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Resenha: 1Q84 - Livro 1, de Haruki Murakami

Alfaguara 3 de março de 2013 Aline T.K.M. 21 comentários

Resenha: 1Q84 - Livro 1, de Haruki Murakami

Tóquio, 1984. Diante do risco de perder um importante compromisso, Aomame segue a sugestão do taxista e decide escapar do engarrafamento de maneira nada usual: através de uma escada de emergência disponível em plena via expressa. Após tal ato, o desenrolar dos acontecimentos fará com que a moça descubra que passou a um outro mundo. Um mundo similar ao de antes, mas bastante diferente – inclusive pelo fato de nele haver duas luas.

Tengo, um professor de matemática de uma escola preparatória e aspirante a escritor, se envolve no arriscado projeto de reescrever um romance de uma garota de 17 anos, Fukaeri, para que este concorra ao prêmio de autor revelação. O romance
"Crisálida de ar" narra uma história misteriosa que parece estar muito além de um simples texto. Duas histórias que se entrelaçam nesta trilogia de caráter distópico que fala de amor e abandono, e que desafia os limites do real. Considerado um dos autores mais originais da literatura atual, Murakami cria em 1Q84 um épico contemporâneo.


“A realidade é sempre única”, são as palavras que o taxista diz, em forma de orientação, logo antes que Aomame saia do taxi e desça a esquisita escada de emergência. A partir de então, o leitor é surpreendido por torrentes de mistérios, acontecimentos esquisitos e personagens mais esquisitos ainda. A realidade pode ser única, mas fica impossível não duvidar dela à medida que avançamos na leitura.

Os personagens são diferentes e, ao mesmo tempo, assustadoramente semelhantes entre si. Além de uma intuição notadamente apurada, todos eles estão muito sós, cada um à sua maneira. Aomame e Tengo não tiveram uma infância que se possa chamar de comum, romperam laços com os familiares, e experimentam dificuldades no amor. Avessos a compromisso, utilizam o sexo oposto – preferencialmente parceiros mais velhos – apenas como via para a satisfação sexual. Ao mesmo tempo, e como uma forma de desviar os olhares da mente em relação à solidão da alma, refugiam-se nos afazeres cotidianos.

Questões não resolvidas povoam o passado dos protagonistas e influenciam enormemente o presente. É redundante afirmar que a construção e o caráter dos personagens se revelam tão excepcionais em sua complexidade, tal como um artista esculpe delicada e detalhadamente as feições de sua obra. Por se tratar de uma trilogia, é certo que toda a trama é deixada no ar, suspensa, na espera de uma sequência. Nem por isso o leitor é abandonado ao relento das obras carentes de explicações e desenvolvimento. Ao contrário; maestria e genialidade são palavras que vieram à mente ao terminar a 430ª página. Além, óbvio, de curiosidade e avidez pelos próximos volumes.

Ainda, uma aura de mistério envolve uma instituição religiosa surgida a partir de uma comunidade subsistente com apelo à vida simples e desprovida de materialismo, uma promessa de um mundo diferente. A comunidade e suas ações permeiam os diversos elementos da trama, interligando-os.

Inspirado em 1984, do Orwell, as referências à obra podem ser observadas mesmo por aqueles que não leram a conhecida obra, mas que têm alguma noção do que se trata. Inclusive, a obra é mencionada e o enredo é apresentado ao leitor em linhas gerais. Traçar paralelos não é, portanto, tarefa difícil durante a leitura. Alienação, aprisionamento, vigilância contínua – poderia a ideia do Grande Irmão, aqui, relacionar-se ao Povo Pequenino de que Fukaeri fala em Crisálida de ar? Ou então, ao próprio líder da comuna agrícola/religiosa, de quem poucos veem o rosto e que parece tudo conhecer...?

Diante de toda a problemática, o autor ainda parece fazer graça e criticar os círculos literários através da fraude do romance reescrito que venceu o prêmio de autor revelação por unanimidade do júri. Esse pequeno deboche faz pensar em ghost writers e no decisivo poder da imagem, da embalagem (representada pelo autor) da mercadoria que é o livro.

