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Flores da ruína [Patrick Modiano]

À la française 4 de julho de 2015 Aline T.K.M. 4 comentários


Segundo volume da Trilogia Essencial de Patrick Modiano (Nobel de Literatura 2014), Flores da ruína dá continuidade ao passeio pelas memórias do autor-narrador-protagonista, naquele mesmo mix de ficção e autobiografia que vimos no volume anterior, Remissão da pena. Aliás, todos os três romances da trilogia são independentes, podendo ser lidos de forma avulsa e em qualquer ordem.

Antes de tudo, comparo Flores da ruína a uma caminhada sem rumo numa tarde ensolarada. À medida que passamos por lugares e vemos coisas e pessoas, lembramo-nos de eventos do passado, de pessoas que passaram por nossas vidas e só deixaram um rastro borrado. Então, ao dobrar uma esquina e adentrar outra rua, uma lembrança diferente nos toma de assalto, mudando-nos o rumo do pensamento. Pois é desta maneira que se desenrola o livro: um lugar, um fato, e de repente toda uma rede de lembranças surge de forma repentina, para então se desfazer e se deixar encobrir por outras lembranças de outras coisas e tempos.

O fio inicial que, quando puxado, traz consigo todo um emaranhado de memórias é a evocação da notícia de novas investigações, décadas depois, do suicídio de um casal de jovens em seu apartamento em Paris, em abril de 1933. O casal se suicidara após uma noitada de bares e encontros com dois casais que haviam acabado de conhecer.

E as lembranças continuam na figura de uma ruiva chamada Sylviane (teria sido ela a ruiva que fora vista junto do casal suicida naquela noite de abril?), que anos depois se relacionava com um tal de Eddy Pagnon, transportador de vinhos contrabandeados de Bordeaux a Paris, isso lá em 1944... O narrador recorda seu pai, o bando da rue Lauriston, a ida com um amigo ao estádio Charléty no dia em que se deparou com a manchete anunciando a morte de Marilyn Monroe, a fuga do internato, a namorada Jacqueline.

E essas lembranças se vão tecendo até desembocarem num misterioso sujeito chamado Pacheco, que passa a ser o foco da narrativa. O narrador o conhecera na Cidade Universitária; mais velho que os demais e frequentemente carregando uma maleta de couro, Pacheco também usava os nomes Philippe de Bellune e Charles Lombard. Também dizia trabalhar para a Air France e parecia ser uma pessoa de muitos segredos – apareceu, no fim da década de 40, nas listas de pessoas procuradas por suas atividades durante a Ocupação, acusado de colaboracionismo com o inimigo.

Seguem-se pesquisas, listas de nomes, lugares, por onde o narrador vai escavando o passado e tentando descobrir mais sobre esse enigmático colega. E, ainda, não deixa de evocar o irmão mais velho e o fascínio pelos carrinhos bate-bate na infância – momentos que remetem ao primeiro livro da trilogia.

Como abrir um jornal a esmo e percorrer as páginas aleatoriamente ou, melhor ainda, como uma caminhada contemplativa por Paris e seus boulevards, Flores da ruína traz essa colcha de retalhos que são as memórias do narrador e também do autor, bem pinceladas pela ficção e com pungente tom poético.

Se existem as lacunas – elas se fazem sempre presentes em Modiano –, não existe espaço para o superficial. As recordações se costuram e vêm acompanhadas de carga emocional, ainda que pareça faltar no romance uma linha condutora de pensamento. Fica fácil dispersar-se e confundir-se na leitura, mas a delicadeza do texto sempre nos traz de volta.

Em Flores da ruína não se deve esperar por conclusões, muito menos por respostas. Não anseie pelo final, mas aprecie o trajeto em toda sua extensão.

LEIA PORQUE...
Dá para se sentir em outro mundo ao se deixar levar pelas lembranças do narrador e ver Paris através de seus olhos.

DA EXPERIÊNCIA...
Gostei bastante, mas ainda prefiro o anterior, Remissão da pena. O que mais gostei no livro, sem dúvida, foi percorrer as ruas e cantinhos parisienses, os bairros e estabelecimentos diversos – e esses nomes deliciosos de ler.

FEZ PENSAR EM...
Leio Modiano e não posso evitar pensar nos filmes da Nouvelle Vague...

QUANTO VALE?

Título: Flores da ruína
Título original: Fleurs de ruine
Autor(a): Patrick Modiano
Tradução: Maria de Fátima Oliva do Coutto
Editora: Record
Edição: 2015
Ano da obra: 1991
Páginas: 144
Onde comprar: Submarino | Livraria da FolhaSaraivaSaraiva (e-book)Livraria da TravessaLivraria CulturaLivraria Cultura (e-book)Amazon (livro físico) | Amazon (edição Kindle)

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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4 comentários

  1. gente... que resenha fofa eh essa <3
    vc escreve liricamente :P
    fiquei curiosa pra ler o livro!!! bjos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Mari! Ahhh, obrigada, seu comentário é que é fofo. <3 O livro é bom, recomendo, mas exige foco redobrado, já que a trama em si é um pouquinho dispersa, pelo estilo mesmo do livro e do autor. Beijos!

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  2. Oi Aline!

    Adorei a resenha, parabéns! Não conhecia o livro nem o autor, mas fiquei curiosa. Eu amo viajar e amo Paris, e como você disse que Flores da ruína nos faz conhecer a cidade através dos olhos do narrador, acho que iria gostar muito da obra!

    Beijos!
    www.mademoisellelovesbooks.com

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    Respostas
    1. Obrigada, Ana! Sabe que viajar é uma das coisas que mais amo neste mundo, e também adoro Paris (e a França, em geral). Pois é, os livros do Modiano são muito gostosos por causa disso mesmo, ele percorre ruas, bairros, e sempre tem uma lembrança relacionada a eles, que vai puxando outra lembrança, e por aí vai. Recomendo. =) Bjo!

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