍNGUA, lançada em 2013 pela Editora Rocco e que traz autores que compartilham a mesma língua: o espanhol latino-americano.

LEIA PORQUE...
Provavelmente será uma leitura diferente da grande maioria que você já fez. Publicado originalmente em 2011, Cantiga de Findar tornou Julián Herbert internacionalmente conhecido, além de ganhar os prêmios Jaén (2011, Espanha) e Elena Poniatowska (2012, México).

Ainda, recomendo a leitura desta entrevista com o autor. Nela, Julián Herbert fala sobre o livro, o passado com sua mãe, sua relação com a leitura e a escrita e, claro, sobre a situação atual do México.

DA EXPERIÊNCIA...
Livro pesado e verdadeiro, do jeito que eu gosto.

FEZ PENSAR EM...
O Corpo Em Que Nasci, de Guadalupe Nettel, outra autoficção recomendadíssima da coleção Otra Língua.

QUANTO VALE?

Título: Cantiga de Findar
Título original: Canción de Tumba
Autor(a): Julián Herbert
Posfácio: Gustavo Pacheco
Tradução: Miguel del Castillo
Editora: Rocco – coleção Otra Língua
Edição: 2014
Ano da obra: 2011
Páginas: 256
Onde comprar: Submarino | Saraiva | Saraiva (eBook) | Amazon (edição Kindle)

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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2 comentários

  1. Oi, Aline! Que resenha foi essa? Adorei! Também gosto de livros pesados e verdadeiros, do tipo que precisamos dar um grande suspiro ao terminar de ler. Do seu blog direto para a minha lista de desejados! ;)

    Beijos, Entre Aspas

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Carla! Se você curte livros mais densos, este é o livro, mesmo! Aliás, não posso deixar de indicar toda a coleção Otra Língua, é realmente fantástica, vale a pena ir atrás para conhecer. ^^ Depois, quando tiver lido, passa aqui para dizer o que achou! Beijos!

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