1Q84 é sagaz ao mostrar que tudo é composto de mais de uma faceta, sejam os próprios personagens, a intrigante comuna agrícola convertida em religião, ou até mesmo os guiliaks (nativos da ilha da Sacalina que lá viviam antes da chegada dos colonizadores russos, mencionados por Tchekhov em obra que, por sua vez, é mencionada no livro de Murakami). Saber enxergar sob os diversos ângulos é, portanto, imprescindível. Afinal, “as coisas não são o que aparentam ser”, diz outro dos sábios avisos do taxista do início.

LEIA PORQUE

A obra é magistral, ponto.

DA EXPERIÊNCIA

A trama pode ser observada sob tantos aspectos que é mesmo impossível descrevê-los todos em um único review. Aprecio sutilezas, e vê-las na personalidade de cada personagem me fascinou.

FEZ PENSAR

Teria o autor uma leve obsessão por peitos? E, principalmente, pensei em por que cargas d’água nunca li nada do Murakami antes!


Capa do livro 1Q84

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Título: 1Q84 – Livro 1
Título original: 1Q84
Autor(a): Haruki Murakami
Tradução: Lica Hashimoto
Editora: Alfaguara
Edição: 2012
Ano da obra: 2009
Páginas: 430

Aline T.K.M.
Criou o Livro Lab há 12 anos e se dedicar a este projeto é uma das coisas que mais ama fazer, além de estar em contato com os mais variados tipos de expressões artísticas. Tem paixão por cinema, viajar e conhecer outras culturas. Ah, e ama ler em francês!

 

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21 comentários

  1. se tornou um MUST READ, gosto desse tipo de livro.

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    1. Nossa, com certeza, é um must-read MESMO! Leia, você não vai se arrepender!!!! =)

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  2. Curti muito a sua resenha e fiquei muito interessada em ler o livro. A trama me despertou um enorme interesse. Parabéns pela resenha!


    Beijos.
    Páginas na Estante
    @pginasnaestante

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  3. Eu estou LOUCA pra ler esse livro. Acho a capa linda e o titulo com referencias a 1984 intrigante, assim como a sinopse. Ele só está um pouco caro para mim, então, vai demorar para eu ler ele. Estou mais animada porque nunca li nada nesse estilo.

    Bjs, @dnisin
    www.seja-cult.com

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    1. É verdade que o livro ainda está meio carinho, mas vale a pena cada centavo, viu. Aliás, já lançou o Livro 2... Meu bolso está sofrendo hehehe.

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  4. Excelente resenha! Seu texto é fluido e equilibrado. Se esta obra de Murakami for metade do que você afirma, certamente minha leitura será mais que proveitosa. Abraços!

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    1. Poxa, fiquei bem satisfeita por ter gostado do review! Olha, vai fundo que o Murakami tem uma escrita viciante. O livro é mesmo MUITO bom.

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  5. Oi Aline, tudo bem querida? Esta é minha primeira vez por aqui e gostei do seu cantinho!
    Nossa flor, nunca li uma resenha tão rica como a sua e tão técnica...
    Me fez pensar na facu, quando a professora nos pedia resenhas técnicas e quase não conseguíamos chegar a um texto completo como ela queria, mas pelo visto vc ia se dar bem nessas aulas. rsrs
    Seu texto ficou impecável e eu parei pra me perguntar, se a vontade de ler estava vindo dos pontos que vc ressaltava sobre o livro ou simplesmente pq sua escrita me fisgou? Bem, é uma dúvida que permanecerá por enquanto, mas posso dizer que fiquei curiosa para conhecere estes personagens diferentes e essa obra que mexeu tanto contigo.

    Bjokas querida
    www.lerepensar.com

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    1. Oie! Obrigada pelo elogio, fico tão feliz quando vocês gostam dos reviews!!! ^^
      Hahah, já tive que fazer resenhas do tipo na faculdade (cursei Publicidade), mas o nível de exigência não era assim tamanho quanto à técnica, mas sim quanto à crítica em si. Só que escrever resenha obrigada pelos professores tem um clima totalmente diferente, né, não é legal hahaha.
      Olha, se você gostou da sinopse, do review, e se curte esse estilo de leitura (este é um ponto bem importante), recomendo fortemente o livro!! Beijinho!

