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Quote da quinzena #35: Meu coração de pedra-pomes

Companhia das Letras 20 de julho de 2015 Aline T.K.M. 2 comentários


Humor e personalidade unidos em um livro cuja excêntrica protagonista nos conquista logo nos primeiros parágrafos. Assim é Meu coração de pedra-pomes, da brasileira Juliana Frank, o escolhidíssimo que emprestou alguns quotes para esta quinzena.

O livro consiste, basicamente, no cotidiano de Lawanda narrado pela própria. Com apenas dezenove anos, ela é enfermeira num hospital e costuma atender a pedidos insólitos e ilegais dos pacientes moribundos. A garota também tem uma série de hábitos e opiniões nada convencionais, além de botar para fora o que pensa sem muito filtro.

Li Meu coração de pedra-pomes no finzinho de 2013 e a lembrança dessa leitura me faz rir até hoje; adorei o livro e fiquei adorando a autora, de quem ainda quero ler mais. Escolhi alguns trechos que trazem um pouquinho do clima da leitura e espero com isso deixá-los curiosos. Caso venham a ler o livro, garanto que pensarão: “caramba, como nunca pus as mãos nisso antes!”. Bem, sem mais, enjoy:

No mais, tenho pena dos velhos. Nunca acredito que podem fazer mal a alguém. Descobri que é pelo como como eles caminham. A vagarosidade sempre me emociona.

Gosto de dialogar bastante com uma pessoa e, de repente, ignorar sua última pergunta. Depois, ficar um longo tempo em silêncio no mesmo ambiente que ela. Dá uma leve sensação de desconforto.

Gostava do José Júnior porque ele dizia: “Nããão, querida”. Com os olhos de pisca-pisca de cílios quilométricos. Sempre: “Nããão, querida. Não devo me separar”, “Nããão, querida, não posso cabular o jantar com as tias”. Eu gostava só dessa coisa muito bonita: “Nããão, querida”. Pelo jeito agora ele vai ficar dizendo: “Sim, querida” para os meus mais mundanos desejos. E não sei se isso me agrada. Também me lembro dos beijos gosmentos que ele metralhou nas minhas bochechas. Gosto de homens econômicos com saliva. Bom, tem o sexo anal, que é sempre surpreendente. Mas, agora que ele me ama, o cu, que é a melhor parte, será apenas um brinde. Apaixonados sofrem desse mal. E aqueles “eu te amos” derramados? Por que as pessoas falam tanto essa frase? Não convence um molusco. É a piada mais contada pelos homens comuns, esses sedutores irremediáveis. E também é a piada mais antiga contada pelas mulheres comuns, que se entregam à frivolidade de amar e se preocupam com a terrível frivolidade de não amar. Não combina comigo.

No banheiro de empregados, me enfio dentro do meu vestido modelado na perfeição. Comprei num brechó baratinho. Tenho olho bom para roupas. É uma das minhas qualidades. Além de dar o cu com bravura e criar as macumbas, claro.

Quando não temos para onde ir e não queremos nada, devemos topar todas. Continuar em frente, altivos, com o queixo levantado, os ombros estendidos, como se estivessem pendurados por grampos. Devemos olhar as pessoas bem nos olhos, daquele jeitão que incomoda. E deixar nossos sapatos escolherem nos guiar. Um pé na frente do outro, resoluto. Devemos, apenas, evitar as ladeiras, os ônibus abarrotados, as velhas vagarosas, bares silenciosos e ruas iluminadas demais. Mas às vezes esqueço que devo fazer isso tudo também.

Meu coração de pedra-pomes, de Juliana Frank


Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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