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  6. Oi Aline... nossa, eu nunca tinha ouvido falar sobre o livro, nem sobre o autor...agora fiquei bem curiosa pra conhecer!!! Hahahah ri com suas divagações sobre o livro.. "obsessão por peitos" hhahaha

    Mto boa sua resenha, há tempos não via uma tão bem feita ^^

    Beeeeijao

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    1. Oi Rapha! Hahah pois é, ele fala muitooo sobre os peitos das mulheres. Toda vez que ele descreve uma mulher, ele menciona o peito (se é pequeno, avantajado, etc). Um beijo!!

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  7. O ÚNICO LIVRO QUE EU LI E QUE É DE AUTOR ASIÁTICO FOI "A Arte da Guerra". beijos
    http://radarmexeriqueiro.blogspot.com/

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    1. Então, sabe que eu também não conheço nada de literatura asiática. Só li este e li um outro do Henrique de Senna Fernandes, que é um autor de Macau (região que faz parte da China, teve colonização portuguesa e fala-se português).

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  8. POis é, o título me fez lembrar na hora do livro 1984 que por sinal eu ainda não li apesar de ter em casa, hehe. Ainda não conhecia este que você citou, parece mesmo ser muito bom.

    Beijokss, Van - Blog do Balaio

    http://balaiodelivros.blogspot.com.br/2013/03/sorteio-antonio-bijuterias-maxi-colar.html

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    1. Estou louca por 1984, mas na livraria acho-o meio caro, e nos sebos não encontro. E no Skoob tem vários disponíveis para troca, mas quando você pergunta, ninguém quer, de fato, trocar. =(

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  9. Resenha maravilhosa, faz jus ao grande Murakami. Parabéns!!!

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  10. Aline, até comentei recentemente no Twitter que, a cada vez que leio uma resenha sobre um livro do Murakami, tenho a impressão de que existe um senso comum em relação ao autor. Porque ele é, de uma forma ou de outra, como você bem ressaltou, simplesmente genial.
    "1Q84" é uma obra inesperada, de todas as perspectivas possíveis, mas engenhosa, intrincada e cheia daquela pitada especial que só os grandes livros têm.
    Ótima resenha e, abaixo de cada elogio, assino também.
    Essa obsessão sobre peitos é engraçada mesmo. A sexualidade da obra é bastante aflorada, tanto que, no que me recordo, a última página do primeiro volume é concluída com uma cena bem erótica.
    Dele, agora, tenho vontade de ler "Minha Querida Sputnik" e "Norwegian Wood". Todas as obras do autor, aliás, levam referências nos próprios títulos de outros temas ligados à cultura.
    Beijo!

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    1. Oi Ana, pois é, nunca li nem ouvi qualquer coisa negativa em relação ao autor. A única coisa que já li e que pode ter conotação negativa para alguns - para mim, não é nada negativo - é que o autor traz uma narrativa bem mais acessível do que normalmente se encontra na literatura japonesa. Foi o que li e nem posso opinar porque é o primeiro autor japonês que leio, mas sendo verdade ou não, como eu já disse, não vejo nada de negativo nisso.
      Também quero ler os demais livros dele, já ouvi falar bem também de Kafka à Beira-Mar.
      Um beijo!

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  11. eu sempre vejo esse livro na livraria e me dá uma vontade enorme de comprar mas não sabia muito bem s0bre o que se tratava. Acho que agora eu já vou cogitar comprar ;)

    beijos
    Kel
    porumaboaleitura.blogspot.com

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  12. Olá Alina. Já vi muito a capa desse livro rolando pelos blogs literários mas nunca parei para saber do que se tratava. Passei no post da sua resenha do livro 2 e vim para cá. Fiquei bastante curioso e entusiasmado por essa história parece ser algo peculiar e diferente do usual. Adoro livros assim. Não sou tão adepto das trilogias, mas como você diz que o livro mesmo assim é bom - tendo começo, meio e fim - vou acreditar, rsrs. Já colocando em minha lista, um abraço!

    De Frente com os Livros

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